Iniciada investigação formal contra coronel francês
PUBLICAÇÃO
domingo, 26 de março de 2000
Paris, 27 (AE-AP) - Um coronel francês foi colocado sob investigação formal nesta segunda-feira (27) por divulgar segredos de estado depois de documentos secretos sobre os mantenedores de paz franceses em Kosovo vazarem para a imprensa, disseram fontes judiciais.
As fontes, falando na costumeira condição de anonimato, contaram que o coronel Jean-Michel Mechain, de 46 anos, teve prisão provisória decretada e estava sendo investigado por "divulgar um segredo pertinente à segurança nacional".
Se for considerado culpado, ele pode ser condenado a sete anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 700.000 francos franceses (quantia equivalente a cerca de US$ 104.000). Mechain disse ser inocente da acusação de divulgar o conteúdo de documento secretos.
O advogado de Mechain disse nesta segunda-feira que apelaria contra a ordem de prisão. Uma audiência deverá ser realizada antes do fim desta semana. "Prender alguém por um crime intelectual é uma monstruosidade", disse o advogado William Bourdon. Ele acrescentou que seu cliente era a "vítima de uma controvérsia político-militar".
A história sobre os documentos vazados para a imprensa soa como um livro policial com vigilantes noturnos e uma mulher misteriosa. Ela expõe divisões internas nas forças armadas francesas - neste caso a gendarmeria e o exército - que vieram à tona em Kosovo.
Mechain é um coronel da gendarmeria, que, como o exército, é controlada pelo Ministério da Defesa.
Uma investigação judicial foi iniciada há uma semana para se saber como duas publicações semanais francesas obtiveram documento secretos que descreviam o desconforto sentido por oficiais nas forças de manutenção de paz francesas em Kosovo em relação a Bernard Kouchner, administrador da Organização das Nações Unidas (ONU) na conturbada província iugoslava.
De acordo com os documentos, Kouchner, que é francês, era visto pelos oficiais franceses em Kosovo como anti-sérvios e pró-albaneses étnicos.
O conteúdo dos documentos foi publicado em fevereiro pela revista semanal Le Point e pelo jornal satírico Le Canard Enchaine.