Poucas horas depois de a Prefeitura de Londrina divulgar o boletim em que foram registradas 16 mortes por Covid-19 na sexta-feira (23), igualando o recorde do dia 7 de abril, centenas de jovens foram às ruas para frequentar bares espalhados pela cidade. Parecia que a palavra de ordem era se aglomerar, ignorando o fato de que 142 pessoas estavam internadas na UTI e 121 na enfermaria, sem contar a fila de espera divulgada pelo HU (Hospital Universitário) de 52 pacientes aguardando uma vaga na UTI voltada ao público adulto.

E essas aglomerações não ocorreram isoladamente. Elas estavam espalhadas por bares nas ruas Paranaguá e Quintino Bocaiúva, nas avenidas Higienópolis e Harry Prochet, no Jardim Botânico de Londrina, no Zerão, entre outros espaços da cidade. Na rua Paranaguá, a aglomeração ocorreu mesmo após o horário de fechamento dos estabelecimentos determinado por decreto municipal, 23h, indicando que a população insiste em continuar em um dos pontos de encontro da noite londrinense. Neste sábado (24), os mesmos locais seguem com bastantes clientes no interior dos bares e nas calçadas.

Decreto em Londrina permite funcionamento de bares até as 23 horas; a foto foi tirada após esse horário, na rua Paranaguá, mesmo após o fechamento dos estabelecimentos
Decreto em Londrina permite funcionamento de bares até as 23 horas; a foto foi tirada após esse horário, na rua Paranaguá, mesmo após o fechamento dos estabelecimentos | Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Para tentar coibir essas aglomerações, a Polícia Militar e a Guarda Municipal realizaram na sexta-feira (23) uma operação no Jardim Botânico de Londrina, zona sul, na avenida dos Expedicionários. Na fiscalização foram abordados 26 veículos, 11 motocicletas e 48 pessoas. Um dos automóveis foi apreendido. Também foram lavrados três autos de infração. A fiscalização não encontrou drogas ou outras substâncias ilícitas e ninguém foi preso ou autuado.

A aglomeração também foi constatada no Zerão (área central) para onde as equipes de fiscalização foram já na madrugada de sábado (24). Com a aproximação da fiscalização, muitos conseguiram sair antes da abordagem. Vinte pessoas permaneceram e foram orientadas a deixarem o espaço.

Uma semana antes, a secretaria municipal de Defesa Social havia divulgado que foram registradas 74 denúncias na central da GM (Guarda Municipal) somente naquele fim de semana, das quais 65 acabaram sendo atendidas pela própria Guarda. Outras nove denúncias foram encaminhadas aos demais órgãos fiscalizadores.

SUPERINTENDENTE DO HU PEDE RIGOR NA FISCALIZAÇÃO

A superintendente do HU de Londrina, Vivian Feijó, elogiou a ação de fiscalização. Ela afirmou que enviou várias sugestões pelo comitê de crise como medidas de plano de contingência. “Já envidamos esforços nas medidas de orientação para prevenção e esclarecimento quanto às condições, mas ainda temos observado um aumento crescente na contaminação de adultos jovens”, declarou.

“Penso que as medidas de fiscalização e exigência do plano de contingência dos serviços para funcionamento deveriam ser apresentadas à Vigilância Sanitária e fiscalizadas pelas autoridades. A cidade é grande e não dá para estar em todos os locais, mas penso que devem ser priorizados locais já sabidos de grandes encontros”, afirmou. “Sou a favor do funcionamento do comércio, mas desde que se cumpram as medidas sanitárias, com dimensionamento do espaço, distanciamento social e medidas sanitárias implantadas.”

Feijó disse que o estabelecimento deve ser punido quando descumprir as normas, porque isso aumenta em demasia o potencial de contaminação. Questionada sobre como agir no caso do estabelecimento que cumpre as medidas legais de distanciamento e prevenção, mas que no seu exterior, nas calçadas, as pessoas continuam se aglomerando, ela lamentou que esse tipo de atitude continue. “Isso é insuficiência na conscientização individual e pouco comprometimento com a própria vida e da família. Por isso não vejo outra saída a não ser intensificar a fiscalização, em especial em áreas que já são notórias em aglomerações”, apontou.

ABRABAR LAMENTA

O presidente da Abrabar (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas), Fabio Aguayo, afirmou que a situação é muito complicada. “Nas principais cidades têm pontos de aglomeração externa. E é aí que temos que fazer novamente trabalho de conscientização, pois em um ano as pessoas não se conscientizaram. Alguns podem dizer que o fator gerador é o bar e o restaurante, mas às vezes, dentro dos estabelecimentos, eles estão vazios e o povo fica concentrado lá fora."

"Nossa intenção com a categoria é esclarecer. Estou preparando uma cartilha agora e puxando todas as principais cidades do estado para ter orientação conjunta, pois cada município tem sua autonomia, sua regra de como será o seu decreto. Nós temos que fazer algo para mostrar para o cidadão, principalmente para nossos clientes, que temos que seguir algumas regras. Para os clientes e estabelecimentos que não querem nada com nada temos que fazer valer a força da lei: interditar e fechar. Mas os que estão fazendo corretamente não podem ser penalizados pelo erro de poucos”, disse.

A reportagem tentou entrar em contato com o Secretário Municipal de Saúde, Felippe Machado, mas ele não atendeu a ligação e nem respondeu as mensagens por WhatsApp.

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