Londrina foi uma das cidades que participou do Ato Nacional Juntas pelo Fim da Cultura do Estupro, que foi realizado simultaneamente por várias cidades do Brasil. Cerca de 150 pessoas se reuniram na avenida Higienópolis com a avenida JK por volta das 14 horas e de lá seguiram em cortejo até o Zerão, até o espaço onde é realizada a Feira da Lua. A reportagem conversou com uma das organizadoras do evento, que pediu para não ser identificada, por medo de represálias. O ato pede justiça para Mari Ferrer, que há dois anos trava uma batalha na Justiça para provar que foi estuprada em Florianópolis e que recentemente teve sua história revelada por uma reportagem do The Intercept, que publicou um vídeo que mostrou a forma pela qual foi tratada no julgamento.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina participa de ato nacional contra a cultura do estupro
| Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Segundo uma das integrantes do movimento que organizou o ato em Londrina, a manifestação foi por todas as mulheres que já foram vítimas de abuso sexual e contra a revitimização da mulher pelas instituições do Estado. “Temos articulação nacional e em todas as cidades e capitais do País o ato foi realizado com com as mesmas palavras de ordem para chamar a atenção da mídia e da sociedade para esse problema tão grave que é a violência contra a mulher, em especial a violência sexual que culpabiliza a vítima da violência do estupro”, destacou.

“A gente sabe que existe todo um avanço das forças conservadoras que tenta retirar o debate sobre gênero e sexualidade da educação e de todas as políticas públicas. Nós, do movimento feminista, lutamos contra qualquer tipo de violência contra as mulheres, inclusive a sexual. A gente defende que a perspectiva de gênero e de educação sexual esteja presente no currículo da escola, claro que a abordagem deve ser adequada de acordo com cada idade, mas a educação voltada para a prevenção da violência sexual é necessária”, enfatizou. Segundo ela, esse projeto de educação pública deve considerar as questões das mulheres e incluir essas perspectivas de gênero para que meninos e meninas entendam que além das diferenças biológicas, as diferenças socialmente construídas podem ser modificadas. “As desigualdades podem ser superadas a partir de uma nova compreensão de que mulheres são seres humanos e merecem respeito. Parece assustador dizer isso, mas a gente ainda vive em uma sociedade em que os corpos femininos não têm valor. Não temos poder de decisão sobre eles. Eles são violados pelo Estado e somos vitimizadas”, destacou.

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| Foto: Isaac Fontana/ Framephoto/Folhapress

Durante o ato o microfone ficou aberto para que as mulheres fizessem relatos de abusos sexuais sofridos por integrantes do movimento. “A gente também quer chamar os homens para que participem de nossa pauta para evitar que eles reproduzam a violência sexual”, destacou.

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| Foto: Isaac Fontana/ Framephoto/Folhapress

Uma das pessoas que participou da manifestação reforçou que não é de hoje que casos como o de Mari Ferrer têm acontecido. “Não é um caso isolado. Está na história do Brasil, que foi construído em cima de estupro de mulheres indígenas e negras e isso continua acontecendo. A gente está tendo que lutar em busca de direito e justiça. A cada oito minutos uma mulher é estuprada no Brasil.”, enalteceu.

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| Foto: Divulgação

Segundo a manifestante, as mulheres protagonizaram o levante no Chile, protagonizaram a derrota de Trump nos EUA e o levante feminista na Polônia. “. As mulheres do mundo inteiro estão indignadas com a exploração do corpo feminino”, declarou. De acordo com ela, em Londrina a Delegacia da Mulher não funciona 24 horas e nos últimos meses o feminicídio vem aumentando com a pandemia. “Isso dificulta a luta das mulheres e ajuda o Estado a ter práticas machistas patriarcais. Os homens deveriam estar nessa luta com a gente, mas eles se abstêm disso”, declarou.

Ela ressaltou que essa luta agrega diversos setores da sociedade. “Atinge mulheres universitárias, da periferia, negras e indígenas. Está em todas as classes sociais. As pessoas devem olhar para elas mesmas. Estamos em período de campanha eleitoral e é preciso que se leve essa pauta para dentro do poder público, pois é algo que está na sociedade e está dentro do Estado, que está legitimando a questão de culpabilização da vítima”, enalteceu.