O calor recente em Londrina e região tem sido o assunto. É o verão na primavera. Nas rodas de conversa, no elevador, no transporte público e, naturalmente, na imprensa. As formas de expressar a fadiga provocada pelas altas temperaturas variam. Há quem diga que há um sol para cada um lá fora, que o rei sol está de rachar mamona, de derreter piche ou que é possível fritar ovo no asfalto.

Bom humor à parte, com os termômetros acima dos 40º, o INMET -Instituto Nacional de Meteorologia e o Simepar -Sistema de Tecnologia e Monitoramento alertam sobre a baixa umidade relativa do ar e recomendam a ingestão de água, a redução de atividades físicas , assim como evitar exposição ao sol nas horas mais quentes do dia.

No fim de semana, a procura por uma fresca foi o programa de muitos cidadãos à beira do Lago Igapó. Além da água de coco e do caldo de cana, centenas de pessoas lançaram mão ainda da criatividade para que o domingo de calor fora de casa fosse mais divertido e prazeroso. Da simplicidade dos trajes de banho, a maioria improvisados, aos sorrisos inocentes, principalmente os das crianças.

Literalmente, mergulham de cabeça, fazem do deck que apoia embarcações trampolim e criam coreografias - dentro e fora da água. O sol arde, castiga e o equipamento digital dá sinais de esgotamento: sim, até o celular avisa que superaqueceu. Uma pausa, uma entrevista debaixo do pé de manga e o equipamento volta à ativa. Uma tarde quente mesmo. De rachar mamona, de rachar celular.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina a 40 graus: cidade se refresca à beira do lago
| Foto: Walkiria Vieira

GELADÃO GOURMET

Se de um lado havia geladinho e geladão gourmet à venda, na bagagem dos frequentadores a embalagem térmica trazia água, refrigerante e uma canga sobre o gramado para relaxar. De Ibiporã, Região metropolitana da Londrina, a confeiteira Edileusa Leite admite que para ela o calor está fazendo mal. "Nem consegui almoçar. "Ela e seu marido, o operador de empilhadeira Vilson Leite, escolheram um local com sombra para sentar e comtemplar a natureza.

Sem dúvidas, os tecidos para cobrir o chão, a cadeira de praia e a caixa térmica não só demarcaram o local dos visitantes, que optaram por uma vista privilegiada do lago e a mansidão, mas deram identidade. "Precisa melhorar a manutenção da grama, pois tem muito espinho. Gostaria de ficar descalça e pisar na grama", conta. "E o banheiro, claro. Uma pena, porque se precisarmos ir ao banheiro, vamos embora para casa", pensam os moradores do jardim São Rafael, em Ibiporã.

Acompanhado de toda a família, o técnico residencial Ronald Rezende, fez uma pausa após o almoço em um dos pontos próximos à barragem do lago, onde são servidos caldo de cana e água de coco. De seu ponto de vista, a estrutura, tão próxima da Prefeitura do Município de Londrina, deixa a desejar. "É fácil observar que aqui hoje, nos quiosques, nos gramados e na água, há mais de 2 mil pessoas. Tanto para os que estão a lazer, como os ambulantes, o banheiro é algo essencial", afirma.

LAGO ATRAI A REGIÃO

Para os comerciantes Roberto Barroso e Érica Fernandes Marques Ferreira chega a ser constrangedor falar sobre o assunto. "Os clientes sempre pedem e temos que falar a verdade, que não tem banheiro pra nada", desabafam. Ao mesmo tempo, sem perder o ânimo pelo atendimento, investem e confiram o aumento na procura pelas bebidas que hidratam e refrescam.

Caldo de cana com limão ou com abacaxi e a clássica água de coco tomada de canudo, de olho no lago, estão mais que festejadas nesses dias de calor escaldante. Após 25 anos, Barroso incrementou o point, está a bordo de um food truck todo estilizado e agora também tem pastel frito na hora. Já Ferreira conta que a cana limpinha e cortada chega a não dar conta, tamanha a sede da população. Quem treina no lago de manhã prefere começar o dia com água de coco e a venda está excelente", comemora.

Enquanto o calor não dá tréguas, uns de banham, outros simplesmente respiram mais aliviados com a pequena brisa que se forma. A moradora do União da Vitória IV, zona Sul de Londrina, Divina Cândido, aproveita a tarde de domingo para pescar. Mostra a tilápia que conquistou com uma varinha. "Também tem carazinho e piranha, mas hoje como tem muita gente, o lago tá agitado e fica difícil de pegar", sorri.

Divina Cândido vai ao Igapó com um objetivo definido: pescar e comemora quando fisga uma tilápia
Divina Cândido vai ao Igapó com um objetivo definido: pescar e comemora quando fisga uma tilápia | Foto: Walkiria Vieira

Entre uma e outra moto aquática que cruza o lago, Cândido Sorri. Diz que gosta de observar. "Está calor, todos querem se divertir e sair um pouco de casa. Orgulhosa, mostra uma de suas riquezas, o neto que acabara de se banhar no lago com os pais. "Apesar do calor, na minha casa mesmo é fresco. Tenho árvores na frente e no fundo. Na porta de casa, uma sete copas, um pé de mangueira e um pé de ameixa. No quintal do fundo, uma goiabeira, um abacateiro e um pé de limão". Essas são suas outras riquezas.

A estudante Elis Esperândio Duarte, nove anos, fez o mergulho de estreia no lago Igapó. Na companhia do pai, o instalador hidráulico Otto Henrique Duarte, 37 anos, conta que esse é um lugar que compõe sua infância. "Nadei a vida toda aqui e na minha época era mais fundo, bem mais fundo", recorda.

Elis ouve o pai falar de modo encantado. Ela termina o picolé e revela que foi um dia muito especial ao lado do pai. "Eu adorei". Ela nunca tinha descido, só via o lago de longe ou pela televisão e eu acredito que não tem problema para a saúde, é só chegar em casa e tomar um banho", pensa.

Elis mora no Conjunto Vivi Xavier, na região Norte, o pai no Hernani Moura Lima, região Sul. O trabalhador considera que na cidade poderia haver mais opções de lazer o Igapó poderia ter uma estrutura melhor. "Na parte da Higienópolis está mais bem cuidado, infelizmente aqui está menos cuidado do que merece", pensa.