São Paulo, 18 (AE) - O juiz João Carlos Sá Moreira de Oliveira, da 5.ª Vara do Júri de Pinheiros, deverá manifestar-se amanhã (19) se concorda ou não com a denúncia formulada hoje pelos promotores Eliana Passarelli, Maria Amélia Nardi Pereira e Carlos Roberto Marangoni Talarico, acusando o advogado Jorge Delmanto Bouchabki, o Jorginho, como o responsável pela morte dos pais, a professora Maria Cecília Delmanto Bouchabki e o advogado Jorge Toufic Bouchabki. É a segunda vez que Jorginho é denunciado pelo mesmo crime, ocorrido na madrugada de 23 de dezembro de 1988, na casa da Rua Cuba, 109, no Jardim Paulista, onde morava com os pais e dois irmãos.
Jorginho tinha 18 anos. A primeira denúncia não foi aceita pela Justiça e o rapaz acabou sendo impronunciado. Na sentença, o juiz Lineu Rodrigues de Carvalho Sobrinho não acatou o pedido do promotor da época, o atual procurador-geral de Justiça, Luiz Antônio Guimarães Marrey, pois não encontrou no processo provas contra o acusado.
Carvalho Sobrinho, que está atualmente na 2.ª Câmara do Tribunal de Justiça, na seção de Direito Privado, disse hoje que se recebesse o inquérito com as mesmas informações da época voltaria a aplicar a mesma sentença.
Fatos - Dez anos depois, o Ministério Público reabriu as investigações e concluiu que existem fatos novos para incriminar Jorginho. A denúncia tem um relato das apurações com declarações de pessoas que conviveram com os Bouchabki: ex-empregados, seguranças, a ex-namorada do acusado e parentes dela.
As investigações foram realizadas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que trabalhou em sigilo. A denúncia, redigida pelos promotores na segunda-feira, foi protocolada hoje de manhã no Tribunal do Júri de Pinheiros. O juiz Moreira de Oliveira passou o dia analisando o processo com muitos volumes e as 210 páginas com as novas provas obtifdas pela polícia e pelo Ministério Público.
Os promotores acreditam que o juiz receberá a denúncia, reabrindo de vez o caso. Os policiais do DHPP continuam afirmando que estão proibidos de falar sobre as apurações. Os promotores vão pronunciar-se somente depois da decisão do juiz. O delegado Luiz Carlos Ferreira Sato foi o responsável pelos depoimentos e pelas investigações.
Ele ouviu as ex-empregadas Olinda Oliveira e Maria Lima Bezerra. A primeira deu detalhes desconhecidos pela polícia e pelo Ministério Público do relacionamento entre mãe e filho. Ela contou que Maria Cecília era contra o namoro do rapaz com Flávia Cardoso Soares, que tinha 16 anos. Dizia que a garota atrapalhava os estudos dele no cursinho e deu prazo até o Natal para acabar com o namoro. Também não concordou com a vontade de Jorginho, que pretendia dormir na casa da namorada.
Segundo a empregada, durante a discussão, a professora teria golpeado as costas do filho com um taco de bilhar, que se partiu. Jorginho teria ameaçado a mãe depois da agressão, dizendo que jamais deixaria Flávia e que ela se arrependeria.
Foram também ouvidos dois seguranças que trabalhavam na Rua Cuba na época. Seus depoimentos estão sendo considerados importantes pelo Ministério Público. Eles teriam feito também novas revelações.
A polícia ouviu Flávia, que antes de o encerramento do processo rompeu o namoro com Jorginho. Ela falou do relacionamento com o ex-namorado e detalhou o comportamento do rapaz no dia em que os corpos foram encontrados.
Naquela manhã, véspera de Natal, Jorginho chegou às 7 horas em sua casa e queria ir ao shopping, ao Instituto Butantã, e à chácara da mãe de Flávia. Mas ficaram na casa dela ouvindo música. Às 10 horas, telefonou e soube que os pais ainda dormiam. Ao meio-dia, voltou a ligar e soube do encontro dos corpos.