O suspeito de matar a menina Rachel Genofre e abandonar o corpo dela em uma mala na Rodoferroviária de Curitiba, em 2008, confessou o crime em depoimento à PCPR (Polícia Civil do Paraná) nesta terça-feira (24). Carlos Eduardo dos Santos prestou depoimento a três delegados na Penitenciária II de Sorocaba, em São Paulo, onde cumpre desde 2016 uma pena de 22 anos por estelionato, estupro, roubo e falsificação de documento.

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Segundo a delegada Camila Cecconello, o suspeito reconheceu a vítima por meio de uma foto apresentada durante o depoimento e foi convencido a dar sua versão do crime diante do fato de que a polícia já havia obtido sua identificação por meio de DNA.

De acordo com a delegada Camila Cecconello, o suspeito reconheceu a 
vítima por meio de uma foto apresentada durante o depoimento
De acordo com a delegada Camila Cecconello, o suspeito reconheceu a vítima por meio de uma foto apresentada durante o depoimento | Foto: Geraldo Bubniak/AEN

A elucidação do crime, 11 anos depois, por meio da comparação genética entre o material encontrado sobre o corpo da criança e o perfil do suspeito cadastrado no Banco Nacional de Perfis Genéticos, foi anunciada pela Sesp (Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná) no último dia 19.

VERSÃO

Santos confirmou que morava no centro de Curitiba na época do crime — segundo a polícia, a cerca de 750 metros de distância do Instituto de Educação, onde Rachel Genofre estudava. O suspeito disse que observou a rotina da menina antes de abordá-la dizendo ser produtor de um programa infantil de TV.

Ele teria convidado a criança a participar e a convencido a ir até seu escritório para assinar os papéis. Ao chegar, a vítima teria estranhado o local para onde ele a levou e começado a gritar. “Nesse momento, então, que ele acabou cometendo o ato sexual e matando a vítima”, disse a delegada, em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (25), na DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa). “Ele tinha medo que testemunhas ouvissem e acabou a sufocando e matando”, contou. O suspeito disse que estuprou e matou a criança no mesmo dia em que a raptou.

Ele teria escolhido a rodoviária para abandonar o corpo por considerar que poderia transitar com uma mala pelo local sem levantar suspeitas. A polícia tenta transferir o suspeito para Curitiba, onde espera fazer uma reconstituição do caso. Informações como horários e locais citados no depoimento estão sendo apuradas ao longo desta semana. A expectativa é concluir estas etapas em menos de um mês.

Durante o depoimento, o suspeito mencionou outras pessoas cujo possível envolvimento será apurado. A delegada disse que a polícia não vai divulgar informações sobre eventuais outros suspeitos. “Ele passou algumas informações, mas a gente prefere não comentar até saber se ele falou ou não a verdade”, disse.

A delegada afirmou que a polícia não tem informações que liguem o suspeito a outros crimes em Curitiba.

IDENTIFICAÇÃO

Santos — que tem 54 anos e é natural de São Vicente (SP) — era procurado pela polícia de São Paulo na época em que cometeu o crime em Curitiba. Ele estava em regime semiaberto, mas deixou o estado. Ele estaria morando na capital paranaense havia menos de um ano, onde trabalhava como autônomo em serviços diversos.

“A gente percebe que ele era preso, saía em regime semiaberto e se mudava para outras cidades e cometia crimes”, contou. “Ele não ficava muito tempo no mesmo lugar.”

Para a delegada, o fato de o suspeito não ser do Paraná dificultou sua identificação por meio das investigações. Ele não foi citado por nenhuma testemunha e não figurava como suspeito. Santos também tinha um segundo nome, que usava para a prática de estelionato. O suspeito tem seis indiciamentos por estupro — todos contra vítimas de faixa etária similar à de Rachel, que tinha 9 anos na época do crime.

Cecconello contou que o suspeito se disse arrependido do crime, mas que narrou sua versão “sem emoção”. “Ele, em certos momentos, dizia: ‘Fui uma pessoa ruim, fui um monstro’. Mas [eram] palavras, né? Não que a gente tenha notado um arrependimento mesmo, ou algo de sentimento”, contou.

Para a delegada, ainda é cedo para traçar um perfil psicológico. “Tivemos esse contato durante esse interrogatório. Vemos que trata-se de uma pessoa acostumada a cometer estelionatos e estupros, então é alguém acostumado a enganar, a mentir, e que tem uma certa frieza”, disse. “Um exame vai dizer se estamos diante de um problema mental ou não.”

ALÍVIO

Presente à coletiva, o advogado Daniel da Costa Gaspar, que representa o pai de Rachel Genofre, disse que o pai da vítima se mostrou aliviado ao saber da confissão — que também dissipa a desconfiança de que o crime poderia ter sido cometido por alguém próximo à família.

“Agora, com todas as confirmações e com a confissão dele, essa dúvida finalmente se passa e alivia não apenas a família, mas todo um círculo de amigos e pessoas que tinham o prazer de ver a Rachel crescer”, disse.

Para o advogado, a confissão contribui para que o suspeito seja denunciado e julgado com um conjunto probatório consistente. “Agora a gente consegue começar a materializar aquilo que estamos conversando há alguns dias: levar esse homem ao banco dos réus com mais provas do que apenas o DNA — com provas robustas, que garantam uma condenação severa e que garantam à sociedade paranaense a justiça que está buscando nesses 11 anos”, disse.

A advogada Cássia Bernardelli, que representa a mãe e familiares de Rachel, disse à FOLHA que ainda espera ter acesso ao exame de DNA e que pedirá um exame de arcada dentária do suspeito para confirmar a autoria. “Quero ter certeza absoluta de que é esse o assassino”, disse. “Todos nós queremos que seja ele. Mas precisamos verificar os resultados do exame de DNA e os outros indícios”, explicou.