Usuários do transporte coletivo municipal e metropolitano de Londrina foram pegos de surpresa nesta sexta-feira (22) com a paralisação dos motoristas de três empresas: TCGL (Transportes Coletivos Grande Londrina), TIL e Londrisul. O estopim, segundo a categoria, foi o não pagamento do adiantamento, conhecido como “vale”, que deveria ter sido empenhado nesta semana. Já as empresas negociaram durante o dia mais prazo diante das perdas financeiras provocadas pela pandemia. O impasse continuava e a paralisação poderia se estender o final de semana adentro em pelo menos 35% do transporte urbano e parte do metropolitano, segundo o Sinttrol (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Londrina).

Imagem ilustrativa da imagem Impasse com TCGL pode estender paralisação do transporte coletivo
| Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

A Londrisul, que opera 65% do transporte coletivo urbano de Londrina, informou que pagou o "vale" na metade de manhã e o restante à noite e solicitou que os colaboradores retornassem neste sábado (23). Já os diretores da TCGL se reuniram com representantes do sindicato no início da noite, alegaram falta de recursos e pediram mais prazo. A proposta foi pagar 50% na próxima segunda-feira (25) e o restante na terça-feira (26), mas os trabalhadores não aceitaram. A TCGL opera 35% do transporte coletivo de Londrina e é responsável pela TIL no transporte metropolitano.

O benefício do "vale" é depositado na conta dos funcionários no 15° dia após o salário. "Existe compromisso no acordo coletivo das empresas que determina que elas precisam fazer o adiantamento salarial de 50%. Na quinta-feira (21) fomos surpreendidos com comunicado das empresas, que avisou que não teria condições de creditar o valor. Os empregados têm contas, usam remédios, têm empréstimo para pagar e resolveram não continuar com a prestação do serviço", destacou Idenildo Dias Alves, secretário-geral do Sinttrol.

Outra cobrança é para a remuneração do PPR (Programa de Participação de Resultados) referente ao ano de 2020, que não teve nenhuma parcela cumprida. "Tínhamos anuênio e virou PPR, que na verdade independe do lucro e é referente a 70% do salário. Além disso, temos convivido com atrasos de pagamentos. O desse mês já foi parcelado", relatou um trabalhador, que preferiu não ser identificado. A estimativa da entidade é de que até 1.200 funcionários estejam parados.

USUÁRIOS SE REVOLTAM

Surpresos com a paralisação sem aviso, usuários do transporte coletivo se revoltaram com a situação. "A tarifa sempre sobe e, para nós, não melhora nada. Precisamos de ônibus circulando", reclamou Olivia Alves da Silva, que mora em Jataizinho (Região metropolitana de Londrina) e trabalha no Hospital do Câncer.

A diarista Célia Vitorino, que também mora em Jataizinho, saiu de casa às 5h50 a caminho de Londrina e, ao chegar no Terminal Central, ficou sabendo da paralisação. "Não tem ônibus para eu ir trabalhar e o jeito vai ser voltar para casa. Perdi o dia de trabalho e ainda vou gastar com as passagens. Se continuar assim, a tarde será um caos", desabafou.

ACORDO COLETIVO

O Sinttrol afirma que a paralisação não tem relação com a negociação do acordo coletivo e nega estar manipulando trabalhadores para forçar a prefeitura a liberar recursos. "Se o dinheiro tivesse na conta, não haveria paralisação. Existe a negociação em curso e não há relação. Não é esse nosso objetivo" disse o secretário-geral do Sinttrol.

Já a Prefeitura de Londrina não se manifestou sobre o aumento da passagem na cidade, hoje em R$ 4,25. Em 2020 não houve atualização na tarifa. “Verificamos que nossa negociação coletiva não se resolve porque existe impasse na execução do contrato de concessão pública. As empresas querem o reequilíbrio econômico-financeiro e a CMTU reconhece isso, que não dá para ser resolvido apenas com majoração tarifária”, afirmou o presidente do Sinttrol, João Batista.

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| Foto: Micaela Orikasa/Grupo FOLHA

OUTRO LADO

Em nota, a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) informou que as concessionárias do serviço de transporte público coletivo, Londrisul e TCGL, foram notificadas para retornar imediatamente com a operação de todas as linhas do sistema de transporte, sob pena de sanções e multas contratuais.

Já a Londrisul sustentou que "devido à pandemia de Covid-19, as empresas que operam o sistema de transporte coletivo de passageiros vêm amargando prejuízos ao longo do último ano." A concessionária justificou que "os prejuízos impediram o pagamento da integralidade do vale". Já no início da noite a empresa informou que realizou 100% dos depósitos. "Importante destacar que os demais 50% foram pagos na manhã de hoje (sexta) com disponibilização de movimentação imediata pelos funcionários". Procurada, a TCGL, que representa a Grande Londrina e TIL, não se manifestou sobre a paralisação.

Essa foi a segunda paralisação do transporte coletivo em Londrina em três meses. Em outubro do ano passado, empregados da TCGL e da TIL deixaram os postos pedindo o saldo do PPR. Em dezembro, o Sinttrol tentou promover uma paralisação, no entanto, as empresas conseguiram na Justiça um interdito proibitório com multa e o sindicato recuou.