Brasília, 07 (AE) - O aumento populacional dos jacarés na Amazônia, que já está causando desequilíbrio ecológico e colocando em risco as famílias que moram às margens dos rios, forçou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a iniciar um estudo para legalizar a caça do animal. Nos últimos meses, dezenas de pessoas foram atacadas por jacarés em diversas cidades ribeirinhas do Amazonas. Quatro delas morreram.
O Ibama lançou um projeto de pesquisa na Estação Ecológica Mamirauá e na Reserva Extrativista do Madeira, ambas no médio Solimões, no Amazonas, e a definição sobre a liberação da caça ao jacaré será dada pela Câmara de Fauna do orgão. "Estamos montando um grupo de trabalho para avaliar a forma legal para liberarmos a caça, mas em forma de manejo", afirma o superintendente do Ibama no Amazonas, Hamilton Casara.
De acordo com Casara, se a caça for liberada haverá um melhor aproveitamento do potencial do animal, que fornece, além do couro e a carne, a urina - usada como fixador de perfumes - e dentes. "Isso pode ser feito dentro de um regime de racionalidade, utilizando a mão-de-obra da própria população ribeirinha", diz Casara.
Pelos estudos feitos até agora pelo Ibama, que devem estar prontos entre julho e agosto, há uma tendência de crescimento da população de jacarés. Isso vem sendo registrado em Lábrea, no leste do Amazonas, onde alguns pescadores foram mordidos pelos animais, que chegam a entrar nas casas na área ribeirinha do município. Nos últimos dois anos, quatro pessoas morreram em decorrência de ataque de jacarés.
Na região do médio Solimões, onde a maioria das cidades fica perto de rios também já foram registrados casos de ataque de jacarés. Em Tefé (AM), o medo começa a tomar conta da população ribeirinha. Na reserva Mamirauá, próxima à cidade, o número de jacarés cresceu por causa da proibição de abate do animal há alguns anos. "Está havendo o crescimento da população de jacarés e é necessário um manejo para evitar o desequilíbrio ecológico", explica Casara.
Os estudos feitos pelo Ibama estão analisando também a forma de fiscalização, para evitar uma caçada indiscriminada. Se liberada, haverá uma cota para cada região, distinguindo as espécies, reprodutoras, filhotes e animais adultos. "Em primeiro lugar vamos fazer dois projetos-pilotos, que serão nas áreas de preservação ambiental", explica o superintendente do Ibama.
A fiscalização será feita por cerca de 800 pessoas que fazem parte hoje do grupo de agentes comunitários formado pelo Ibama. Eles ajudaram na apreensão, em um só dia, de oito mil quilos de carne de jacaré no interior do Estado. Na mesma operação, o Ibama descobriu que comerciantes de outros países estão financiando a caça indiscriminada de jacarés, levados para fora do Brasil de forma ilegal.