O juiz da 1ª Vara Criminal de Londrina, Paulo César Roldão, agendou para o dia 18 de agosto, a partir das 9h, o júri do açougueiro Alan Borges, que confessou o assassinato da ex-esposa, Sandra Mara Curti, na zona leste de Londrina. O crime aconteceu em julho do ano passado na casa onde a vítima vivia com os dois filhos do casal. Servidora pública, ela levou 22 facadas, como mostrou o exame de necropsia do IML (Instituto Médico Legal).

Imagem ilustrativa da imagem Justiça marca júri de homem que matou ex-esposa a facadas em Londrina
| Foto: Rafael Machado/Grupo Folha

O magistrado determinou que o sorteio dos sete jurados que vão definir o futuro de Borges aconteça um pouco antes do julgamento, no dia 2 de julho. Na decisão desta segunda-feira (3), ele ressaltou que a entrada do público não será permitida por causa do risco de contágio da Covid-19. A sessão será transmitida pelo canal oficial do Tribunal de Justiça do Paraná no Youtube.

O acusado será julgado por três qualificadoras: recurso que dificultou a defesa, motivo fútil e meio cruel. Ele está preso preventivamente desde o dia que Sandra foi morta. Após esfaquear a ex-companheira, Borges foi detido pela Polícia Militar ainda na garagem da residência. No primeiro depoimento, o açougueiro admitiu que estava arrependido do que havia feito. Desde o começo do processo, a defesa dele afirmava que os golpes teriam sido desferidos após supostamente ter sido provocado por Sandra.

Em nota, os advogados Alexandre Aquino e Anna Patrícia Deliberador, que defendem o réu, "comemoraram a decisão que designou a sessão do Tribunal do Júri, pois o Alan está preso há nove meses. Os jurados poderão saber quem era a vítima e o que motivou ele a cometer essa tragédia. Juntamos no processo conversas e áudio de conversas da vítima com o acusado para que as pessoas conheçam o que aconteceu naquele dia fatídico".

O Néias Observatório de Feminicídios, criado para fiscalizar esse tipo de crime em Londrina, também se manifestou sobre o caso. Leia a nota enviada à reportagem:

"O feminicídio cometido contra Sandra Mara Curti foi um crime violento, motivado pelo pensamento do réu de que Sandra não tinha direito à vontade própria, como a decisão de uma separação. É importante que o caso vá agora a júri popular para que a sociedade e o Estado deem resposta justa aos familiares, amigas, amigos e comunidade da vítima. Esse julgamento tem potencial para promover a revitimização de Sandra, pois a defesa declarou à imprensa que “os jurados poderão saber quem era a vítima e o que motivou ele a cometer essa tragédia”, como se houvesse motivação justificável para um crime hediondo.

O Néias Observatório de Feminicídios Londrina irá acompanhar o caso e denunciar as formas de revitimização e outros vícios que ferem o direito da vítima. A máxima adotada por homens de que “se não for minha não será de mais ninguém” precisa ser combatida. O sentimento do homem de ter posse da mulher faz parte do histórico de um patriarcado que ainda está arraigado em nossa cultura, mas que nós mulheres recusamos. Queremos viver!

Julgamentos justos, com aplicação de penas adequadas, contribui para essa mudança cultural e a promoção de uma sociedade em que as mulheres sejam livres e iguais".