Imigração dos EUA decide que Elián deve voltar a Cuba
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quarta-feira, 05 de janeiro de 2000
Miami, 05 (AE-AP) - O Serviço de Imigração e Naturalização (INS, pelas iniciais em inglês) dos EUA decidiu hoje (05) pelo regresso do garoto cubano Elián González, de 6 anos, a Cuba, pondo fim a mais de um mês de guerra verbal entre o regime de Havana e as organizações anticastristas da Flórida. Em Washington, a funcionária do INS Doris Meissner anunciou a decisão, na qual a instituição reconheceu o direito do pai de Elián, Juan Miguel González - que vive em Cuba e exige o retorno do garoto -, de tê-lo de volta.
A funcionária acrescentou que o INS dará toda a assistência a González, caso queira viajar para Miami para buscar o garoto, ou a algum parente de Elián nos EUA que se disponha a ir a Cuba para entregá-lo. Ela precisou ainda que a entrega deve ocorrer até o dia 14.
Elián foi um dos três sobreviventes de um naufrágio que matou a mãe dele, seu padrasto e outros nove cubanos que tentavam entrar ilegalmente nos EUA. O garoto foi resgatado perto de Fort Lauderdale boiando numa câmara-de-ar. Entregue a tios-avôs que vivem em Miami, foi convertido pelos grupos de lobby anticastrista da Flórida em símbolo da "resistência ao comunismo" e apareceu em comerciais de TV usando roupas com o logotipo da Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA) - entidade acusada pelo governo de Cuba de financiar atos terroristas na ilha.
O pai do garoto, funcionário de um hotel no balneário cubano de Varadero, porém, reclamou o retorno de Elián, alegando que sua ex-mulher não o tinha consultado antes de tentar tirá-lo da ilha. Imediatamente recebeu o apoio pessoal do presidente cubano
Fidel Castro, que convocou manifestações de rua nas quais milhares de estudantes e trabalhadores reivindicavam a volta do garoto a Cuba.
Enquanto a Casa Branca procurava lavar as mãos sobre o destino de Elián - empurrando a decisão para as autoridades de imigração e os tribunais da Flórida -, os grupos cubano-americanos insistiam que a guarda do menor deveria ser concedida definitivamente aos tios-avôs. O garoto foi cercado de brinquedos caros, ganhou uma grande festa de aniversário, passeou no Disney World e foi levado a uma escola americana. Os advogados insistiam que ele já estava adaptado ao estilo de vida dos EUA.
A decisão do INS foi recebido com revolta na Flórida. "Estamos convocando atos de desobediência civil, considerando a hipótese de cercar a casa dos parentes de Elián com um cordão humano e pedindo à comunidade latina que se solidarize conosco"
declarou José Basulto, presidente da organização Irmãos para o Resgate, que auxilia balseiros cubanos na chegada aos EUA. "Essa decisão é um ultraje à dignidade do exílio cubano", acrescentou Ramón Saúl Sánchez, delegado nacional (presidente) do Movimento Democracia.
Em Havana, o governo cubano reagiu com cautela ao anúncio. Um comunicado divulgado pela TV estatal advertia a população para não alimentar "excessivo otimismo" quanto à volta de Elián, enquanto não houvesse informações precisas sobre o caso. "É preciso levar em conta que a máfia cubano-americana e a extrema direita em Washington farão tudo para evitar o retorno do menor a Cuba", concluía a nota.