Jungmann desafia MST
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sexta-feira, 20 de outubro de 2000
Chico Araújo Agência Estado De Brasília
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, desafiou ontem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a abrir sua caixa-preta, para esclarecer as suspeitas de desvios de créditos da reforma agrária. Auditorias do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Secretaria Federal de Controle constataram que o MST estaria cobrando, por meio de suas cooperativas, pedágios de 3% a 11% de recursos repassados aos assentados. Ao lançar o desafio, Jungmann lembrou que ele e todos seus auxiliares já abriram mão de seu sigilo.
Jungmann lançou o desafio em resposta às ameaças do líder do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, de que o movimento fará, nos próximos dias, uma série de manifestações contra o governo federal por causa das denúncias de desvios de recursos. O MST precisa explicar a origem de seu dinheiro, cobrou, mas nega que as auditorias tenham a finalizar de criminalizar o MST.
Sobre as ameaças de Amorim, Jungmann reconhece o direito à livre manifestação, mas avisou: Não vamos tolerar qualquer ameaça à ordem pública. Ele acrescentou, também, que o governo está cumprindo os pontos acordados com o movimento, entre eles o de assentar este ano 150 mil famílias - 58,3 mil já assentados. O governo também liberou R$ 14 milhões para o programa de alfabetização de 51 mil jovens e adultos, e R$ 1 milhão para criação da FarmáciaVerde, reinvindicados pelo MST.
Ontem, Jungmann anunciou a liberação de R$ 51 milhões para custeio do grupo C do Pronaf, a prorrogação do prazo da renegociação das dívidas dos agricultores até 29 de dezembro e o crédito adicional de R$ 2 mil para 110 mil famílias egressas da reforma agrária. Segundo o governo, o crédito, com rebate de R$ 200,00, juros de 4% ao ano mais bônus que reduz a taxa à metade, estará disponível nos bancos a partir da próxima semana.
As dívidas dos agricultores contratadas entre 1995 e 1997 serão renegociadas com juros de 3% ao ano e bônus de 30% das parcelas a vencer, beneficiando 95 mil famílias, com R$ 470 milhões. Também serão renegociadas as dívidas dos agricultores prejudicados por secas ocorridas nas safras 1998/1999 e 1999/2000, totalizando R$ 160 milhões.
Mesmo com o anúncio, a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) manterá as manifestações da próxima semana, que incluem o bloqueio de estradas e ocupação de bancos. Para o presidente da entidade, Manoel dos Santos, as medidas anunciadas por Jungmann são periféricas e não atendem aos trabalhadores. A Contag quer do governo a liberação imediata de R$ 1,2 bilhão. Em maio, o governo anunciou a liberação de R$ 4,2 bilhões, mas segundo a Contag só foram disponibilizados até agora R$ 2,8 bilhões, 31% a menos que o anunciado. Jungmann convidou a Contag para um reunião na segunda-feira.