Laudo considera atirador do shopping 'normal'
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segunda-feira, 03 de janeiro de 2000
Por Renato Lombardi
São Paulo, 3 (AE)- O estudante do sexto ano de medicina da Santa Casa de Misericórdia, Mateus da Costa Meira, de 24 anos, que na noite de 3 de novembro do ano passado matou a tiros de submetralhadora três pessoas e feriu outras cinco no cinema de nº 5 do MorumbiShopping vai ser julgado pelo 5º Tribunal do Júri da Capital.
Um laudo de sanidade mental com 26 páginas, assinado por três médicos e uma psicóloga e entregue ontem à Justiça afirma que Meira é normal, esquisito, usuário de drogas e sabia o que estava fazendo quando entrou na sala de projeção e atirou nas pessoas que assistiam ao filme Clube da Luta.
Durante um mês, Meira que está preso em um distrito da capital
foi entrevistado pelos médicos Sérgio Rigonatti, Antônio Cabral
Moacir Rosa e pela psicóloga Maria Adelaide Caires.
Nomeados pelo juiz José Ruy Borges Pereira, presidente do 5.º Tribunal do Júri, eles analisaram o estudante de medicina que fez um relato de sua infância, na Bahia. Falou da adolescência, da chegada a São Paulo, seu ingresso na faculdade e amizades.
Na opinião dos participantes da equipe de especialistas, Meira tem personalidade "esquisita", apresenta dificuldade de relacionamento, é quieto, tímido, alterna o humor e confessou ser usuário de droga e de álcool.
Na definição da personalidade violenta de Meira, os três médicos e a psicóloga informaram que ele sabia o que estava fazendo e podia se controlar. "Ele tinha a capacidade de entendimento do caráter criminoso", afirmam os peritos.
Na época de vestibular, na Bahia, Meira contou que teve vontade de entrar num cinema armado com um bisturi pertencente ao pai, médico oftamologista, para agredir as pessoas.
Estava estava revoltado com o resultado do vestibular. Disse ter conseguido se controlar. Segundo Rigonatti, Cabral, Rosa e Maria Adelaide, com o uso das drogas, Meira se tornou violento, não conseguiu se controlar e passou a "ter uma agressividade grande."
Droga - Os peritos afirmaram ainda no laudo que Meira nos quatro dias que antecederam sua entrada no cinema para matar as três pessoas e ferir as outras cinco usou muita droga. "O uso da droga provoca um quadro delirante."
Eles também afirmaram que durante as entrevistas o estudante de medicina não se mostrou arrependido do que fez. Queixou-se da situação em que se encontra na cadeia dividindo uma pequena cela com outros presos.
Lamentou somente não ter se formado em medicina porque se tivesse concluído o curso teria direito a uma cela especial pelo nível universitário. Para o promotor Norton Geraldo Rodrigues da Silva a conclusão da equipe de peritos afirmando que o estudante é normal não foi surpresa. "Eu sempre achei que Mateus não é louco e que merece ir a júri popular."
Silva denunciou Meira por três homicídios, dezenas de tentativas de homicídio e por ter premeditado o crime.
Os advogados de defesa poderão contestar o laudo e pedir ao juiz que Meira seja submetido a uma nova sessão de entrevistas por outra equipe de peritos.
Eles terão três dias para apresentar seus argumentos. Depois o juiz deverá marcar os depoimentos das testemunhas de defesa e de acusação. E por fim a data do júri. Se condenado, Mateus poderá pegar uma pena de 80 anos.

