Libaneses em Londrina lamentam explosão em Beirute
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quarta-feira, 05 de agosto de 2020
Laís Taine - Grupo Folha
“Quando a gente recebeu as imagens da explosão, a gente não acreditou, achou que era uma imagem de guerra de anos anteriores”, comenta Nasser Zebian Nasser, 24, presidente da Associação Muçulmana de Londrina e Norte do Paraná. Filho de libaneses, o londrinense viaja duas vezes por ano ao país para visitar a família e comenta com tristeza a tragédia na capital do Líbano.
As razões da megaexplosão no porto de Beirute, nesta terça-feira (4), ainda são investigadas, mas, de acordo com o governo libanês, o incidente foi causado por 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam estocadas na região portuária de forma inadequada desde 2014. Até o início da tarde de quarta-feira (5), as autoridades somavam 135 mortes e 5 mil feridos. Cerca de 300 mil pessoas ficaram desabrigadas e os danos se estenderam a mais da metade da área da capital libanesa.
“No momento em que pesquisamos na internet e nos certificamos da atualidade e veracidade da notícia, ficamos muito assustados. Imagina as pessoas que estavam lá no momento?”, comenta Nasser. O presidente estudou durante um ano na capital libanesa e esteve no mesmo local da tragédia há um ano. Ele conta que a família do Brasil ligou imediatamente para os familiares, que vivem no interior do Líbano. “Nem eles sabiam exatamente o que tinha acontecido. Eles relataram caos, susto. Graças a Deus encontram-se todos bem”, menciona.
Nasser afirma que é muito triste ver o que está acontecendo com o país e que ainda aguarda informações para entender o que houve. Além das vítimas e feridos, ele avalia que os danos serão muito maiores do que o sentido até agora, ao considerar que o Líbano vinha de uma crise econômica intensificada pela pandemia e que sofrerá, agora, as consequências da destruição do porto. “A única entrada de riqueza no país é por esse porto e até reconstruir tudo vai levar tempo. E nós ficamos com a preocupação por estar longe dos parentes para poder ajudar nessa situação difícil, porque não afeta só Beirute, afeta o país inteiro”, argumenta.
Reconstruir, infelizmente, não é uma novidade para os libaneses. Depois de período de guerras, o país ficou destruído. O pai de Salam Jihad Obeid, 31, era militar e veio para o Brasil em procura de condição melhor de vida. Tempo depois, vieram os filhos e a esposa. “Nós viemos, mas temos família lá. É um país que vem sofrendo muita reforma política, guerra religiosa, morreu muita gente, o país ficou destruído, virou terra”, comenta Obeid, que chegou em Londrina aos quatro anos.
O comerciante conta que os libaneses reconstruíram o país, mas as facções resistiram, gerando conflitos religiosos e políticos que perduram até hoje. Para ele, a explosão é mais uma tragédia. “Eu estava trabalhando quando eu recebi a notícia, meu pai e primo mandaram a notícia e eu entrei em choque, parei de trabalhar, porque é o nosso país, a terra que a gente ama, o povo não aguenta mais essa tortura que não acaba nunca”, comenta.
A família de Obeid vive na cidade de Alei, a 15 minutos de Beirute. O primo Fuahd Obeidi é distribuidor e havia acabado de carregar o caminhão no porto quando iniciou o incêndio, a explosão aconteceu quando ele estava voltando para sua cidade, conforme relata o primo em Londrina. “Ele parou o caminhão na estrada para olhar o incêndio e viu a explosão. Disse que chorou muito, porque tinha amigos no porto. Ele queria voltar para ajudar, mas disse que não conseguiu, porque o trânsito ficou intenso, o pessoal ficou preso no engarrafamento, as ambulâncias não conseguiam passar, porque as ruas lá são estreitas”, revela.
Obeid relata sentimento de tristeza e desânimo por ver novamente o seu país passar por situação catastrófica. “É de perda mesmo, de que a gente não consegue buscar liberdade. De longe a gente não consegue fazer nada, então ficamos rezando e orando para que Deus proteja todos”, revela consternado.
Sentimento compartilhado por Nasser, que sofre com a tragédia e agradece a preocupação por parte dos brasileiros. “Vemos a solidariedade do brasileiro, precisamos desse apoio nesse momento, independente de crenças, o Líbano todo passa e vai passar por período de dificuldade”, afirma. (Com FolhaPress)