A história de Londrina é marcada por momentos importantes, que vão da chegada dos ingleses com a CTNP (Companhia de Terras Norte do Paraná) até sua expansão e industrialização, que fizeram com que Londrina se tornasse uma das cidades mais importantes do país. Berço do café, as histórias, os fatos e as curiosidades da "pequena Londres" vão ser reunidas em um livro, que vai presentear a cidade e os londrinenses por seus 90 anos, sejam eles de nascimento ou de coração.

O livro toma como base os episódios do programa "Londrina de Braços Abertos’" veiculado pela Paiquerê 91,7 há quase um ano. Em seus quatro minutos, cada um dos episódios traz um pouco da história de Londrina, que é a base da Londrina de hoje e que ainda vai moldar muitos e muitos anos à frente. Responsável pelo projeto, o jornalista e escritor Wilhan Santin também vai ser o responsável por transformar o conteúdo radiofônico em livro, que deve ser lançado no mês de dezembro, quando Londrina completa nove décadas.

Há 50 nas mãos de JB Faria, a Paiquerê 91,7 tem um caráter esportivo muito forte, já que são oito Copas do Mundo no currículo, além de tantas outras competições Brasil afora. Assim como o apreço pelo esporte, o radialista reforça que o jornalismo de qualidade e com responsabilidade sempre nortearam o trabalho da emissora. Com seus 62 anos "de microfone", JB Faria afirma que sempre se considerou londrinense, já que desembarcou na cidade com 11 meses de idade, em fevereiro de 1946.

“Meu sonho era deixar alguma coisa para Londrina, alguma coisa importante para Londrina e, no ano passado, ele [Wilhan Santin] ligou para a gente falando que tinha uma ideia”, relata.

Com 12 livros já publicados, o jornalista e escritor Wilhan Santin, que nas palavras de JB Faria é um “apaixonado por pesquisa”, chegou com a ideia de fazer um programa diário na rádio contando um pouco da história de Londrina em comemoração e como uma forma de presentear os 90 anos da cidade, celebrado no dia 10 de dezembro de 2024. Então, em março de 2023, nasceu o "Londrina de Braços Abertos", que traz história, curiosidades e fatos marcantes que contribuíram para que Londrina se tornasse o que é hoje.

Até agora, o programa já tem 250 episódios de quatro minutos veiculados de segunda-feira a sábado no Jornal da Manhã, da Paiquerê 91,7, e com mais três reprises ao longo da programação. “E a coisa começou a pegar”, relata Faria. Com o programa a todo vapor, o radialista conta que a ideia foi transformar o conteúdo em um livro como presente para a cidade. “Tem muitos livros bons de Londrina, mas com essa riqueza de detalhes e de curiosidades, não tem nada igual”, explica, complementando que o livro vai trazer uma leitura fácil e fluída.

Faria reforça que o programa na rádio deve seguir até outubro, fechando em 400 episódios, em que o conteúdo e a linguagem vão ser adaptados para compor o livro, sendo que cada “história” vai ser transformada em uma página do livro. A expectativa é lançar o livro em dezembro, no mês do aniversário de 90 anos de Londrina. “Tem curiosidades incríveis, muita coisa que eu vivi, mas muita coisa que eu falei para ele [Santin] que eu jamais imaginava”, aponta.

Para Santin, o primeiro desafio é transformar o texto radiofônico em uma linguagem gostosa de ler no impresso, assim como adicionar imagens, infográficos e ilustrações no material final. “Londrina tem uma história rica e bem documentada”, afirma, citando que tem em sua casa 90 livros que contam história da cidade e de personalidades importantes para a região. Além dos livros, ele reforça que uma boa parte do conteúdo explorado saiu das páginas da Folha de Londrina.

Outro parceiro importante nessa jornada tem sido o Museu Histórico de Londrina, que tem no acervo relatos de pioneiros como Alexandre Rasgulaeff, que foi o engenheiro agrimensor que projetou o quadrilátero central de Londrina. “Ali você tem revelações muito interessantes da história”, explica, complementando que é mais fácil de explorar os relatos no livro do que no rádio, já que com os recursos da época a qualidade do áudio não é muito boa.

Santin reforça que alguns assuntos polêmicos vão ser detalhados no livro, como as histórias contadas pelo fotógrafo George Craig Smith durante a chegada de uma expedição da CTNP em 21 de agosto de 1929. Ao chegar ao que hoje é o Marco Zero, Rasgulaeff teria anunciado que ali seriam as “terras da Companhia”. “Nessa gravação do Museu [Histórico de Londrina], o próprio Rasgulaeff fala que não foi ele que falou não, que foi um auxiliar dele que estava lá”, conta.

Outro detalhe, segundo Santin, é que Simon Joseph Fraser, mais conhecido como Lord Lovat, um dos fundadores de Londrina, nunca esteve na cidade. “[Lovat] é o grande responsável por colonizar, por vender e por lotear [as terras da região], era a mente por trás de tudo, e ele nunca esteve aqui”, explica, complementando que, em 1932, Lord Lovat chegou até a cidade de Jataizinho, mas não conseguiu vir para Londrina por conta de uma forte chuva.

Uma história pouco explicada até então, mas que vai ser destrinchada no livro, é sobre a "marcha da produção". O escritor esclarece que, no final da década de 1950, os cafeicultores estavam insatisfeitos com o preço do produto, o que motivou a organização de uma marcha. “A ideia era sair todos os cafeicultores aqui do Norte do Paraná em carreata, em jipes, para irem até o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro”, conta. Apesar dos planos para uma marcha pacífica para reivindicar um controle no preço do café, o então presidente Juscelino Kubitschek ficou assustado com o movimento, segundo Santin, por conta de eventos anteriores que levaram à posse de Getúlio Vargas.

A repressão ao movimento foi muito forte, inclusive com a colocação de militares na ponte sob o Rio Tibagi: “e até com ordem de que, se preciso fosse, dinamitar a ponte para o pessoal não passar e não conseguir ir [para o Rio de Janeiro]”. Por conta do cenário repressivo, a "marcha da produção" nunca saiu. “Esse é um capítulo pouco explicado da história de Londrina, mas que a gente conseguiu documentar bastante e vai ser legal contar isso”, admite.

Apesar de este já ser o 13° livro do currículo do escritor e jornalista, Santin afirma que é um desafio escrever sobre Londrina. “Para mim é gostoso porque eu sempre gostei da história de Londrina, que eu fomentei ainda mais nos cinco anos em que fui repórter aqui na Folha de Londrina”, admite.

“A grande ideia nossa é reunir tudo isso em um livro bem documentado, de uma forma que fique agradável para todo mundo ler e para que as pessoas possam ter os 90 anos da história de Londrina literalmente nas mãos de um jeito fácil de consultar”, afirma Santin.