Liberados no exterior, autotestes são proibidos no Brasil
Tipo de teste caseiro ganhou popularidade fora do país por ser mais barato e prático
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
Tipo de teste caseiro ganhou popularidade fora do país por ser mais barato e prático
Daniel Muniz - Especial para a FOLHA
Popular em países da Europa, Ásia e nos Estados Unidos, os autotestes caseiros de Covid-19 se tornaram uma alternativa acessível e popular para um diagnóstico inicial, especialmente no período de festas de fim de ano. No Brasil, entretanto, esse tipo de testagem é proibido por uma resolução de 2015 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Essa mesma resolução diz que a proibição pode ser “afastada pela Diretoria Colegiada”, conforme estratégias e políticas públicas instituídas pelo ministério da Saúde. Isso já ocorreu em 2016, quando os autotestes de HIV foram autorizados e hoje são comercializados em farmácias, além de serem distribuídos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
De acordo com dados do portal Our World In Data, ligado à Universidade de Oxford, no Reino Unido, o Brasil atualmente faz apenas 0,23 testes por 1 mil habitantes, índice menor que em lugares como Alemanha (2,61), Argentina (2,15) e Estados Unidos (3,96). Esse número atingiu seu pico no começo de outubro de 2021, quando o país chegou a 2,51 testes por mil pessoas.
Na Alemanha, a testagem é amplamente difundida pelo governo. Além de centros com testes gratuitos, os autotestes podem ser comprados por qualquer pessoa em estabelecimentos como mercados e farmácias. Julia Moreira de Fraga e Gabriel Schier de Fraga, casal de paranaenses que está em Düsseldorf, no oeste da Alemanha, contam à FOLHA que pagaram quatro euros no teste para ser feito em casa.
“Encontrei uma cesta cheia de testes à venda no caixa do mercado e tinha diversas opções, algumas com preços mais baixos, inclusive”, relata Moreira, que é jornalista e aprovou ter uma alternativa mais acessível e prática. “No Brasil, os testes em farmácias e laboratórios não são baratos e, se você tentar adquirir pelo plano de saúde particular, é necessário um atestado médico”, completa
.
É comum a exigência de comprovante de vacinação e um resultado negativo de Covid-19 com antecedência de até 24 horas para a entrada em determinados estabelecimentos na Alemanha. O autoteste no país é semelhante ao de antígeno aqui no Brasil, com um swab, tipo de cotonete grande, usado na via nasal ou na garganta, e mais um dispositivo que lembra um teste de gravidez vendido em drogarias.
O resultado do teste pode, inclusive, ser validado e rastreado oficialmente por meio de um sistema de telemedicina. A pessoa entra em um site do governo alemão e, por videochamada, um profissional da saúde acompanha a realização do teste e o resultado.
Gabriel Fraga, que é médico, também gostou da praticidade do autoteste. “Acho importante para ter um controle maior da pandemia. O fato de poder ser feito em casa ajuda bastante para idosos e pessoas do grupo de risco, por exemplo, que podem evitar o deslocamento aos centros de testagens”, opina. “Aqui, até por conta dos problemas enfrentados pela recusa da vacina por parte da população, são feitos muitos testes. Eu fui a uma entrevista na Baviera e não tinha sido informado que precisaria de um teste negativo, mas na mesma hora me foi oferecido um teste antígeno.”
Quem já fez diversos autotestes caseiros na Alemanha e também teve experiências positivas foi a economista Cássia Valéria Carneiro von Heymann, que é de Cornélio Procópio (Norte Pioneiro), mas mora há 32 anos em Potsdam, perto de Berlim. “Os testes caseiros são muito comuns e fáceis de encontrar por lá. Por ser mais acessível, é interessante fazer antes de reuniões e visitas a amigos e familiares para ter uma segurança maior”, diz. “Vem com todas instruções de uso e se você tem um resultado positivo, é necessário relatar ao governo e fazer outro teste do tipo RT-PCR para confirmar se é um falso positivo ou não”, acrescenta. Em sua última compra, von Heymann pagou 13,50 euros por cinco testes.
Para Cláudia Carrilho, médica infectologista e coordenadora da CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) do HU (Hospital Universitário) de Londrina, o autoteste caseiro pode ser mais uma ferramenta para o controle da pandemia e para precaução em certas ocasiões como reuniões familiares. “Pode ajudar caso sejam vendidos autotestes de qualidade devidamente comprovada pelos órgãos competentes. É fundamental que haja esse controle de qualidade, porque um teste de baixa qualidade pode apresentar um resultado falso”, explica.
Com a tendência de a pandemia de Covid-19 se tornar endêmica, os autotestes caseiros também podem representar um alívio aos sobrecarregados sistemas de saúde, de acordo com a infectologista. “Caso haja uma liberação, é necessário ter um esforço do poder público e uma conscientização da população para notificar os casos positivos aos órgãos de saúde para que de fato se tenha um controle maior da pandemia”, completa Carrilho. Ela lembra que o resultado negativo não tira a possibilidade de a pessoa estar infectada por conta do período de incubação do vírus.
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