Indústrias de fundição acusam fornecedores de formar cartel
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domingo, 06 de fevereiro de 2000
Por Isabel Dias de Aguiar e Evaldo Magalhães
São Paulo, 06 (AE) - Os empresários do setor de fundição estão reunindo notas fiscais para comprovar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que os fornecedores de ferro-gusa formaram cartel. Segundo argumentam, a combinação de preços entre os cerca de 30 produtores dessa matéria-prima fez com que os preços aumentassem 100% desde dezembro de 1998. O ferro-gusa é um dos principais insumos para a fabricação de produtos fundidos, com peso entre 20% e 25% no custo final.
A alta do preço da matéria-prima, segundo informam, compromete os resultados das empresas do setor, uma vez que o principal cliente, a indústria automobilística, não aceita o repasse dos preços. As exportações também ficam comprometidas, já que a alta dos custos compromete a competitividade do produto brasileiro.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria da Fundição (Abifa), José Raya, considera injustificada alta tão significativa dos preços do produto, uma vez que utiliza minério de ferro e carvão vegetal nacionais, cujos custos não estão sob a influência das oscilações cambiais. Tampouco as despesas com mão-de-obra, "que não está entre as mais bem remuneradas", podem ser responsabilizadas pelo aumento dos preços, afirmou Raya. Como 50% da produção nacional é exportada, o empresário supõe que os produtores passaram a indexar o produto ao dólar.
A acusação de formação de cartel pelos chamados guseiros
pela indústria da fundição, não é nova. Há um ano, quando o real foi desvalorizado, as empresas recorreram ao órgão responsável pela defesa da concorrência, que é subordinado ao Ministério da Justiça, contestando a coincidência de preços e datas dos reajustes adotadas por seus fornecedores. Nenhuma providência foi tomada, segundo informam.
Algum tempo depois da desvalorização cambial, os preços do gusa no mercado internacional caíram e o assunto acabou esquecido. Mas, a partir de dezembro, os preços voltaram a subir. De R$ 160 a tonelada, para R$ 280. Em janeiro, chegou a R$ 300. Alguns empresários já foram informados que neste mês a tonelada passa a R$ 320.
O presidente do Sindicato da Indústria do Ferro Gusa em Minas Gerais, Ronan Eustáquio da Silva, não aceita a acusação de que os produtores de fundidos formaram cartel e estejam cobrando preços abusivos. Segundo ele, o aumento de preços nada mais é que uma "recomposição de valores aos níveis de 1997".