São José dos Campos, SP, 12 (AE) - O segundo fracasso consecutivo do Veículo Lançador de Satélites (VLS) levou a direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) a cancelar o programa de microssatélites de aplicações científicas
conhecidos pela sigla Saci, de sua responsabilidade. Os dois aparelhos produzidos até o momento, num valor total de US$ 6,3 milhões, foram perdidos. A série Saci levaria ao espaço experimentos múltiplos dos institutos e universidades brasileiras, escolhidos pela Academia Brasileira de Ciência.
O insucesso do VLS, que foi teledestruído 3,30 minutos após ser lançado provocou uma alteração na balança da história espacial brasileira, dando um descompensamento no quadro das missões de sucesso e malsucedidas. Agora, o País amarga a perda de três satélites e dois lançadores. O último deles ocorreu há dois meses, quando Saci-1 entrou em órbita mas não respondeu aos telecomandos. Em contrapartida, o Brasil tem três satélites no espaço em perfeitas condições funcionais. Porém, todos eles foram colocados no espaço por foguetes estrangeiros.
O próximo satélite científico com participação do Inpe será feito em parceria com a França. O VLS tentará colocá-lo no espaço, no segundo semestre de 2001. O novo satélite passará a ser produzido em meados do próximo ano. A possibilidade de se contratar um lançador qualificado no mercado internacional para colocar em órbita a série Saci foi descartada pelo alto custo da operação, que supera em muito o valor do próprio satélite. Os cálculos preliminares mostram que se gastaria cerca de US$ 15 milhões neste processo, cerca de dez vezes mais que o preço do Saci-2.
Apesar da destruição do segundo protótipo do foguete, o Inpe e o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) afirmam que esse processo ajudou no aperfeiçoamento de novas tecnologias espaciais e, apesar do insucesso, há experiências produtivas e de grande valor tecnológico conseguidas na construção destes equipamentos. Mas o centro militar está sofrendo uma grave perda de quadros qualificados por questões salariais. Resgate - As equipes de resgate dos destroços do Veículo Lançador de Satélites (VLS) voltaram hoje pela manhã a vasculhar a região de queda dos destroços do foguete e do Satélite de Aplicações Científicas (Saci-2). Os trabalhos seriam suspensos ao anoitecer. Os helicópteros da Força Aérea Brasileira (FAB) já conseguiram identificar, na costa do Ceará, a área de impacto das partes do foguete. Os militares estão contando com ajuda de comunidades de pescadores, que passaram várias informações úteis quanto a possível localização.
A aeronáutica informou que a queda ocorreu dentro da zona de segurança estabelecida em projeto e sem qualquer dano. O VLS, que levava a bordo do Saci-2, foi autodestruído no final da tarde de ontem (11) quando se constatou um defeito no segundo estágio de seus motores, que fica logo acima dos quatro grandes motores situados na base do foguete. O propelente sólido da parte defeituosa deixou de acender e, fora de controle, o veículo teve que ser explodido no ar.
Assim que recolher partes significativas do VLS, utilizando inclusive merguladores, os militares levarão as peças ao CTA para análises técnicas. Haverá uma tentativa de se de descobrir a razão do defeito dentro de um prazo aproximado de 30 dias, podendo ser ampliado para 60 dias. O primeiro foguete foi perdido em novembro de 1997 por uma falha semelhante. Um dos motores do primeiro estágio deixou de acender por problemas nos ignitores da malha pirotécnica. Também se cogita possíveis problemas no combustível do motor.
Ontem, os primeiros minutos de lançamento chegaram a iludir a multidão que acompanhava a contagem regressiva no Centro de Lançamento de Alcântara (MA), tal a eficiência dos quatro motores iniciais. O brigadeiro Tiago Ribeiro só fez a comunicação oficial do fracasso 1h20 mais tarde, mesmo tendo sido o responsável pelo acionamento do comando de teledestruição. Segundo uma versão oficiosa do atraso, o militar teria se emocionado muito e passado mal. Insucesso - A informação do insucesso da Operação Almenara acabou sendo feita pela direção do Inpe, em São José dos Campos (SP), cerca de uma hora antes dos militares do projeto se pronunciarem oficialmente. Isto acabou provocando um certo mal-estar entre os responsáveis pela divulgação dos dados e acentuou o clima tenso.
A cobertura dos órgãos de imprensa nacionais e estrangeiros presentes no evento acabou comprometida por alguns defeitos nas linhas telefônicas, que não aceitavam a transferência de dados via Internet, sobrecarregada. Além disto, o tronco estava sempre congestionado e dificilmente se conseguia estabelecer as conexões e, quando ocorriam, eram de péssima qualidade.
Outra pane que gerou preocupação foi com a falta, por duas vezes, de energia elétrica em parte dos prédios do centro militar. A operação de ignição dos motores foi atrasada em dez minutos. O sistema elétrico local não é servido pela concessionária de energia do Maranhão, mas sim por geradores situados ao lado do prédio principal.