O governo promoveu nesta terça (28) e quarta (29) uma consulta pública sobre a implementação do modelo cívico-militar em 127 escolas estaduais, localizadas em 56 municípios, para o ano letivo de 2024. A votação aconteceu nas próprias instituições de ensino.

Segundo a Seed (Secretaria de Estado da Educação), participaram da consulta membros da comunidade escolar, o que inclui professores, pais de alunos, funcionários e estudantes maiores de 16 anos. A Seed apontou que aproximadamente 80 mil alunos dos ensinos fundamental 2 e médio em todo o Paraná estavam aptos a votar.

Para que a implementação seja efetivada, é preciso que mais de 50% das pessoas aptas a votar participassem da consulta e que a maioria simples dos votantes (50% e mais um voto) seja favorável ao programa. O resultado final da consulta pública tem sua divulgação prevista para a próxima terça-feira (5).

Londrina e municípios da região, como Cambé, Rolândia e Arapongas, somam 28 escolas estaduais participantes da consulta pública. O Colégio Estadual Hugo Simas, situado na região central de Londrina, foi uma das instituições.

A equipe de reportagem esteve no local na manhã desta quarta-feira, mas não teve acesso ao espaço destinado à votação. De acordo com a instituição, o Núcleo Regional de Educação não permitiu o acesso da imprensa aos locais.

Durante o período de votação, a reportagem constatou a chegada de quatro pais de alunos para votar. Nenhum deles concordou em conceder entrevista.

Na área externa ao colégio, a reportagem conversou com alguns alunos, que deram suas opiniões a respeito do modelo cívico-militar proposto para a instituição de ensino.

Uma estudante de 15 anos disse ser contra a mudança e se mostrou insatisfeita com o fato de não poder votar. "Sei que só os estudantes maiores de 16 anos podem votar, mas achei errado. Mesmo que eu seja mais nova, também vou ser impactada pela mudança, caso aconteça. Meus pais até vieram votar, mas nossas opiniões são diferentes", relatou.

Outro aluno de 16 anos ouvido pela reportagem pensa diferente. "Já estou quase saindo do ensino médio para a faculdade, mas queria ter estudado nesse modelo cívico-militar. Não sei direito, mas parece bom. Vamos ver como vai ser caso aprovem", disse.

CAMBÉ

O Colégio Estadual Attílio Codato, localizado em Cambé (Região Metropolitana de Londrina), também integra a lista de escolas participantes da consulta pública. Na instituição, a participação dos pais foi mais ativa durante a terça-feira, conforme relatou uma aluna de 16 anos.

"Ontem [terça-feira] vi muitos pais vindo votar, principalmente na hora do recreio, que é a hora que consigo ver a sala. Já hoje [quarta-feira] vi muito mais alunos", contou.

A aluna revelou ser contra o modelo cívico-militar, já que a mudança “pode ser o primeiro passo para a censura, o que vai trazer cada vez mais os militares para o poder, como uma forma de controle já na educação".

De acordo com ela, boa parte dos alunos integrantes de seu círculo social não concorda com a mudança. Mesmo assim, a estudante acredita que, caso o modelo cívico-militar seja adotado, não haverá muita resistência. "Acredito que irá haver reclamações no início, mas nada que irá muito para frente a ponto de acontecer uma grande mudança", opina.

O MODELO CÍVICO-MILITAR

Procurada pela reportagem, a Seed argumentou apenas que o modelo educacional cívico-militar combina elementos da gestão civil com a presença de profissionais militares da reserva na administração e na rotina escolar.

Já a APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná) se posiciona contra a mudança. "Em primeiro lugar, é importante dizer que concordamos que há problemas nas escolas relacionados à indisciplina e desrespeito, até mesmo contra nós, professores. Porém, também precisamos concordar que os policiais militares foram preparados para lidar com situações de crime, enquanto os professores estudaram e continuam a estudar para lidar com os alunos", argumenta o professor Márcio André Ribeiro, presidente da APP-Sindicato.

Conforme Ribeiro, a instituição não somente não concorda com a adoção do modelo cívico-militar, mas aponta que a mudança é inconstitucional, por isso tem questionado o modelo na Justiça.

Rogério Nunes da Silva, professor de sociologia da rede estadual desde 2009 e integrante da diretoria do APP-Sindicato, acredita que o modelo cívico-militar traz mais prejuízos do que benefícios para a educação.

"Todos nós queremos a melhoria da educação pública, queremos uma educação pública de qualidade, mas nossa defesa é que uma educação pública de qualidade se faz com menos alunos por sala de aula. Além disso, defendemos que as escolas tenham aparelhos de ar-condicionado que funcionem, principalmente nesses períodos quentes, além de uma quantidade de computadores de acesso à internet suficiente para a quantidade de estudantes", apontou.

COLÉGIOS NO PARANÁ

As escolas cívico-militares foram instituídas no Paraná em 2020. Atualmente, existem 194 colégios nessa modalidade espalhados em municípios de todo o Estado, além de 12 instituições pertencentes ao modelo do programa nacional que serão incorporadas em 2024.