Além de se destacar pelo pioneirismo na realização da cirurgia robótica no País, Londrina ficou marcada nesta quinta-feira (20) como a primeira cidade brasileira a sediar a implantação da prótese auditiva por condução óssea do sistema. Fabricado na Austrália há pouco mais de um ano, o equipamento teve a sua autorização de uso expedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em março e permite que pacientes com perdas auditivas graves escutem com mais clareza sons agudos, além de músicas, áudios e chamadas telefônicas via Bluetooth.

A cirurgia foi realizada em um jovem de 14 anos morador de Santa Amélia, que desde os quatro enfrenta problemas no ouvido direito
A cirurgia foi realizada em um jovem de 14 anos morador de Santa Amélia, que desde os quatro enfrenta problemas no ouvido direito | Foto: Gustavo Carneiro

De acordo com a assessoria de comunicação do Hospital Otocentro de Londrina, que realizou a cirurgia, o aparelho Cochlear foi custeado pelo plano de saúde do paciente e somente será ligado após a cicatrização, em cerca de 45 dias.

A cirurgia foi realizada em um jovem de 14 anos morador de Santa Amélia, a 130 quilômetros de Londrina, que desde os quatro enfrenta problemas no ouvido direito. De acordo com a família, Lucas Pulcinelli de Araújo sentiu as primeiras dores em decorrência de uma otite. Mesmo buscando tratamentos e tendo realizado duas cirurgias, o jovem acabou perdendo a audição do lado direito, consequência do agravamento da infecção. Durante a tarde desta quinta-feira, o paciente ainda estava se recuperando do procedimento.

Em muitos casos, a perda auditiva vem acompanhada da depressão e do isolamento social. É como se o paciente se sentisse constrangido de solicitar que seu interlocutor repita o que acabou de dizer. “Para nós era muito difícil, apesar de ser um menino que levou isso sempre numa boa. Às vezes os coleguinhas diziam ‘você está surdo’, e ele simplesmente concordava. Era de cortar o coração”, lamentou a professora Janete Cecília Pulcinelli, mãe do jovem.

De acordo com a fonoaudióloga que o acompanha, Ana Paula Akaishi Santana, embora não tenha sofrido perdas auditivas do lado esquerdo, Araújo relatava ser grande a sensação de estar perdido em situações do cotidiano. “Ele tem uma falta de localização sonora, quando é chamado tem dificuldade de identificar de onde vem o som. Tem uma dificuldade muito grande de conversar quando tem muitos ruídos ou mais pessoas. Agora, ele terá uma audição 360°”, comemorou Santana.

Em um procedimento cirúrgico considerado simples e que levou cerca de 30 minutos, Araújo teve implantado atrás da orelha um equipamento feito com silicone e titânio. No mesmo componente, um ímã garante que um processador externo fique acoplado. “O acesso é uma incisão de quatro centímetros atrás da orelha e fica inaparente com a cicatrização. A parte implantável fica escondida embaixo do couro cabeludo, então esteticamente não traz defeito nenhum”, explicou o médico André Ataíde. Além dele e da fonoaudióloga, integram a equipe médica a otorrinolaringologista Marcela Cordeiro e os especialistas Fábio e Koki Kitahara.

“Já existem outros aparelhos que fazem vibração. O que este traz de novo? É um sistema Piezoelétrico, ou seja, um material que tem a capacidade de transformar energia mecânica em energia elétrica e vice-versa. É um sistema que vibra de uma outra forma e traz muito mais clareza, principalmente em sons agudos e o paciente tem um entendimento do som muito mais claro. Outra vantagem é a conectividade”, explicou Ataíde.

Quanto à aprovação de uso, o Brasil saiu na frente de países da Europa, mencionou Ataíde. Além disso, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o aparelho auditivo Cochlear é indicado para pacientes acima dos cinco anos.

“Este tipo de implante é mais indicado para pacientes com perdas auditivas condutivas, ou seja, de condução sonora, perdas auditivas mistas e neurossensoriais unilaterais. A aparelho é implantado no lado em que o paciente perdeu a audição e ele usa a cóclea do outro lado para escutar e ter a sensação sonora bilateral”, explicou otorrinolaringologista Marcela Cordeiro.

Segundo a administração do Hospital Otocentro de Londrina, todos os planos de saúde são obrigados a cobrir os custos do implante, “desde que constado pelo médico ser o tratamento mais adequado”, lembrou a diretoria.

De acordo com representantes da Politec, importadora do produto, outras três cirurgias serão realizadas nos próximos dias, sendo duas em Brasília (DF) e uma no estado de São Paulo.

O pai do jovem, o técnico agrícola Alessandro de Araújo, emocionou-se ao falar da paixão do filho pelo Palmeiras e do sonho em ser jogador de futebol. "É bom zagueiro e também gosta muito de andar a cavalo, com a lida de gado. Se não der o futebol, ele já disse que quer ser agrônomo", alegrou-se.