São Paulo, 12 (AE) - Em 1998, dado mais recente disponível, ocorreram nas estradas federais 120.594 acidentes, com 6.801 mortes. Nos registros da Polícia Rodoviária Federal, a imprudência é o vilão por trás desses números: os defeitos mecânicos provocaram apenas 4.682 das ocorrências e os defeitos na pista, meros 1.539.
Mas esse diagnóstico é contestado pelo especialista em transportes Philip Gold, consultor, entre outros, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "Se as pesquisas indicam que a condição de 77% das rodovias federais é ruim ou péssima, como problemas na via podem ter participação tão pequena nas estatísticas?"
Pelo levantamento oficial, em 42.833 (35,5% do total) dos acidentes a causa provável foi a falta de atenção do motorista e
em 15.514, a velocidade excessiva. A seguir vêm a desobediência à sinalização (7.013 casos) e ultrapassagens em local proibido (6.201). Gold acredita que investigações mais detalhadas produziriam um quadro diferente. "Boa parte das mortes ocorre em colisões frontais, em estradas que deveriam ter ao menos uma defensa separando o tráfego nos dois sentidos", diz. "Ou seja, há também um problema de engenharia, que não entra na estatística."
Gold também desconfia de que perícias conduzidas por técnicos qualificados mostrariam uma incidência maior de fatores mecânicos como causas. Segundo ele, pesquisa do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito, de São Paulo, indica que 70% da frota têm pelo menos uma falha mecânica capaz de provocar acidente grave.
"Esse porcentual, na verdade, deve ser ainda maior", explicou Gold. "Quem se oferece para participar de uma inspeção veicular, como a oferecida pelo instituto para a pesquisa, é naturalmente mais interessado nessa questão do que a média dos motoristas."
Romeiros - O acidente de hoje em Santa Catarina foi o segundo pior da década. Só é superado pela colisão de dois ônibus e dois caminhões na Via Anhanguera, em Araras (SP), no dia 8 de setembro de 1998, que deixou 56 mortos. Eram romeiros que iam para Goiás.