Rio, 21 (AE) - A Imperatriz Leopoldinense, campeã do carnaval carioca de 1999, foi recebida com vaias pelo público que foi assistir ontem ao desfile das campeãs. Gritos de "é marmelada" ou "roubou porquê?, Por que roubou?" ecoaram nas arquibancadas populares do setor 1, próximo à concentração. "É a Imperatriz Zagallo; tem que engolir", revidou, sem perder o humor, o diretor Marcos Drumond, filho do patrono da verde e branco de Ramos, o banqueiro do jogo do bicho Luizinho Drumond. O bicheiro também não se mostrou incomodado com as vaias. "Não é o povo quem julga, mas os jurados", disse.
A hostilidade, nunca vista antes na história do Sambódromo (no ano passado, a Beija-Flor, que dividiu o título com a Mangueira, também foi vaiada, mas não com tanta intensidade como a Imperatriz), atingiu o auge na passagem pelo setor 5, quando alguns foliões das frisas e cadeiras jogaram moedas nos componentes da escola, numa alusão de que a vitória no Grupo Especial teria sido comprada.
A situação, no entanto, melhorou logo depois. A comissão de frente, com 15 integrantes vestidos de holandeses, conquistou aos poucos o público, principalmente quando eles jogavam em direção ao chão o pano verde e amarelo usado como adereço, produzindo um belo efeito visual. A Imperatriz mostrou na avenida o enredo "Brasil mostra a sua cara em...Theatrum Rerum Naturalium Brasilae", sobre obras de pintores holandeses que retrataram o País durante o século 17. A carnavalesca Rosa Magalhães foi a grande ausência no desfile. "Normalmente, ela assiste em casa", justificou o presidente da agremiação, Wagner Araújo.
Ao contrário da Imperatriz, a Mocidade Independente de Padre Miguel, quarta colocada na classificação do Grupo Especial, foi recebida com gritos de "é campeã" pela platéia. "Estou feliz; o público elegeu a nossa escola e, como diz o ditado, a voz do povo é a voz de Deus", afirmou o carnavalesco da escola, Renato Lage. Como na segunda-feira de carnaval, a Mocidade, que fez uma homenagem ao maestro Heitor Villa-Lobos, empolgou o público com a comissão de frente de "sapos acrobatas", apresentado pelo irreverente grupo circense Intrépida Trupe.
O abre-alas, com o ator Marcos Palmeira na pele do maestro regendo 20 músicos de uma orquestra de cordas, também emocionou a avenida. A revolta com o quarto lugar da verde e branco de Padre Miguel já era patente nas faixas de protesto, estendidas nas arquibancadas do setor 1, contra o polêmico 7,5 dado à Mocidade pelo jurado Carlos Pousa, no quesito evolução - "Por que o 7,5?" ou "De quanto foi o cachê, senhor Carlos Pousa?".
O desfile de sábado foi aberto com 15 minutos de atraso, às 20h15, pela Unidos do Porto da Pedra seguida pela Unidos da Tijuca, vice-campeã e campeã do Grupo de Acesso A, que ano que vem estarão desfilando entre as 14 do Especial. Com alegorias criativas e bem acabadas - o segundo carro foi todo revestido com lama do Morro do Borel, na Tijuca (zona norte), onde a escola nasceu-, a Unidos da Tijuca foi muito bem recebida na Sapucaí. O samba, um dos melhores da safra de 99, também empolgou o público.
Como nos outros anos, 200 foliões do grupo Cento Carnevale d´Europa, escola de samba italiana, se apresentaram durante o intervalo entre o fim do desfile da Unidos da Tijuca e a concentração do Acadêmicos do Salgueiro, quinta colocada no grupo Especial. A sensação foi o puxador oficial da Mangueira, Jamelão, que veio como principal destaque do Cento. "É tudo uma festa", disse. Com enredo "Salgueiro é sol e sal nos 400 anos de Natal", em homenagem a capital potiguar, a vermelho e branco da Tijuca fez um desfile correto, mas sem empolgação - a não ser na hora do esquenta com o hit "Enguei as mãos", do padre pop star Marcelo Rossi.. Em seguida, veio a Mocidade, que, assim como na segunda-feira de carnaval, não conseguiu evitar buracos entre as alegorias, responsáveis pela perda de preciosos pontos que lhe tiraram o campeonato. A Viradouro, terceira colocada, agitou a Sapucaí, com Joasinho Trinta à frente, numa espécie de regente da escola. Depois, veio a Beija-Flor, a vice-campeã do carnaval carioca de 1999. O puxador Neguinho não escondeu a insatisfação com o resultado. "Vamos mostrar para eles quem realmente merece o título", disse, antes do desfile. A noite se encerrou com a campeã Imperatriz Lepoldinense.