A comunidade indígena é um dos grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19 no País. No Paraná, mais de 10 mil índios com mais de 18 anos e que vivem em 30 municípios receberam a imunização nos primeiros dias da campanha. Na região de Londrina, a maioria das doses teve Tamarana como destino.

A indígena mais velha da Água Branca a ser vacinada foi Benedita Pereira, de 80 anos
A indígena mais velha da Água Branca a ser vacinada foi Benedita Pereira, de 80 anos | Foto: Sergio Ranalli

De acordo com a Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), 1.071 doses de Coronavac foram levadas para a TI (Terra Indígena) Apucaraninha, onde vivem 1.752 caingangues. Ao todo, 1.190 foram destinadas a Tamarana.

Na unidade de saúde da Terra Indígena, que é vinculada à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), a aplicação das doses de Coronavac foi feita em três dias. No local, foram confirmados 120 casos da doença e pelo menos quatro mortes. Diferentemente de boatos que têm circulado, no início da semana, houve a morte de um indígena de 47 anos, vítima de infarto, antes da chegada das doses à reserva. A morte, portanto, não teve relação com a vacina.

Já o agente de saúde Evandro Galdino declarou estar “muito feliz com a chegada da vacina na aldeia”. “Eu não tive reação ao medicamento. Só senti a dor da picada da agulha, mas não foi nada", disse. "Eu não sei explicar direito o que a vacina representa para a aldeia, mas sei dizer que todos estão felizes."

Galdino relatou a angústia quando soube do primeiro caso registrado na aldeia, no ano passado. "A primeira coisa que eu pensei quando esse caso chegou aqui foi na minha família e no meu filho. Cheguei a chorar naquele dia. Nós, da saúde, entendemos que a situação era difícil e conversamos uns com os outros para pegar firme para que a doença não avançasse na aldeia. Isso me assustou na época. Já sabíamos como proceder, usamos máscara, álcool em gel e me distanciei das pessoas. Graças a Deus eu não peguei a doença", destacou.

Nascido na Terra Indígena Apucaraninha, Galdino ressalta que tem ajudado na disseminação das informações sobre o combate à pandemia. "Aqui tem uma enfermeira que nos orienta sobre como a gente pode informar a população. Tem uma rádio local que também nos ajuda e anuncia as orientações. A gente também faz visitas nas casas e explica como pode ser feito o protocolo de segurança. Todos têm obedecido", garantiu.

Além da luta contra a Covid-19, no entanto, os indígenas também tem lutado contra a discriminação. "Muita gente criticou o poder público quando soube que nós, os indígenas, seríamos os primeiros a receber a vacina. A gente se sente mal. Eu fiquei muito triste. Isso é muito preconceito. As pessoas expressaram esse preconceito nas redes sociais, falando que os índios não trabalhavam e não mereciam receber a vacina. A gente sente triste, porque a saúde é para todos", lamentou.

Na Aldeia Água Branca, também em Tamarana, o cacique Moisés Lourenço disse que um dos problemas enfrentados é não poder ir para a cidade vender artesanato. "A prefeitura ajudou com cesta básica todos os meses. A rotina dentro da aldeia não mudou. Eu peguei Covid-19 e passei mal. Eu não cheguei a ir ao hospital e estava tomando água da mina sagrada", declarou. Segundo ele, uma indígena de 25 anos morreu de Covid-19 na aldeia.

A indígena mais velha da Água Branca a ser vacinada foi Benedita Pereira, 80. "Estamos muito contentes. Fizemos até a dança cultural sobre essa vacina", contou. "Quando tudo acabar o que a gente mais deseja é poder voltar a vender o nosso artesanato."

Segundo a Secretária de Saúde de Tamarana, dos 570 índios que residem no local, 370 receberão a dose da vacina - 120 pessoas positivaram para Covid-19 na aldeia.

Em São Jerônimo da Serra, a primeira pessoa a ser vacinada foi o presidente da Saúde da aldeia, Wagner Save Almeida, 35, da Barão de Antonina. “Quis mostrar que é uma vacina tranquila, apesar dos boatos. Eu vejo que nós, indígenas, sermos os primeiros é muito importante. A única coisa que peço é que meu povo tome a vacina. Não vai fechar 100% da comunidade, porque tem mães amamentando, gestantes e crianças, que não podem tomar. Aqui somos em 400 pessoas e vieram 250 doses."