A escassez de insumos fundamentais para o combate à pandemia da covid-19 é uma realidade que vem sendo combatida em todo o mundo. Já não é fácil encontrar o álcool 70%, máscaras e luvas em grande parte do comércio. Mesmo os governos enfrentam dificuldades para garantir os estoques, mas ações da sociedade civil vêm ajudando a atenuar o problema. Na região de Londrina, por exemplo, uma indústria de refrigerantes já pausou por duas vezes a sua produção para envasar álcool na proporção recomendada para a desinfecção para abastecer a rede pública de saúde. O trabalho, que continuará nos próximos dias, deve permitir que 200 mil litros sejam distribuídos para hospitais e postos de saúde em todo o Paraná.

O produto será destinado para o abastecimento da rede pública de saúde do Paraná e foi feito a partir de doação de produtores
O produto será destinado para o abastecimento da rede pública de saúde do Paraná e foi feito a partir de doação de produtores | Foto: Divulgação

A medida se iniciou a partir da doação de 70 mil litros do insumo por parte da Alcopar (Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná) e de outro volume expressivo de várias empresas, o que vem sendo feito desde a quarta-feira (18). Caminhões abarrotados do produto saíram de diversas partes do Paraná, sob uma operação logística coordenada pela Defesa Civil, para garantir a segurança da chegada à fábrica instalada em Cambé. A Refriko parou sua produção para transformar a matéria-prima, o que consiste basicamente em alterar a concentração do álcool que chega das refinarias, que sai a 96,6%.

A empresa afirma que, apesar da preocupação com os impactos econômicos, o trabalho é considerado uma espécie de chamamento. “Não podemos pensar em prejuízo comercial num momento tão delicado que estamos vivendo. É mais importante pensar no ganho social. Fomos solicitados pelo governo do estado para colaborar e estaremos à disposição para o que for necessário. Espero que outros empresários tenham a mesma consciência”, afirmou Márcio Mendes, presidente do Grupo Refriko.

O processo se inicia quando o álcool recebe uma porcentagem de água para se tornar menos volátil, o que faz com que ele atue por mais tempo nas superfícies. Essa quantidade de água, que pode chegar a 25% do total a ser envasado, primeiro tem de passar por um processo de desinfecção através de luz ultravioleta. O sistema já existe na fábrica de refrigerantes e pode purificar cerca de 5 mil litros de água por hora. Para o envase e distribuição, o Grupo Refriko fez a doação de mais de 50 mil garrafas pet de 2 litros.

Importante ressaltar que o produto envasado não é a versão em gel popularmente vendida em farmácias. Toda a produção é para uso público e não está disponível para a venda de consumidores. Para que o processo seja feito com segurança e não ofereça riscos não só à empresa como à vizinhança, o trabalho é acompanhado e controlado por equipes do Corpo de Bombeiros com caminhões de combate a incêndio para evitar possíveis acidentes. Após a produção, o maquinário tem capacidade de ser esterilizado e voltar a produzir refrigerantes sem nenhum risco aos consumidores.

PREOCUPAÇÃO

Entre os produtores de álcool, a preocupação é grande com a próxima safra. Apesar de o aumento no consumo do produto para a esterilização, há uma acentuada redução do consumo de combustíveis, o que somado à queda do preço internacional do petróleo pode causar um enorme impacto para os produtores da região. “Além da questão humanitária, a nossa preocupação econômica é imensa. Os governantes precisam encontrar um ponto de equilíbrio e, aos poucos, os grupos que não são de risco precisam voltar à atividade”, opinou Miguel Tranin, presidente da Alcopar.