Criação de sistema de gerenciamento de gestantes de Ivaiporã e dos outros municípios da 22a Regional de Saúde foi ação com custo zero e resultados expressivos
Criação de sistema de gerenciamento de gestantes de Ivaiporã e dos outros municípios da 22a Regional de Saúde foi ação com custo zero e resultados expressivos | Foto: Lis Sayuri/12-3-2015


A Sesa (Secretaria Estadual de Saúde) divulgou neste mês o balanço dos índices de mortalidade infantil no Paraná em 2017 e a 22ª RS (Regional de Saúde) se destaca por apresentar a menor taxa de mortes de crianças para cada mil nascidas vivas. A regional de Ivaiporã (Vale do Ivaí), com 16 municípios na sua área de abrangência e cerca de 140 mil habitantes, registrou um CMI (Coeficiente de Mortalidade Infantil) de 5,8. A Sesa considera razoável um coeficiente abaixo de dez.

As taxas de mortalidade de crianças nos municípios que integram a 22ª RS não estiveram sempre dentro da normalidade. Em 2012, o CMI foi calculado em 10,84, saltou para 18,67 no ano seguinte, caiu para 6,7 em 2014, voltou a subir em 2015 e 2016, alcançando as taxas de 11,9 e 11,4, respectivamente, para chegar a apenas um dígito no ano passado.

Além de Ivaiporã, a 22ª RS compreende os municípios de Arapuã, Ariranha do Ivaí, Cândido de Abreu, Cruzmaltina, Godoy Moreira, Jardim Alegre, Lidianópolis, Lunardelli, Rio Branco do Ivaí, Rosário do Ivaí e São João do Ivaí, no Vale do Ivaí, e Manoel Ribas, Mato Rico, Nova Tebas e Santa Maria do Oeste, no Centro.

Para reduzir pela metade o índice de mortalidade infantil naquela região entre 2016 e 2017 não foi necessário criar nenhum projeto ou ações inovadoras. O primeiro passo nesse processo foi dado em setembro de 2016, com a instituição do GT-ARO (Grupo Técnico de Revisão e Agilização do Óbito), multissetorial e intersetorial, que possibilitou uma análise do problema da mortalidade em todos os âmbitos. O grupo começou como uma estratégia estadual e deveria ser estendido a todas as regionais de saúde até o final de 2016. "O grupo foi um divisor de águas. Aqui na regional, as informações eram fragmentadas e a vigilância percebia as fragilidades, mas essa voz não era ouvida", disse a coordenadora regional da Vigilância do Óbito da 22ª RS, Claudia Valéria da Silva Alves.

Com o grupo, foi possível acompanhar o dia a dia do atendimento dado a cada gestante. "Começamos a ver onde ela deveria ter sido atendida e não foi, a qualidade da assistência recebida e percebemos o erro de estratificação de risco em toda a gestão", comentou a coordenadora.

Antes do GT-ARO, em 2014, 2015 e 2016, a 22ª RS tentava fazer a capacitação dos profissionais das equipes de pré-natal, mas esse trabalho não surtia o efeito esperado. "O profissional que vinha para a capacitação não multiplicava a informação. O que levou à mudança foi a capacitação e a integração da equipe e isso não teve custo algum", destacou Alves.

Imagem ilustrativa da imagem Infância protegida



PLANILHAS

A criação de um sistema de gerenciamento das gestantes por meio de planilhas também foi uma ação com custo zero e resultados expressivos. "Elaboramos uma planilha por município e, nas cidades maiores, temos uma planilha para cada unidade básica de saúde. A partir delas, a gente consegue ter todo o trajeto da gestante até o parto. É um canal de comunicação com os municípios em todos os pontos de atenção", explicou a coordenadora. "O município precisa da efetividade da rede para baixar o seu coeficiente de mortalidade."

"A gente vinha de uma série histórica muito ruim", reconheceu a enfermeira chefe do setor de Epidemiologia do Departamento de Saúde de Ivaiporã, Nilza Fernandes Mendes. Segundo ela, o cenário começou a mudar no ano passado, quando a regional estabeleceu uma maior efetividade ao programa Rede de Atenção à Saúde Mãe Paranaense, associado a outras medidas que contribuíram para reduzir sensivelmente as mortes de crianças antes de completarem um ano de vida.

Lançado em 2012 pelo governo estadual, a rede é composta por três programas de atendimento na rede pública e o regime de assistência é dividido pela Sesa em três setores de atenção – primária, secundária e terciária -, de acordo com a gestação, desenvolvimento da criança e o parto.

"Desde 2017, foram organizadas as redes, as estratificações. As gestantes de alto risco já são encaminhadas ao consórcio de saúde para que as crianças nasçam no Instituto de Saúde Bom Jesus (em Ivaiporã). Também houve treinamentos para a atenção básica e as gestantes são reavaliadas a cada consulta", explicou Mendes. A enfermeira ressalta que todo o trabalho na saúde direcionado às mães e às crianças recém-nascidas foi aprimorado.

Em 2015, a taxa de mortalidade infantil em Ivaiporã era de 14,92 e, no ano seguinte, subiu para 16,26. No ano passado, nenhum óbito de criança foi registrado no município.

ADESÃO

A adesão das gestantes ao acompanhamento pré-natal cresceu. No ano passado, 95% das gestantes realizaram mais de sete consultas, que é o número mínimo recomendado pela Sesa. "Mas a gente ainda tem que ficar alerta com as gestantes adolescentes e usuárias de álcool e drogas na questão da adesão ao programa", ressaltou Mendes, que também destacou a colaboração do governo do Estado no estabelecimento de parcerias para o referenciamento de hospitais.

Mensalmente, são feitas reuniões com os profissionais do PSF (Programa Saúde da Família), nas quais são discutidas todas as ações direcionadas aos cuidados com as futuras mães. A contratação de pediatras também foi fundamental na redução da taxa de mortalidade infantil, avalia a enfermeira. "Em 2015, o município tinha recursos para contratar médicos, mas não havia disponibilidade de profissionais. Hoje, temos dois pediatras trabalhando na rede pública em Ivaiporã para atender a criança após o nascimento."

O superintendente de Atenção à Saúde da Sesa, Juliano Gevaerd, salientou que a secretaria tem a mesma proposta de organização da rede para o Estado inteiro e o que diferencia os resultados em cada regional é a organização dos municípios. "Na 22ª Regional, foi desenvolvido um trabalho de monitoramento das gestantes e das crianças muito intenso, com municípios, consórcio e hospitais da região trabalhando em conjunto para que tivessem uma comunicação muito rápida."