SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O estudante Rogério Ferreira da Silva Júnior morreu no dia em que completou 19 anos após ser ferido por um tiro, disparado por um policial militar durante uma abordagem, na tarde deste domingo (9), na região de Sacomã (zona sul de São Paulo). Dois PMs foram afastados das ruas enquanto o caso é investigado.

Um amigo do estudante afirmou, em condição de anonimato, que ele comemorava o aniversário com familiares e amigos, quando lhe pediu a moto emprestada para dar uma volta. Sem capacete, Silva Júnior subiu na Honda CG 160 Fan e circulou pelo bairro, por cerca de dez minutos. "Ele voltou para buscar uma blusa de frio e se encontrou comigo. Aí ele saiu de novo [com a moto] e aconteceu [a abordagem]", relembra o amigo.

Uma câmera de monitoramento mostra o momento em que o estudante para a moto, perto de uma calçada na avenida dos Pedrosos e cai, quando dois PMs da Rocam (ronda com motociclestas) se aproximam dele.

Em depoimento, os policiais afirmaram que, neste momento, o suspeito teria feito menção de estar armado e, por isso, um dos policiais atirou uma única vez.

Em seguida, os agentes acionaram o socorro médico. Antes da chegada da ambulância, porém, um morador da região colocou Silva Júnior em um carro e o levou até o pronto-socorro Augusto Gomes de Matos, onde o estudante morreu.

De acordo com o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) foram encontradas duas perfurações no corpo do estudante, uma na axila esquerda e outra no lado direito das costas. O caso foi registrado como homicídio simples, resistência e desobediência.

SONHO DE SER PAI

Um amigo de infância de Silva Júnior afirmou, pedindo que sua identidade não fosse informada, que o maior sonho do estudante era se tornar pai. "Ele era um cara muito tranquilo. Seu maior sonho era ter um filho, constituir uma família, este tipo de coisa simples", afirmou.

A reportagem apurou que Silva Júnior não tinha antecedentes criminais. Segundo o amigo, o estudante trabalhava como ajudante, carregando caminhões em uma transportadora. "Meu amigo era um cara nota mil. Nunca tinha ido para a delegacia. Não entendemos até agora o que que aconteceu. O policial atirou no meu amigo sem motivo nenhum."

O estudante será sepultado na tarde desta segunda-feira (10), no cemitério São Luís (zona sul).

LETALIDADE DA PM-SP

Dados da SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública) mostram que nunca policiais militares, em serviço, mataram tanto no estado de São Paulo como no primeiro semestre deste ano. Entre janeiro e junho, 435 pessoas morreram pelas mãos de PMs. Este é o maior registro, desde 2001, quando teve início a série histórica. Em 2019, foram 358 mortes em supostos confrontos com policiais militares em serviço.

Os homicídios também são os crimes que mais mantém PMs atrás das grades, no presídio militar Romão Gomes, na zona norte da capital paulista. Até maio deste ano, 81 agentes estavam presos em decorrência de assassinatos, sendo 45 condenados e 36 aguardando julgamento.

OUTRO LADO

A SSP, gestão João Doria (PSDB), afirmou que "todas as circunstâncias" sobre a morte do estudante são apuradas pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e também por meio de um IPM (Inquérito Policial Militar), instaurado pela PM.

"Os policiais envolvidos na ocorrência estão sendo ouvidos pelo Plantão de Polícia Judiciária Militar e foram afastados do policiamento operacional. Policiais do DHPP estão ouvindo testemunhas e familiares do rapaz. A Corregedoria da PM também foi acionada e acompanha as investigações", informa trecho de nota.

Em depoimento à Polícia Civil, os dois policiais militares envolvidos no caso disseram que Júnior fugiu em alta velocidade, ao ser abordado pelos PMs. Sobre o tiro, os policiais acrescentaram que o jovem teria feito menção de estar armado. Nenhuma arma, porém, foi encontrada com o rapaz. As imagens da câmera de monitoramento mostram o estudante circulando em baixa velocidade com a moto emprestada.

A Ouvidoria das polícias também instaurou um procedimento para acompanhar as investigações do caso.