Inscritos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foram surpreendidos em Londrina pelos organizadores e fiscais neste primeiro dia de provas. Vários estudantes relataram que foram retirados das salas de aula sob a justificativa de que havia mais participantes do que o permitido em razão da pandemia do novo coronavírus.

Imagem ilustrativa da imagem Inscritos no Enem são retirados de salas por excesso de participantes
| Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress

O protocolo de segurança divulgado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) estabelecia que as salas de aula deveriam ter ocupação máxima de até 50% da capacidade total para que os inscritos mantivessem o distanciamento social. No entanto, conforme relatos, a porcentagem não foi respeitada pelos organizadores. Aos inscritos, fiscais disseram que só haviam sido informados da porcentagem de ocupação na noite anterior ao Enem.

Embora tivessem seguido as informações sobre os locais de prova e chegado antes do fechamento dos portões, alguns estudantes inscritos foram orientados apenas a voltar para a casa.

Reginaldo Souza, pai de uma estudante, contou que teve que retornar às pressas ao local de prova após uma ligação da filha que acabava de ser retirada da sala em que faria o exame. Ela afirmou que, ao chegar por volta das 12h25, um fiscal esteve na sala de aula, constatou a lotação acima da porcentagem permitida e perguntou quem havia chegado por último. O critério teria sido o mesmo utilizado para retirar outros 22 inscritos que fariam o Enem no Colégio Barão do Rio Branco.

“Chegando lá, eu encontrei diversos pais que também tinham recebido ligações dos seus filhos e nós reivindicamos, diante da banca, que todos pudessem fazer a prova, uma vez que todos estavam lá dentro do horário estipulado para o concurso. Minha filha estava chorando porque foi retirada da sala, só ela teve que sair dessa sala. Ela estudou o ano inteiro para fazer a prova, com sonhos, planos de ter uma oportunidade em uma faculdade e foi retirada sem entender o motivo porque estava dentro do horário”, contou.

Os pais se uniram e a Polícia Militar foi chamada. Segundo Souza, um dos policiais da equipe conversou com a direção do colégio e os inscritos foram realocados em outras salas disponíveis.

“A banca deveria ter alugado outros prédios, colégios e faculdades para que ninguém passasse por isso naquele momento. Se tivesse uma comunicação prévia, os pais já teriam levado os filhos para outro local”, lamentou. “Foi uma tremenda desorganização do Inep. Eles foram irresponsáveis com as pessoas que estavam ali”, criticou a filha Regiane Souza, 17, após finalizar a prova.

Vários relatos também foram feitos por meio das redes sociais. O professor de ensino médio e cursinho Marcelo Sardinha também apontou a falta de organização. O filho dele, Daniel Sardinha, 17, foi um dos inscritos impedidos de fazer o exame na Unopar Catuaí.

“Não foi dado nenhum documento. No momento em que você dispensa o aluno, é preciso ter uma garantia de que ele, por exemplo, não faltou na data da prova e que chegou no horário. Ele só foi dispensado pela organização. Pediram para depois ele entrar em contato com o 0800 do site, explicar a situação e talvez fazer a prova em fevereiro”, contou.

“Foi uma confusão, tinha muita gente no bloco em que eu estava, a fila não andava, fiquei uns 20 minutos e nada da gente conseguir entrar na sala. Depois veio um pessoal e falou que era para seguir um dos fiscais. Só grifaram nosso nome na lista e mandaram a gente ir embora. É bem difícil porque agora tem um pessoal que já fez a primeira prova do Enem e tem os vestibulares que estão marcados. Já foi um ano bem difícil e fica essa incerteza. Acho que deveria ser igual para todos”, ressaltou.

O estudante P. C., 17, também teve que se retirar da Unopar Catuaí. “Não consegui fazer a prova. Os organizadores foram super grossos com a gente. Falaram para deixar nome e CPF e sair do local. Falaram que a prova talvez seja reagendada para fevereiro. O problema é que em fevereiro tem segunda fase da USP [Universidade de São Paulo], da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] e tem UFPR [Universidade Federal do Paraná]. Acho uma falta de respeito com os inscritos, uma injustiça, é revoltante e isso no meio da pandemia”, disse.

Apenas porta-vozes do Inep estão autorizados a dar entrevista sobre o Enem. Representantes regionais, empresas envolvidas e coordenadores locais da prova são impedidos de repassar dados ou informações oficiais sobre o exame. A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa do Inep, mas não obteve retorno até o fechamento da edição.

(Matéria atualizada às 19h47)