Os Jogos Indígenas terminaram neste domingo (4) em Londrina, no Aterro do Igapó, onde a tradição dos povos originários marcou presença ao lado do concreto verticalizado da Gleba Palhano no fim de semana. Dezenas de indígenas das etnias caingangue e guarani participaram da primeira edição do evento, que começou no sábado (3) e atraiu o público da cidade e região.

A programação contemplou 10 modalidades que, disputadas por homens e mulheres, foram do arco e flecha até a corrida de tora.

Indígenas mostraram a força da sua cultura nas roupas e ornamentos
Indígenas mostraram a força da sua cultura nas roupas e ornamentos | Foto: Célia Musilli

Uma das primeiras a conquistar o pódio, Evelyn Paola Lourenço, de 21 anos, saiu da Terra Indígena Laranjinha, em Santa Amélia, para, ao lado das demais companheiras de equipe, levar o ouro na corrida de maracá – uma espécie de revezamento praticado em tiros curtos.

Evelyn Paola Lourenço, da Terra Indígena Laranjinha, levou medalha de ouro na corrida de maracá
Evelyn Paola Lourenço, da Terra Indígena Laranjinha, levou medalha de ouro na corrida de maracá | Foto: Lucas Marcondes

Embora torneios indígenas não sejam exatamente uma novidade para a jovem guarani ñandeva, é a primeira vez que ela vem para um evento como esse em um centro urbano. “É algo muito importante para a comunidade. Outras pessoas estão vendo de fora, conhecendo os povos indígenas, sua cultura, tradição, crenças. Do mesmo jeito que a gente é lá dentro, a gente traz para a cidade”, contou Lourenço, que também pratica futebol desde os oito anos na escolinha da comunidade do Norte Pioneiro.

Para o vice-cacique da Laranjinha, Valdecir Mendes Rodrigues, a iniciativa é uma oportunidade para que, assim como no maracá, seja feita uma passagem de bastão – mas de uma geração para outra. “A gente procura, através desses jogos, trazer a juventude, as crianças [da terra indígena]. A gente briga, no bom sentido, para nossa educação evoluir dentro das nossas comunidades, para que não percam a cultura, sua língua materna.”

Indígenas na corrida  de maracá: uma tradição que passa de geração em geração
Indígenas na corrida de maracá: uma tradição que passa de geração em geração | Foto: Lucas Marcondes

NOVAS EDIÇÕES

Os Jogos Indígenas em Londrina tiveram R$ 40 mil oriundos do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). “Mais do que o recurso, é a articulação”, apontou o secretário municipal de Cultura, Bernardo Pellegrini. A ação deste fim de semana também teve as mãos do Vãre – Centro de Referência, Memória e Cultura Indígena Kaingang e da produtora cultural PÁ! Artística, além de contar com o apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Mulheres caingangues e  guaranis competindo nas lutas corporais
Mulheres caingangues e guaranis competindo nas lutas corporais | Foto: Felipe Barbosa/ Futurapress/ Folhapress

Agora, a expectativa é de que o evento seja replicado em mais cidades do Paraná, abarcando outras comunidades originárias do estado. “Esse projeto está consolidado, vai virar anual, porque vai ter recursos do governo do estado, do governo federal. Isso tem que ser um processo de formação e dignificação o ano inteiro para quando, chegar na festa, ser só um arremate. A ideia de cultura brasileira foi esgarçada, e a gente tem que retomar isso”, disse Pellegrini.

O projeto dos Jogos Indígenas conta com o patrocínio da Secretaria Municipal da Cultura por meio do PROMIC – Programa Municipal de Incentivo à Cultura de Londrina, da Companhia Paranaense de Energia – COPEL e Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR e apoio da Secretaria Estadual da Mulher e Igualdade Racial por meio da Diretoria de Igualdade Racial, Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais e Secretaria do Esporte.