A rua Delaine Negro, entre os prédios que ficam ao lado do campus da Universidade Estadual de Londrina (UEL), é conhecida por tradicionalmente servir como ponto de encontro após as provas do vestibular da instituição. Ano após ano, são comuns os registros de pequenas confusões e queixas de vizinhos incomodados com o barulho e a grande aglomeração de pessoas. Não foi diferente na noite do último domingo (23), quando pelo menos três mil jovens se concentraram na rua para comemorar o término da 1ª fase do processo seletivo.



O tumulto começou por volta das 20h, quando uma viatura da Polícia Militar (PM) foi ao local após ser chamada pela proprietária de um bar que funciona naquela rua. Segundo ela, alguém havia arrombado a porta do seu estabelecimento para furtar produtos.

De acordo com a assessoria de comunicação do 5º Batalhão de Polícia Militar (BPM), a equipe policial foi hostilizada durante o atendimento. Pessoas que participavam da festa teriam arremessado pedras, pedaços de madeira e garrafas contra a viatura, que teria sido danificada. Diante da situação, os dois policiais que estavam no automóvel solicitaram o apoio de outras equipes.

Poucos minutos depois, uma viatura que estava nas proximidades chegou ao local. Ainda segundo o 5º BPM, ela também teria sido alvo de diversos objetos arremessados pelos presentes. Na sequência, equipes da Ronda Tático Motorizada (Rotam) e do Choque foram acionadas para conter o distúrbio.

Os policiais atiraram balas de borracha para o alto e também em direção aos participantes da festa para dispersar a multidão. Também foram arremessadas bombas de gás lacrimogêneo em direção ao grupo.

Tanto a estudante ouvida pelo Portal Bonde - que preferiu não se identificar - quanto alguns dos integrantes do evento organizado pelo Facebook e intitulado Vestibular da Maldade relataram que os policiais também teriam usado sprays de pimenta. A informação foi negada pela PM.

"A ação da polícia foi desnecessária e exagerada. Não precisavam ter feito aquilo, tinha muita gente ali, a maioria não tinha nada a ver com a história das garrafas arremessadas contra as viaturas, que, na realidade, eu nem vi, mas fiquei sabendo que teria acontecido", afirmou a jovem ouvida pela reportagem. A maioria das pessoas foi embora do local após a chegada da Rotam e do Choque.

No evento no Facebook, a maior parte dos internautas que se pronunciaram sobre o ocorrido criticaram a ação policial. "Vestibular 2017 revolucionando, algumas questão [sic] além de estarem na prova, foram colocadas em prática também, estado prevalecendo com a desigualdade e passando por cima dos direitos humanos, tratando a população como ninguém. Bonito de se ver", escreveu uma internauta.

Outro fez uma alusão ao nome do evento para descrever o que aconteceu. "É, foi da maldade mesmo, graças ao nossos amigos policiais que souberam lidar muito bem com a situação, se preocupando com a nossa segurança e bem estar, atirando e jogando bombas na gente, provavelmente pra afastar os espíritos malignos e o mal olhado. Agora que já estamos purificados, nos resta esperar a 2° fase!!!", postou.

Parte dos jovens que estão no evento defenderam a polícia. "A culpa é de quem não sabe festa [sic] e da briga e rolo... Se tivesse tudo na santa paz e a galera curtindo não dava isso. Mais [sic] todos nós pagamos por um ou outro", lamentou um deles. "Claro, tem nego [sic] [que] só vai pra fazer função", escreveu outro rapaz.

Conforme a assessoria de comunicação do 5º BPM, os procedimentos adotados foram corretos. "O uso de munição não letal foi necessário diante da injusta agressão sofrida pelos policiais", diz o comunicado oficial. Duas pessoas foram detidas por desacato e encaminhadas ao Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (CIAC) do 4º Distrito Policial (DP) para que fossem lavrados termos circunstanciados.

Segundo a PM, uma jovem se feriu com um pedaço de madeira durante a confusão. Ela foi socorrida e passa bem.