“Quando a gente recebeu as imagens da explosão, a gente não acreditou, achou que era uma imagem de guerra de anos anteriores”, comenta Nasser Zebian Nasser, 24, presidente da Associação Muçulmana de Londrina e Norte do Paraná. Filho de libaneses, o londrinense viaja duas vezes por ano ao país para visitar a família e comenta com tristeza a tragédia na capital do Líbano.

Nasser Zebian Nasser, na região do porto de Beirute, local da explosão, em agosto de 2019
Nasser Zebian Nasser, na região do porto de Beirute, local da explosão, em agosto de 2019 | Foto: Arquivo Pessoal

As razões da megaexplosão no porto de Beirute, nesta terça-feira (4), ainda são investigadas, mas, de acordo com o governo libanês, o incidente foi causado por 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam estocadas na região portuária de forma inadequada desde 2014. Até o início da tarde de quarta-feira (5), as autoridades somavam 135 mortes e 5 mil feridos. Cerca de 300 mil pessoas ficaram desabrigadas e os danos se estenderam a mais da metade da área da capital libanesa.

“No momento em que pesquisamos na internet e nos certificamos da atualidade e veracidade da notícia, ficamos muito assustados. Imagina as pessoas que estavam lá no momento?”, comenta Nasser. O presidente estudou durante um ano na capital libanesa e esteve no mesmo local da tragédia há um ano. Ele conta que a família do Brasil ligou imediatamente para os familiares, que vivem no interior do Líbano. “Nem eles sabiam exatamente o que tinha acontecido. Eles relataram caos, susto. Graças a Deus encontram-se todos bem”, menciona.

Nasser afirma que é muito triste ver o que está acontecendo com o país e que ainda aguarda informações para entender o que houve. Além das vítimas e feridos, ele avalia que os danos serão muito maiores do que o sentido até agora, ao considerar que o Líbano vinha de uma crise econômica intensificada pela pandemia e que sofrerá, agora, as consequências da destruição do porto. “A única entrada de riqueza no país é por esse porto e até reconstruir tudo vai levar tempo. E nós ficamos com a preocupação por estar longe dos parentes para poder ajudar nessa situação difícil, porque não afeta só Beirute, afeta o país inteiro”, argumenta.

Reconstruir, infelizmente, não é uma novidade para os libaneses. Depois de período de guerras, o país ficou destruído. O pai de Salam Jihad Obeid, 31, era militar e veio para o Brasil em procura de condição melhor de vida. Tempo depois, vieram os filhos e a esposa. “Nós viemos, mas temos família lá. É um país que vem sofrendo muita reforma política, guerra religiosa, morreu muita gente, o país ficou destruído, virou terra”, comenta Obeid, que chegou em Londrina aos quatro anos.

O comerciante conta que os libaneses reconstruíram o país, mas as facções resistiram, gerando conflitos religiosos e políticos que perduram até hoje. Para ele, a explosão é mais uma tragédia. “Eu estava trabalhando quando eu recebi a notícia, meu pai e primo mandaram a notícia e eu entrei em choque, parei de trabalhar, porque é o nosso país, a terra que a gente ama, o povo não aguenta mais essa tortura que não acaba nunca”, comenta.

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materia sobre explosao no libano - fotos: gustavo carneiro - folha de londrina - 05/08/20 - personagem: salam | Foto: Gustavo Carneiro

A família de Obeid vive na cidade de Alei, a 15 minutos de Beirute. O primo Fuahd Obeidi é distribuidor e havia acabado de carregar o caminhão no porto quando iniciou o incêndio, a explosão aconteceu quando ele estava voltando para sua cidade, conforme relata o primo em Londrina. “Ele parou o caminhão na estrada para olhar o incêndio e viu a explosão. Disse que chorou muito, porque tinha amigos no porto. Ele queria voltar para ajudar, mas disse que não conseguiu, porque o trânsito ficou intenso, o pessoal ficou preso no engarrafamento, as ambulâncias não conseguiam passar, porque as ruas lá são estreitas”, revela.

Obeid relata sentimento de tristeza e desânimo por ver novamente o seu país passar por situação catastrófica. “É de perda mesmo, de que a gente não consegue buscar liberdade. De longe a gente não consegue fazer nada, então ficamos rezando e orando para que Deus proteja todos”, revela consternado.

Sentimento compartilhado por Nasser, que sofre com a tragédia e agradece a preocupação por parte dos brasileiros. “Vemos a solidariedade do brasileiro, precisamos desse apoio nesse momento, independente de crenças, o Líbano todo passa e vai passar por período de dificuldade”, afirma. (Com FolhaPress)