Brasília, 05 (AE) - A secretária Nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, liberou o filme norte-americado "Dogma" para exibição no Brasil. "Dogma" tem sido criticado por entidades religiosas ligadas à Igreja Católica. A organização Tradição, Família e Propriedade, a TFP, por exemplo, o acusa de profanação, principalmente por fazer a pop star Alanis Morissette interpretar o papel de Deus. O filme enfrenta tabus como a natureza de Deus e a virgindade de Maria. Há críticas, ainda, ao excesso das cenas de violência e uso de drogas.
A decisão do Ministério da Justiça deverá ser publicada no "Diário Oficial" da União de amanhã (06). A estréia do filme pode ocorrer ainda este mês. A única restrição imposta pelo Ministério da Justiça é que o filme seja exibido somente para maiores de 18 anos. "Nem se eu quisesse, não haveria meios do Ministério da Justiça impedir a exibição", disse a secretária. Desde que a proposta de liberação do filme começou a ser analisada, o governo recebeu dezenas de pedidos para sua proibição. A expectativa de técnicos do governo é de que a decisão possa gerar uma polêmica quase idêntica à levantada depois da liberação do filme francês "Je Vous Salue Marie", de Jean Luc Goddard, lançado em 1986, que provocou protestos em cinemas americanos e de várias partes do mundo. Entretanto, segundo a secretária, quem achar que a liberação não é justa poderá recorrer à Justiça.
Bem e mal - O filme atualiza a eterna luta do bem e do mal usando Ben Affleck e Matt Damon como anjos caídos e Linda Fiorentino como uma descendente da linhagem de Cristo. Em entrevistas, o diretor disse que está querendo aproximar o Evangelho dos jovens. Quer ter o direito de fazer sua interpretação da Bíblia e do próprio conceito de Deus. Para ele, as críticas em relação ao papel de Deus ser interpretado por uma mulher são um preconceito típico de uma sociedade machista, que não hesita em definir como falocêntrica.
"Por que identificar Deus como uma figura masculina? Só por que são os homens que controlam a sociedade?", disse em entrevista ao repórter Luiz Zanin Oricchio no dia 28 de dezembro. Ele entende que Deus está além de toda compreensão, além dos sexos. E pode ser uma mulher, sim. "As stars da música pop são os deuses da nossa época", disse, ao explicar a escolha da cantora Alanis.