A IA (Inteligência Artificial) e a empatia foram os temas propostos para a redação do Vestibular 2023 da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Muito temida pelos alunos, a redação tem um peso grande na nota final e, muitas vezes, pode ser decisiva para a conquista da vaga, sendo aguardada com ansiedade pelos candidatos. No primeiro dia de provas da segunda fase do concurso, iniciada neste domingo (2), os vestibulandos também realizaram as provas de língua portuguesa, literatura em língua portuguesa e língua estrangeira.

Na primeira proposta da prova de redação, os candidatos receberam um texto sobre as discussões acerca do chatGPT durante o Fórum Econômico Mundial, realizado no último mês de janeiro, em Davos, na Suíça. O texto sobre o chatbot criado nos Estados Unidos e lançado em novembro de 2022 era acompanhado de uma charge que mostrava um homem segurando uma placa com os dizeres: “perdi meu emprego para um robô”. E ao lado do homem, estava um robô também segurando uma placa onde se lia: “fui trocado por um modelo com alguns megabytes a mais”. Os estudantes foram chamados a redigir um texto dissertativo-argumentativo que colocasse em discussão o futuro da IA em um espaço de 16 a 20 linhas.

Imagem ilustrativa da imagem IA e empatia são temas de redação no vestibular da UEL
| Foto: Gustavo Carneiro

O segundo texto teve como base uma tirinha que mostrava um aluno careca sendo ridicularizado pelos colegas em uma sala de aula, diante do professor. Na sequência, o professor, em casa, na frente de um espelho, se recorda do aluno e decide raspar o cabelo e a barba. Por fim, o professor entra em sala de aula e surpreende os alunos com o novo visual.

A partir da tirinha, os vestibulandos deveriam produzir uma resposta-interpretativa que mostrasse claramente a intenção do autor, que era criticar o bullying na escola, ressaltando o papel do professor no desenvolvimento da empatia. O texto deveria ter entre cinco e oito linhas.

Candidata a uma vaga no curso de relações públicas, Amanda Lopes da Silva não teve dificuldades para escrever os textos da prova de redação. “O primeiro foi um tema bem atual, não esperava, mas a charge sobre IA estava bem fácil de interpretar. Todo mundo que estava na internet por esses dias vai saber falar, nem que seja um pouquinho. No outro tema, falei sobre o acolhimento do professor com o aluno, a ideia de que o professor seja a autoridade dentro da sala de aula não só educando, mas também influenciando e mostrando que aquilo não estava certo”, comentou a estudante, que considerou difíceis as questões de língua portuguesa e literatura. “Fiquei muito em dúvida entre mais de uma em várias questões.”

O vestibulando Elton Rodrigo Delgado de Oliveira, que tenta uma vaga no curso de arquitetura e urbanismo, já esperava por temas bastante atuais na redação e escreveu seus textos com tranquilidade. “O restante da prova estava mais difícil. Em literatura, havia questões sobre uns seis livros diferentes, com perguntas bem difíceis sobre esses livros. Não li todos eles. Mas acho que, no geral, fui bem. Estou confiante.”

“A universidade pode apresentar para os alunos até quatro gêneros textuais. Neste ano, apresentamos dois gêneros. A UEL, mais uma vez, trata de questões essenciais para a sociedade e faz com que os jovens reflitam sobre essas questões importantes na vivência das pessoas”, disse a coordenadora de Processos Seletivos da UEL, Sandra Garcia.

Professora de gramática e redação do Curso Prime, Márcia Chiréia avaliou que as redações da UEL geram temor nos alunos por exigir uma estruturação diferente do que é solicitado na prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). “Eles têm mais facilidade em escrever a redação do Enem, que é uma ‘receita pronta’. E a UEL não aprecia a estruturação tão filosófica quanto o Enem aprecia. Para a UEL, não é tão importante o repertório cultural do aluno, mais importante é o repertório social”, comparou.

Segundo a professora, as duas questões mantiveram o padrão esperado para as provas da instituição e manteve o estilo adotado nos concursos anteriores à pandemia. “O que me chamou a atenção nesta versão 2023 é o número de linhas da primeira proposta. Percebi que aumentou em relação aos outros anos que, no máximo, exigia 15 linhas.”

Sobre a prova deste domingo, Chiréia destacou que o foco na argumentação de causa e consequência da primeira proposta é um pedido comum nas provas da UEL. “A seleção do texto usado foi bastante cuidadosa. O candidato precisava ler os textos dados como base e perceber que induziam à interpretação de que a IA, apesar dos benefícios, pode trazer impactos negativos à sociedade, sobretudo ao que se refere à substituição da mão-de-obra humana, ampliando, por exemplo, as desigualdades. O candidato deveria estar atento ao título, já que não era opcional por conta do espaço deixado.”

Também bastante recorrente em vestibulares anteriores da UEL, a segunda proposta, embora pareça mais simples por ter um número reduzido de linhas, destacou a professora, pode ter assustado mais os alunos do que a primeira porque exigia deles interpretação, sem emitirem opinião. “De uma maneira superficial, o aluno pode falar só da questão do bullying quando, na realidade, tem essa questão da influência do professor, da empatia. Pelo fato de ser uma proposta que precisa ter bastante concisão, vejo que tem uma dificuldade quando isso acontece. Muitas vezes, eles não conseguem explicar de forma clara e suficiente no número de linhas dado.”

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| Foto: Gustavo Carneiro

Índice de abstenção é de 12,60% no primeiro dia

Dos 6.772 aprovados na primeira fase do Vestibular 2023 da UEL, 853 não compareceram aos locais de prova neste domingo (2), um índice de abstenção de 12,60%. Nas provas da primeira fase, realizadas em 5 de abril, dos mais de 20,8 mil inscritos no concurso, 7.628 não fizeram as provas. Um índice de 36%.

Segundo a coordenadora de Processos Seletivos da UEL, Sandra Garcia, o percentual registrado na segunda fase representa a “volta à normalidade” em relação aos anos anteriores à pandemia. Em 2020, o último concurso realizado em duas fases antes da Covid-19, o índice de abstenção no primeiro dia da segunda etapa do concurso ficou em 12,84%.

“Muitos candidatos não vieram fazer a prova porque já passaram em outra instituição ou na própria universidade, através do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Acho que foi positivo. Esperamos ter número suficiente de alunos para as vagas abertas. Essa é a principal preocupação e que todos possam ter acesso à universidade”, disse Garcia.

O primeiro dia de provas correu sem grandes intercorrências. Até as 16 horas, havia sido registrado apenas um caso de atraso, de uma aluna que chegou cinco minutos após o horário permitido para ingressar no local de prova e perdeu o concurso, e um outro candidato necessitou de atendimento médico.

Neste domingo, além da prova de redação, os vestibulandos responderam às 20 questões de língua portuguesa e literatura e dez questões de língua estrangeira. Eles puderam optar entre inglês, espanhol e francês. O gabarito das provas do primeiro pode ser conferido no site da Cops (www.cops.uel.br).

Na segunda-feira (3), os vestibulandos farão a prova discursiva com conteúdo de três disciplinas, de acordo com o curso escolhido. Serão quatro questões de cada disciplina, totalizando 12 questões. Na terça-feira (4), serão aplicadas as provas de habilidades específicas para os candidatos inscritos nos cursos de arquitetura e urbanismo, design gráfico, design de moda e artes visuais.

A lista com os nomes dos aprovados será divulgada no dia 4 de maio, às 12 horas. A pré-matrícula dos novos alunos acontece de 4 a 14 de maio, no Portal do Estudante, e as aulas do ano letivo 2023 começam em 17 de julho.(S.S.)