São Paulo, 12 (AE) - A queda das ações de tecnologia do Nasdaq, o mercado eletrônico americano, só deverá afetar a economia brasileira significativamente se persistir e for bem mais forte, e daí provocar problemas no sistema financeiro dos Estados Unidos, como aconteceu em 1998 com o fundo de investimentos Long Term Capital Management (LTCM). Neste caso, lembram economistas de bancos estrangeiros no Brasil, haveria uma aversão ao risco que afugentaria investidores dos mercados emergentes e reduziria o fluxo de dólares para o Brasil, o que, por sua vez, tenderia a fazer os juros domésticos subir, inibindo a expansão da economia.
Dias desagradáveis - "Os próximos dias não serão nada agradáveis se a queda continuar tão forte e contaminar a Bolsa de Nova York", antecipou Fernando Ferreira, tesoureiro da Placas do Paraná, empresa do grupo Louis Dreifuss. "Estamos parando de conviver pacificamente com o processo de ajuste irracional da alta irracional do Nasdaq, com o câmbio e a bolsa sofrendo pressões muito fortes."
Se a erosão da riqueza americana fundamentada no Nasdaq se limitar a pôr um freio na superconfiança do consumidor será até salutar; até poderia evitar que o Federal Reserve, o Fed - banco central dos EUA - continuasse a elevar a taxa básica de juros. Também poderia realocar aplicações para os mercados emergentes, por parte dos investidores que têm apetite pelo risco e vinham preferindo o Nasdaq, pois, afinal, ele não inclui o risco cambial de uma Bovespa, observou o economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall.
"Mas o pior cenário seria uma crise financeira como a do LTCM e a aversão ao risco, que pressionasse o câmbio e induzisse a uma mudança na política de juros, comprometendo a recuperação", sublinhou Kawall, frisando, contudo, que esse não é um cenário contemplado pelo Citi.
O problema com os juros, explicou Ricardo Amorim, economista-sênior do BankBoston, não se refere à taxa básica do Banco Central, recém-reduzida de 19% para 18,5% ao ano. A questão reside no juro das transações entre os bancos, que vinham em queda no médio e longo prazos, pois se antevia a possibilidade de as taxas caírem para o fim do ano - queda interrompida pelo torvelinho do Nasdaq.
Incerteza e risco - "A queda continuada do Nasdaq gerou incerteza, aumentando o risco e, com o aumento do risco e da incerteza, os juros sobem, o que pode resultar em aumento da inadimplência e, daí, em redução da oferta de crédito pelos bancos", explicou Amorim.
O corolário será uma expansão menor da atividade econômica, sem que isso signifique uma recessão. "Seria preciso uma queda desastrosa, algo como uns 10%, dias seguidos, o que implicaria forte desvalorização do real, obrigando o BC a subir os juros", assinalou o economista do Boston, para quem o mais provável, no limite, seria uma desaceleração do crescimento, com a economia crescendo não os 3,5% que os economistas do banco esperam para este ano, mas pouco mais de 1%.
De toda forma, tanto Amorim quanto Kawall ressaltaram que a posição do País, hoje, é mais confortável do que nas crises anteriores. "A situação fiscal é mais sólida e o câmbio flutuante absorve os choques, sem que haja pressão sobre as reservas e a necessidade de forte alta dos juros para preservar o valor da moeda", lembrou Kawall.