Lideranças católicas de Londrina e região lamentaram a morte do papa Francisco, anunciada pelo Vaticano nesta segunda-feira (21).

O padre Rodolfo Trisltz, pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Londrina, lembrou que o primeiro latino-americano a assumir o pontificado tinha devoção especial à padroeira do Brasil, tendo visitado o Brasil e o Santuário Nacional de Aparecida no dia 24 de julho de 2013, recém-eleito papa.

O Santuário de Londrina celebrará uma missa em sufrágio pelo pontífice às 19h desta segunda-feira (21). Durante todo o dia a igreja estará aberta para que os fieis possam rezar por Francisco.

“O papa Francisco nos deixa um legado de fé e de amor, uma atenção especial aos pobres, aos imigrantes, à paz e à natureza. De moto particular, aos excluídos e marginalizados pela sociedade. Por isso, não apenas a Igreja Católica perde um pai espiritual, mas o mundo sentirá a falta de um líder como Francisco”, ressalta o padre Rodolfo Trisltz.

Padre Rodolfo Trisltz, pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Londrina
Padre Rodolfo Trisltz, pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Londrina | Foto: Patrícia Caldana/Santuário

De acordo com ele, o pontífice, que estava doente já há alguns meses, morreu ao terminar a festa da ressurreição de Cristo, cuja Páscoa foi celebrada no último domingo (20). “O papa nos deixa um dia depois da festa da Páscoa, depois de ter abençoado os fieis na Praça São Pedro. Isso tem um grande significado e acreditamos que Francisco já desfruta da ressurreição e da vida eterna.”

Compaixão

Vigário geral da Arquidiocese de Londrina e pároco da Paróquia Jesus Cristo Libertador, padre Rafael Solano lembra que o papa Francisco sempre teve muita compaixão com aqueles que se sentem rejeitados, doçura com as crianças e sobretudo com os idosos e aquela afabilidade especial do ambiente cristão.

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"Penso eu que o seu legado humano e social não silenciou diante de todas as catástrofes naturais e sem dúvida nenhuma a sua participação em eventos sociais, aquela viagem que ele realizou à Lampedusa marcou e verdadeiramente transfigurou a forma de entender a vida dos imigrantes e especialmente de tantos homens, mulheres e crianças que morrem por causa dos conflitos políticos", menciona.

Padre Rafael Solano, em audiência com Francisco, em 2024
Padre Rafael Solano, em audiência com Francisco, em 2024 | Foto: Acervo pessoal

Em 2024, durante o Sínodo, padre Solano teve a oportunidade de estar com o papa Francisco. Revela que na ocasião foi de extrema atenção com todos os presentes. "Apareceu no balcão e cumprimentou tão docemente a todos que estávamos ali, a todos os que estavam em diferentes lugares do mundo", afirma.

"O que mais me impactou foi o sorriso e a forma tão delicada de tratar a cada um dos padres nesse dia e ainda permaneceu duas horas exatas no meio de todos os padres com uma alegria, com uma disponibilidade, com uma atenção, me impressionou profundamente e significou verdadeiramente um gesto de paternidade a nós, padres", reflete.

Liderança mundial

Solano expressa também todo o respeito que o papa Francisco conquistou nesses 12 anos. "Denunciou abertamente os conflitos sociais entre os povos mais ricos e mais pobres e foi um nome que insistentemente pediu pelo perdão da dívida externa dos países pobres".

O vigário geral da Arquidiocese de Londrina destaca com emoção a postura de Francisco durante a pandemia. 'Tocou a todos quando, em março de 2020, ele, sozinho, subia o Sagrado na Praça São Pedro, completamente vazia, para rezar pelas vítimas da pandemia. A dor do papa foi um sinal de verdadeiro servidor do Evangelho e de liderança mundial", afirma.

"Quem virá será enviado pelo Espírito Santo. E uma das coisas mais lindas do conclave é a missa para eleger o papa, porque na missa todas as orações convergem nessa única súplica: enviai Senhor, aquele a quem e o espírito decidirá escolher para continuar nesta missão", explica Rafael Solano.

Um sonho comum

Para o padre Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos, reitor do Seminário Teológico São Paulo VI, o papa Francisco trouxe o papado ao “chão da fábrica”, ao coração das pessoas comuns e despertou nelas ideais evangélicos singelos e factíveis, envolvendo-as num sonho comum.

Padre Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos: "Em Francisco, o homem virou papa!"
Padre Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos: "Em Francisco, o homem virou papa!" | Foto: Acervo pessoal

"Em Francisco, o homem virou papa! Ensopado no Evangelho, provocou a humanidade a rever o seu comportamento em relação à ecologia (“Casa Comum”), à economia, à política e à inclusão. Lutou tenazmente para que os refugiados e emigrantes fossem acolhidos e inseridos e para isso se indispôs até com o governo Trump".

Ainda para o reitor, Francisco será lembrado como o papa que provocou uma reforma na Igreja Católica sem precedentes. "Há o sentimento, de que foi um processo irreversível. Assim esperamos no próximo conclave. O primeiro papa latino americano fez jus à sua origem, sendo fiel ao Concílio Vaticano II e às Conferências de Medellin, Puebla e Aparecida, da qual ele foi o relator. Houve uma clara ruptura no modus operandi de Bento XVI e isso se refletiu na postura da Igreja perante os abusos, por exemplo. Acredito que o pontificado de Francisco tenha continuidade", afirma.

Coerência, autoridade moral e espiritual

O padre Romão Antonio Martini Martins, da Paróquia São José, de Rolândia, acredita que o mundo não terá tão cedo um outro líder com seu nível de coerência, autoridade moral e espiritual. "Amanhecemos com a triste notícia do falecimento do nosso querido papa Francisco. Bateu um forte sentimento de orfandade", diz.

Para padre Romão, a vida de Francisco dispensa palavras. "Foi a incorporação viva de Jesus em nosso meio, por sua humildade, bondade, mansidão, amor ao próximo, atenção para com os mais frágeis. Com excelente formação filosófica e teológica, era o tipo raro que reunia fé, inteligência e uma grande sensibilidade humana. Sua vida era uma Bíblia viva, tinha uma direta e contínua conexão com Deus", afirma.

Padre Romão Antonio Martini Martins: "Bateu um forte sentimento de orfandade"
Padre Romão Antonio Martini Martins: "Bateu um forte sentimento de orfandade" | Foto: Antônio Neto/Divulgação

Romão lembra que o papa foi uma inspiração e um grande orgulho para os católicos. "Ser contemporâneo com ele foi um privilégio. Feliz quem, deixando o coração aquecer por suas palavras, sempre fundamentadas na Palavra, viveu verdadeiras experiências de Deus. Está agora no céu. Com o coração pleno de gratidão pela vida, pelo pontificado e por todo bem que a vida ministerial de Francisco rendeu à Igreja, ao mundo e à natureza, prosseguimos como ele, como profetas do amor, misericórdia, da esperança e da conquista de um mundo melhor para todos", afirma. (Com assessoria do Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Londrina)

Homenagem ao papa Francisco, na cidade de São Paulo
Homenagem ao papa Francisco, na cidade de São Paulo | Foto: Miguel Schincariol/AFP
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