A cena de uma mãe segurando a filha já morta às margens da BR-369, na Vila Marízia, que chocou motoristas e pedestres no início da manhã de 12 de fevereiro de 2018, foi explicada pelo Ministério Público mais de dois anos depois. Segundo a denúncia apresentada pelo promotor Tiago de Oliveira Gerardi, Natália Larissa Fernandes, na época com 20 anos, foi empurrada pelo padrasto duas semanas antes de morrer. A queda, de acordo com o Ministério Público, provocou lesões em duas vértebras cervicais.

Imagem ilustrativa da imagem Jovem morreu na BR-369 porque foi empurrada pelo padrasto, diz MP
| Foto: Arquivo FOLHA

Procurado para comentar a acusação, aceita em março pelo juiz da 1ª Vara Criminal, Paulo César Roldão, Gerardi não quis dar entrevista. Porém, por meio da assessoria de imprensa do MP, ele disse ter se baseado no laudo de necropsia emitido pelo Instituto Médico Legal. Em abril de 2018, o legista João Nelsi Kukenczuk que Natália morreu em decorrência de um traumatismo raquimedular, ferimento da medula espinhal que provoca alterações na mobilidade.

O relatório do local de morte elaborado pelos investigadores da Delegacia de Homicídios informa que a jovem passou mal e chegou a ser amparada por moradores e a mãe, Eliane Fernandes, mas havia falecido quando os socorristas do Siate chegaram. No inquérito finalizado em setembro do ano passado, o delegado João Batista dos Reis não conseguiu comprovar se as lesões em Natália teriam sido provocadas por acidente ou por outras pessoas.

Em depoimento, Eliane disse que sua filha teria morrido porque o esposo a teria empurrado por conta de um furto de televisão. Segundo ela, o aparelho seria trocado por drogas. O homem apontado pela então companheira como responsável pelo homicídio contou outra históra. Ele negou ter agredido a enteada e assegurou que ela tinha dívida com traficantes. A avó da vítima confirmou o vício e os débitos com chefões do tráfico, mas a idosa não mencionou nomes.

Também convocado para esclarecer os fatos, o filho do acusado criticou a suspeita que paira sobre o seu pai. Durante a oitiva, garantiu que registrou um boletim de ocorrência do furto da TV na delegacia. O Ministério Público sustenta que Natália teria sido empurrada no dia 28 de janeiro pelo padrasto na casa onde morava com a mãe, na rua Gabriel Tânios Iasbik, no Vale Verde, zona leste da cidade. O promotor Tiago Gerardi denunciou o idoso de 66 anos por homicídio duplamente qualificado, com as qualificadoras de motivo fútil e pelo crime cometido com recurso que dificultou a defesa da vítima.

O MP convocou a mãe da moça e o irmão dela por parte de pai para as audiências, agendadas pela Justiça para o dia 2 de setembro, a partir das 16h. A defesa do padrasto de Natália foi procurada pela FOLHA, mas não atendeu as ligações. Nomeada como defensora no caso pelo Estado do Paraná, a advogada Ana Paula Silveira Lêdo disse que "não há justa causa para a existência da presente ação penal". O homem não chegou a ser preso e responde o processo em liberdade.