"Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil". Esse foi o tema escolhido para a redação do Enem 2021. A informação foi divulgada no Twitter do ministro da Educação, Milton Ribeiro, às 13h50 deste domingo (21). Os portões dos locais de prova foram fechados às 13h30 e os candidatos têm até as 19 horas para redigir o texto e responder as 90 questões das provas de linguagens e ciências humanas.

Imagem ilustrativa da imagem “Invisibilidade e registro civil” é tema da redação do Enem 2021

Na avaliação do professor Nilson Douglas Castilho, que atua como coordenador de ensino médio do Colégio Marista de Londrina, o tema "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil" está dentro do esperado para esta edição do Enem. “A gente já não esperava que fosse ser abordado nenhum tema polêmico que acirrasse ainda mais a polarização política que existe no país”, afirma.

Castilho acredita que a maioria dos candidatos não terão dificuldade para redigir o texto com o tema proposto. “Pode até haver uma dificuldade de vocabulário para quem não tem repertório de leitura. Já candidato que fizer uma associação entre a importância da documentação para que o cidadão saia do estado de indigência social a possa ser ter acesso a programas sociais poderá desenvolver uma série de argumentos na redação”, ressalta.

O docente destaca ainda que para produzir um bom texto dentro da temática determinada pelo Enem os estudantes devem fugir de algumas ciladas. “Na conclusão do texto, os candidatos não devem sugerir a criação de leis para que os cidadãos tenham acesso à documentação, pois já existe uma legislação que determina que a emissão do registro de nascimento é obrigatória. O que devem ser sugeridas são estratégias para que essa lei seja efetivada”, conclui.

Londrinenses comentam sobre seus desempenhos na prova

O estudante londrinense Luiz Eduardo Stadler achou que o tema da redação seria sobre algo mais atual. “Poderiam ter escolhido algum assunto mais importante e recente, como a pandemia, por exemplo”, enfatizou ao comentar que também achou a prova de Português difícil. “Os textos eram longos e complexos. Por isso, acabaram cansando a gente”, disse o candidato que pretende aproveitar as notas do Enem para cursar Direito. A candidata Eduarda Wagner também achou difícil o tema da redação e as questões da prova de Português. “Achei que seria mais fácil. Mas ainda assim estou confiante. Acredito que vou conseguir uma boa nota para poder fazer o curso de Educação Física”, salientou. Já a estudante Isabelly Catuani relatou que os textos de apoio da prova a ajudaram bastante na hora de escrever a redação. “No geral, achei que a prova teve um nível médio de dificuldade. Pretendo cursar Medicina e estou esperançosa para a segunda fase do Enem”, comentou.

Luiz Eduardo Stadler: "Poderiam ter escolhido algum assunto mais importante e recente".
Luiz Eduardo Stadler: "Poderiam ter escolhido algum assunto mais importante e recente". | Foto: Marcos Roman

Tema da redação foi elogiado por educadores

O tema da redação deste ano foi elogiado por educadores. Para eles, é positivo que, mesmo com as denúncias de interferência, a prova mantenha o padrão de abordar questões sobre direitos humanos.

Thiago Braga, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH, diz ser satisfatório que a redação proponha esse tipo de discussão. "É um tema bastante pertinente já que muitas pessoas no país ainda não conseguem ter acesso a registro civil, um direito tão básico, mas que não é garantido a todos. É uma excelente discussão para ser proposta à juventude do Brasil”.

A prova acontece em meio a uma crise histórica no Inep, órgão responsável pelo Enem, após denúncia de falhas e de interferências no conteúdo do exame. Nos últimos dias, o instituto sofreu uma debandada de servidores, com 37 pedidos de demissão de pessoas que ocupavam postos-chave.

Os servidores denunciam que teriam sofrido assédio moral para suprimir perguntas com temas considerados inadequados pela gestão do órgão.

Como a Folha de S. Paulo mostrou, o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que houvesse questões que tratassem o Golpe Militar de 1964 como uma revolução.

Além das denúncias de interferência ideológica, os documentos mostram uma série de falhas da gestão do órgão para garantir a segurança da prova. O TCU abriu processo para investigar as supostas irregularidades na organização do Enem. A DPU (Defensoria Pública da União) também entrou com ação na Justiça Federal solicitando que o Inep comprove ter tomado todas as providências para que a prova ocorra sem vazamentos ou fraudes.

A crise deflagrada no Inep também levou entidades educacionais a entrarem com ação judicial pedindo o afastamento de Danilo Dupas da presidência do Inep.

O Enem deste ano recebeu o menor número de inscrições dos últimos 14 anos. A prova, que já teve mais de 8,7 milhões de inscritos, teve em 2021 apenas 3,1 milhões. É também a edição com a menor proporção de inscritos pretos, pardos e indígenas dos últimos dez anos. (Com Folhapress)