São Paulo, 02 (AE) - Os indexadores de preços usados para calcular os reajustes de tarifas de serviços públicos (como telefonia e energia) aumentaram duas vezes mais do que os empregados para corrigir salários. Um consumidor que paga R$ 100 por mês de conta de telefone cuja operadora tenha direito a aplicar aumento na tarifa com base na inflação de 1999 terá de desembolsar R$ 20 a mais mensalmente a partir de janeiro.
Isso ocorre porque os serviços de telefonia são reajustados pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que fechou o ano passado em 20%. Se essa mesma pessoa pertencer a uma categoria profissional cujo salário é corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), sairá em desvantagem, pois terá apenas 8,70% de aumento, o IPC previsto para 1999, que deve ficar próximo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 8 20%, outro indicador usado como referência para salários.
Tanto os 8,70% do IPC quanto os 8,20% do INPC, porém, só são conseguidos integralmente por categorias profissionais com forte organização sindical que conseguem repor ao ordenado as perdas decorrentes da inflação.
Já as concessionárias de telefonia, por sua vez, têm garantido em contrato firmado com o governo o reajuste pelo IGP-DI, o que tem causado aflição na equipe econômica, por causa da influência desses reajustes nos índices de inflação. A coordenadora jurídica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Flávia Lefevre, lembra que, além da variação do IGP-DI, as concessionárias de serviços tinham direito, pelo contrato de privatização, a aumentar os preços além do índice. No caso da telefonia, alguns serviços podiam subir até 9% além do IGP-DI. Para a energia elétrica, o contrato previa ainda aumento de tarifas por conta de elevação de custos, acima também do IGP-DI.
Para a advogada do Idec, a escolha do IGP-DI como índice de correção das tarifas fez parte da estratégia do governo de tornar as empresas mais atraentes, na época da venda, oferecendo uma possibilidade de lucro pela correção dos preços acima da inflação. "Já era previsto que o IGP ficaria acima dos índices de consumidor num momento em que o governo quer segurar os preços", diz Flávia.
O Banco Central prevê, num cenário conservador, um aumento médio de 9,2% neste ano para os chamados preços administrados, que incluem as tarifas de serviços públicos como energia e telecomunicações. Conforme a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, realizada em 15 de dezembro, o principal risco identificado para o cumprimento das metas de inflação traçadas para o próximo ano é o aumento desses preços. Na avaliação do BC, o aumento de 9,2% nas tarifas significa impacto direto de 2,3 pontos porcentuais sobre a inflação de 2000. Na última reunião do Copom, a taxa de juros básica foi mantida em 19% ao ano, sem indicação de tendência. Para os diretores do BC, os indicadores de preços no atacado e ao consumidor, na época da reunião, já mostravam alguma desaceleração, mas a queda da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro para novembro foi considerada modesta, o que justificou a manutenção dos juros básicos em 19% ao ano.
As incertezas quanto à evolução dos preços administrados em 2000 também justificou a manutenção da taxa. "Esse fator continua sendo a principal fonte de preocupação, tanto pelos seus efeitos diretos sobre as taxas de inflação do ano 2000 quanto pelos seus efeitos indiretos sobre os demais preços da economia", registrou a ata do Copom.