A artista plástica Vanda Pepiliasco, 67, terá que retornar à prisão para cumprir pena em regime fechado por um homicídio ocorrido em 1993, no centro de Londrina. A vítima, Cleonice de Fátima Rosa, trabalhava como empregada doméstica no apartamento da artista e tinha apenas 22 anos na época do assassinato, que ficou conhecido como o “crime da rua Goiás”. Passados 27 anos e quatro meses, a motivação ainda é um mistério.

Imagem ilustrativa da imagem Justiça determina que Vanda Pepiliasco volte para a prisão
| Foto: Gina Mardones-12/05/2015

Vanda Pepiliasco chegou a ser presa em 2016, mas foi solta após o TJPR (Tribunal de Justiça do Paraná) ter concedido um habeas corpus. Agora, com o indeferimento do último recurso possível, no STF (Supremo Tribunal Federal), o caso retorna à sua comarca de origem para o cumprimento da sentença, estipulada em oito anos e quatro meses de prisão.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa da artista plástica, cujo endereço mais recente apresentado à Justiça é de um imóvel em Cuiabá (MT). No entanto, um mandado de prisão já foi expedido pelo juiz Paulo César Roldão. A FOLHA entrou em contato com a VEP (Vara de Execuções Penais) para solicitar informações, mas sem sucesso até o fechamento desta reportagem.

Já a advogada da família de Cleonice de Fátima Rosa, Gabriela Silva, que atuou como assistente de acusação do Ministério Público após o falecimento do criminalista Mauro Viotto, em 2015, lembrou que os esforços aplicados ao longo do processo visavam este resultado. “A família e a assistência de acusação sempre trabalharam para chegar neste momento, logicamente sendo necessário sempre respeitar os trâmites legais”, disse à FOLHA.

A família de Cleonice de Fátima Rosa decidiu deixar Londrina após o cometimento do crime.

O CRIME

Cleonice de Fátima Rosa foi morta a facadas em julho de 1993. O corpo dela foi encontrado na escadaria de acesso ao apartamento por outra empregada da família de Vanda Pepiliasco, Luzia Colombo.

Em seu primeiro depoimento à polícia, três dias depois do crime, Colombo chegou a confessar a autoria do assassinato. No entanto, mais tarde, afirmou que teria confessado sob tortura policial. Além dela, o marido da artista plástica, Lauro Pepiliasco, também chegou a ser apontado como suspeito.

No entanto, o "Crime da Rua Goiás" também entraria para a história pelo protagonismo do exame de DNA em sua resolução. Conforme relatou diante do Tribunal do Júri, em maio de 2015, o promotor Ronaldo Braga, um exame realizado em um bulbo de cabelo encontrado nas mãos de vítima comprovou que o material possuía compatibilidade com o sangue de Vanda Pepiliasco.

"Prova importantíssima pois a coloca a Vanda na cena do crime. Foi uma prova contestada pela defesa, com a tese de negativa de autoria, mas os jurados acataram", lembrou à FOLHA o promotor Ronaldo Braga na tarde desta segunda-feira (30). Além dele, o promotor Ricardo Domingues também atuou no caso, porém a reportagem não conseguiu localizá-lo.

Condenada pelo Tribunal do Júri em uma audiência que se estendeu por cerca de 12 horas, Pepiliasco ainda viu sua pena ser alterada pela juíza Elizabeth Kather após pedido do MPPR (Ministério Público do Paraná), do regime semiaberto para o fechado.

Mais tarde, Pepiliasco obteve a liberdade provisória após um habeas corpus impetrado por sua defesa, entre outros recursos que impossibilitaram a sua prisão.

REPERCUSSÃO

Questionado sobre o que o caso representa para a Região Norte do Paraná levando em consideração o início do cumprimento da pena após 27 anos do cometimento do crime, o promotor Ronaldo Braga avaliou como "injusto" o desfecho desta história, "tanto para a família quanto para a sociedade", lamentou. Em seguida, lembrou que casos como este trazem consigo parte da história de Londrina e muito sobre como eram conduzidos processos em que famílias com grande poder econômico eram as principais envolvidas.

Para ele, o "Crime da Rua Goiás" pode ser comparado a casos como o assassinato da professora Estela Pacheco, cujo julgamento do seu algoz, Mauro Janene, só foi realizado após 17 anos graças a inúmeros recursos empregados por sua defesa. Outro crime relevante citado por ele foi o assassinato da jovem de 21 anos Fernanda Estruzani Panissa, morta em 1989 com 72 facadas no apartamento em que morava, na avenida São Paulo. O marido dela, Marcos Campinha Panissa, foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão. Em seguida, teve a pena reduzida e se tornou foragido da Justiça. O crime chegou a ser abordado no programa Linha Direta, sucesso de audiência na Rede Globo no início dos anos 2000.

"Em todas os casos o Poder Judiciário fez um descaso no julgamento e houve um trabalho ruim da polícia. Eles foram levados a julgamento depois de vários anos, o poder econômico da família dos acusados era enorme, o que comprova que o poder econômico influencia. Estes três processos contam a história do Poder Judiciário de Londrina e como era o tratamento das mulheres vítimas de crimes da década de 1990", lamentou.