Uma iniciativa proposta por uma jornalista da Folha de Londrina vai financiar uma sugestão de reportagem que trate sobre o futuro do lixo no Brasil e o meio ambiente. O Seja Sustentável é encabeçado por Patrícia Maria Alves e tem como inspiração seus pais, José Alves e Santa Enedina.

A iniciativa vai receber propostas de reportagens ligadas ao tema que podem ser enviadas por jornalistas profissionais de qualquer lugar do Brasil. Os projetos serão avaliados por um corpo de jurados. As inscrições começam nesta quinta-feira (12) e vão até o dia 29 de outubro. A sugestão escolhida vai ser divulgada no dia 02 de novembro.

Alves explica que a bolsa Seja Sustentável é uma homenagem aos pais, José Alves e Santa Enedina, que faleceram nos meses de março e abril deste ano, respectivamente, e que sempre foram referência para ela em ações sustentáveis, meio ambiente e apoio ao jornalismo profissional. Segundo ela, a iniciativa Seja Sustentável vai financiar com o valor de R$ 2 mil uma proposta de reportagem na área do jornalismo ambiental com o tema: “qual o futuro do lixo?”.

A iniciativa da jornalista é apoiada pelo ICFJ (International Center for Journalist) e a Meta, através do programa Acelerando Negócios Digitais (categoria Indivíduo). A Folha de Londrina também entra como parceira e ficará responsável por fazer a divulgação de todos os passos do Seja Sustentável.

Alves conta que a iniciativa é fruto de meses de estudo junto à jornalista Adriana Barsotti, mentora do programa pelo ICFJ. Segundo Alves, a temática do meio ambiente e do futuro do lixo foi escolhida por ser uma questão urgente em todo o mundo na tentativa de amenizar “a pegada do homem na terra”.

Imagem ilustrativa da imagem Iniciativa vai financiar proposta de reportagem sobre o futuro do lixo
| Foto: Edilson Rodrigues

“Meus pais apoiaram e financiaram meu projeto de ser jornalista quando eu era apenas uma jovem sonhadora e sempre se preocuparam com o meio ambiente e a pegada de lixo e resíduos que se deixa. Deles herdei a vontade de fazer a diferença em um mundo melhor”, relata. Agora, com mais de 15 anos de carreira, ela afirma que gostaria de contribuir para que outros jornalistas possam ver seus projetos se tornando realidade: “desse ímpeto nasceu a ideia da bolsa Seja sustentável, Santa Enedina e José Alves de jornalismo ambiental”.

As inscrições devem ser feitas pelo formulário https://forms.gle/sik4e7DiShk9rse6A a partir das 11h desta quinta-feira (12) e seguem até às 23h59 do dia 29 de outubro. Os jornalistas interessados devem encaminhar uma carta de apresentação e a pauta detalhada com cronograma de trabalho e orçamento do projeto - que não pode ultrapassar o valor da bolsa. As propostas serão escolhidas por dois jurados engajados no meio ambiental e dois jornalistas representantes da Folha de Londrina, veículo que vai divulgar o resultado no dia 02 de novembro, assim como a reportagem finalizada.

Podem se inscrever jornalistas profissionais de todo o território brasileiro e as reportagens devem ser escritas em português. A prioridade será dada para as sugestões que unam texto e imagem e que investiguem a produção de lixo em alguma localidade.

Todas as propostas enviadas vão ser analisadas pela comissão julgadora com o objetivo de garantir a relevância do projeto de reportagem como contribuição para a discussão do tema nos dias de hoje. O corpo de jurados é formado por: Renato Sant’Anna, promotor do Gaema (Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo); Verônica Cardoso Costa de Souza, diretora financeira da Cooper Região; Adriana De Cunto, jornalista chefe de redação da Folha de Londrina; e Célia Musilli, jornalista editora da Folha de Londrina.

Visibilidade à causa

A jornalista Adriana Barsotti, mentora do programa do ICFJ e da jornalista Patrícia Maria, ressalta que é importante falar sobre o descarte adequado do lixo para evitar a poluição do solo e dos mananciais. Segundo ela, apesar de o lixo estar muito associado no imaginário das pessoas a cheiros ruins, dejetos indesejáveis e a animais transmissores de doença, ele pode ser rentável para muitas comunidades. “Cuidar do lixo é tornar a vizinhança mais saudável e sustentável, na medida em que ele pode gerar renda para trabalhadores”, reforça.

De acordo com a jornalista, existem muitas possibilidades para se lidar com o problema do lixo, que tendem a usar cada vez mais tecnologia, como um grupo de cientistas britânicos que está treinando drones com algoritmos para que eles recolham plástico dos mares. “Acho que o Seja Sustentável vai contribuir com soluções criativas para o problema do lixo e, com a parceria com a Folha de Londrina, conseguiremos dar visibilidade a essas pautas”, pontua.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Estímulo à inovação

Adriana de Cunto, chefe de redação da Folha de Londrina, destaca que a bolsa traz um tema que tem muita importância hoje, principalmente por fortalecer a cobertura jornalística nessa área que ela considera como “crucial”. “Também é uma oportunidade de jornalistas que se interessam por questões ambientais, como nesse caso a destinação do lixo, a realizarem uma investigação mais aprofundada e detalhada”, pontua, ressaltando que a iniciativa também contribui para que a sociedade fique melhor informada e para que o profissional possa mostrar seu trabalho.

Segundo a jornalista, o Seja Sustentável também se mostra como um estímulo à inovação e a um modelo diferente de fazer jornalismo. “Nós, da Folha de Londrina, estamos muito felizes em participar do projeto e publicar a matéria que será selecionada pelos jurados”, afirma.

Renda, inclusão social e cuidado

Verônica Cardoso Costa de Souza, diretora financeira da Cooper Região, cooperativa de coleta seletiva que atua há 14 anos em Londrina, conta que recebeu com muito carinho o convite da jornalista Patrícia Maria Alves para ser uma das juradas do projeto Seja Sustentável. Ela perdeu o filho de 19 anos há três semanas e conta que ficou com o “coração quentinho” em saber que outras pessoas passaram pela mesma dor que ela e estão “fazendo do limão uma limonada”.

A cooperativa é responsável por fazer a coleta seletiva de quase 50% da cidade de Londrina, fazendo com que o plástico e outros materiais sejam reciclados e evitando que eles tenham destinos inadequados. “Ela [coleta seletiva] gera renda para mais de 112 famílias dos nossos cooperados, então é de suma importância esse trabalho, essa coleta de reciclável, já que é através dela que a gente traz geração de renda, inclusão social e cuida do meio ambiente”, destaca.

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| Foto: Marcos Zanutto/ Arquivo Folha

Souza diz esperar que os jornalistas participantes proponham ações inovadoras para amenizar o problema dos resíduos, que vão parar na beira de estradas e rios. Segundo ela, isso vira um problema de saúde pública, principalmente relacionado aos vetores de doenças como a dengue. “Eu espero que venham ideias e sugestões que possam virar opções de ação para os gestores públicos e municípios”, opina.

Segundo ela, mudanças podem ser tomadas a partir de iniciativas como essa, que não precisam ser grandiosas, mas que podem fazer a diferença na vida dos moradores de um bairro. “Um grãozinho de areia vai se juntando com o outro e isso vai dando resultado”, opina, acrescentando que a discussão é importante para trazer ideias relevantes e dar visibilidade para o tema da sustentabilidade, o que passa pela reciclagem.

Reciclagem e educação ambiental

Renato Sant’Anna, promotor do Gaema, atua diretamente com a questão do lixo, principalmente através da Operação Percola II, que averiguou a situação de 55 municípios da região em relação ao manejo de resíduos sólidos. Segundo ele, algumas cidades pequenas, como Bom Sucesso e Lupionópolis, ainda mantiveram os ‘lixões’ em funcionamento até dias recentes, mês passado e semana passada, respectivamente. O que eu desejo é que haja uma destinação correta dos resíduos sólidos urbanos. O que der para reciclar, recicla, o que não tiver jeito, a gente enterra o mínimo possível e de acordo com as regras que a gente tem”, pontua.

Para o promotor, a mudança efetiva deve começar por uma menor geração de lixo, que passa por uma ampliação na reciclagem e por uma educação ambiental de qualidade, atingindo toda a população.

Segundo Sant’Anna, esse tipo de ação, que busca dar voz às pessoas sobre assuntos que interessam a toda a sociedade, são importantes para que novas ideias apareçam vindas de diferentes lugares. Como sugestão, ele aconselha os participantes a irem in loco conhecer o caminho que o lixo percorre ao sair de alguma residência. “Com o olhar do jornalista, é importante que ele olhe para aquele espaço e para o que está sendo feito ali, que é algo que até a imprensa desconhece”, sugere, acrescentando que a geração de hoje tem que deixar o melhor cenário possível para as gerações futuras.

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