O juiz da 3ª Vara Criminal de Londrina, Juliano Nanuncio, condenou por estelionato um jovem de 22 anos que se passou como representante do Hospital Evangélico para aplicar golpes em locadoras de veículos. A sentença é de dois anos e quatro meses em regime aberto, que acabou convertida em prestação de serviços comunitários pelo rapaz ser primário, ou seja, nunca havia sido preso anteriormente. A decisão saiu no final de agosto.

Baseado nas investigações da Delegacia de Estelionatos de Curitiba, o Ministério Público detalhou na denúncia como o esquema funcionava, inclusive citando a participação de mais gente. O jovem, que mora em Londrina, entrou em contato com uma locadora, se apresentou como gerente de frotas do hospital e alugou três carros, sendo dois Corollas e uma Ecosport. Após receber os automóveis, revendeu-os e embolsou cerca de R$ 210 mil com o desvio.

Imagem ilustrativa da imagem Justiça condena jovem que se passou como funcionário do Hospital Evangélico para aplicar golpes
| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

A fraude começou a ser descoberta em junho do ano passado, quando um dos carros alugados foi apreendido pela polícia transportando drogas em Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro. Avisada da ocorrência, a empresa ligou para o celular do rapaz que contratou o serviço, mas ele sequer respondeu o chamado. Os golpes não pararam por aí.

Em menos de um mês, o criminoso agiu da mesma forma. Ligou para outra locadora dizendo estar interessado em alugar quatro caminhões avaliados em R$ 4 milhões. Ele identificou-se como representante do setor de frotas do Hospital Evangélico e quase fechou o negócio. Isso só não aconteceu porque a empresa resolveu entrar em contato com a instituição de saúde para esclarecer detalhes do contrato prestes a ser firmado.

A locadora foi informada pela direção do Evangélico que o estelionatário não fazia parte do quadro de funcionários. Comunicada da farsa, a Polícia Civil organizou uma operação e prendeu quatro integrantes do grupo no momento em que os caminhões seriam entregues em um barracão na zona leste de Londrina. Um dos membros foi detido com uma pistola Glock calibre 380 e 20 munições. Foi condenado por porte irregular de arma de fogo de uso permitido na mesma sentença, mas responde ao processo em liberdade.

O londrinense envolvido admitiu participação no esquema e que se disfarçou de funcionário do hospital. Ele ficou preso preventivamente quase um ano, mas foi solto neste ano pela Justiça para uso de tornozeleira eletrônica. Agora condenado, terá que cumprir algumas medidas judiciais, como ficar em casa após às 23h, incluindo finais de semana e feriados. A FOLHA procurou a defesa, mas não obteve retorno.

Insatisfação

O Ministério Público não se contentou com a decisão de primeira instância e entrou com recurso no Tribunal de Justiça. A promotora Cláudia Piovezan disse que o rapaz, "apesar de sua pouca idade, é criminoso habitual. Ele é investigado em mais duas ações por estelionato que envolvem grandes quantias. Não bastasse, também foi recentemente denunciado em outro processo, somando três com apenas 22 anos".

A promotora solicitou ao TJ que o acusado ressarça as empresas pelos valores desviados. Apesar dos caminhões de uma das locadoras não terem sido entregues, o proprietário disse que teve um prejuízo de R$ 25 mil em gastos com deslocamento e preparação dos veículos. O pedido ainda não foi analisado pelos desembargadores.

Prejuízo institucional

Em entrevista à FOLHA, o diretor executivo da Associação Evangélica Beneficente de Londrina (AEBEL), que administra o hospital, Lincoln Magalhães, frisou que os sistemas de controle que vêm sendo implantados permitiram que a unidade não fosse ainda mais prejudicada pelos golpistas. "Temos processos rigorosos de análise de todos os documentos que circulam pela entidade. Essa proteção fez com que os criminosos fossem identificados e a Polícia Civil pudesse agir com rapidez para detê-los", observou.

Apesar de não ter sido alvo da quadrilha no aspecto financeiro, Magalhães lembrou os danos que o Evangélico teve na sua imagem diante da sociedade. "Fomos danificados nesse sentido. É claro que isso gera problemas com fornecedores até tudo ser explicado. Não concordamos com a sentença e pretendemos recorrer", completou.