A cada dois meses são realizadas reuniões do “Fórum Permanente de Diálogo Inter-religioso” na sede da AML (Associação Médica de Londrina), que reúne 33 entidades, das quais 29 são representantes religiosos. Nessas reuniões é possível ver judeus e muçulmanos lado a lado, dialogando em harmonia. O presidente da Sociedade Islâmica de Londrina, Násser Haissam Násser, destaca que o Brasil é um caso único no mundo de tolerância religiosa. “Aqui há uma mistura de culturas de religiões e que é de importância significativa. Nós, da comunidade muçulmana de Londrina, temos liberdade de fazer nossos cultos e apresentar a nossa crença sem nenhum problema. Eu sou muçulmano desde o meu nascimento, e tive formação cristã no Colégio Londrinense para adquirir conhecimento”, destaca. Segundo ele, os ataques de fundamentalistas contra pessoas de outras religiões não refletem a religião islâmica. “São atos individuais que são contrários aos islâmicos, só que infelizmente uma minoria faz todo aquele barulho e a maioria acha que o islamismo é aquilo lá, mas realmente não é. A comunidade islâmica internacional é contrária a tudo aquilo”, declara.

Para o presidente da Sociedade Islâmica de Londrina, Násser Haissam Násser, o Brasil é um caso único no mundo de tolerância religiosa
Para o presidente da Sociedade Islâmica de Londrina, Násser Haissam Násser, o Brasil é um caso único no mundo de tolerância religiosa | Foto: Vítor Ogawa/Grupo Folha

“Para nós, muçulmanos, Jesus Cristo é um grande profeta. Alá o agraciou com a palavra divina e para nós Jesus possui uma grande importância no islamismo”, destaca. Ele relata uma passagem em que os coraixitas, que eram os integrantes da tribo árabe dominante na cidade de Meca durante o surgimento do islamismo, buscaram refúgio com um rei cristão.

O presidente da CIL (Congregação Israelita de Londrina), Charton Baggio Scheneider, afirma que hoje vê bem menos intolerância. “Todas as pessoas precisam entender que, muito mais do que simplesmente se apegar a dogmas religiosos, precisam se tornar uma pessoa melhor, independentemente de serem judeus, cristãos, muçulmanos, budistas ou de qualquer outra religião”, aponta. O judaísmo se apega à ética, à justiça e à moral. “Você não é inferior a mim por seguir outra religião que não seja o judaísmo. Toda a humanidade foi criada à imagem e semelhança do Criador, então não tem porque criar divisões por causa de uma religião ou denominações dentro de correntes religiosas”, destaca.

Ele afirma que dentro do próprio judaísmo existem várias correntes e todas elas nos separam quando são olhadas para os dogmas, mas quando é vista a essência, promover a justiça é se preocupar com o outro. “Ninguém precisa ser judeu para ser salvo. Muitas pessoas que não seguem o judaísmo são pessoas éticas, boas. Aqui em Londrina a gente participa de um grupo de diálogo inter-religioso no qual trocamos conhecimento e conhecemos a religião do outro, mas não em cima de dogma. O dogma é um grande separador de pessoas. Nos integramos independentemente de nossa crença religiosa, de nossa raça, ou corrente política”. “Infelizmente a religião como um todo é falha, porque em vez de unir, ela separa. A própria religião é segregadora. Onde está isso nas escrituras de todas as religiões? Não existe. O que importa é o que nós fazemos para tornar esse mundo melhor”, destaca.