Um dia após o país ultrapassar a marca de meio milhão de óbitos, a superintendente do HU de Londrina (Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná), Vivian Feijó, descreveu a situação local como caótica neste domingo (20). “O PS (Pronto-socorro) está cheio, com 41 pacientes no tubo.” Questionada se há possibilidade de transferir esses pacientes para outras unidades da 17ª Regional de Saúde de Londrina, ela afirmou que não. “Em todo lugar há zero vagas. Caóticos!!! Estamos tentando rodar leitos”, destacou.

O PS (Pronto-socorro) está cheio, com 41 pacientes intubados e 60 pessoas estão aguardando vagas de UTI.
O PS (Pronto-socorro) está cheio, com 41 pacientes intubados e 60 pessoas estão aguardando vagas de UTI. | Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

A diretora clínica do HU, Luiza Kazuko Moriya, explicou que a situação é bastante crítica. “Ter 41 intubados no PS é uma marca que é o dobro do que a gente consegue administrar de modo tranquilo. Além dos intubados, tem outros pacientes que estão para ser intubados e que precisam de uma assistência intensiva mais precoce e talvez aí não piorassem. Então é uma situação caótica onde 60 pessoas estão aguardando vagas de UTI.”

Moriya ressalta que entre esses há várias pessoas de faixas etárias mais jovens. “Com a imunização a faixa etária de contaminados pela Covid que está diminuindo. Há faixas etárias de pacientes que potencialmente teriam potencial para melhorar, mas que se deparam com essa interferência de falta de UTI. É uma situação bastante difícil para gente”, declarou. Segundo ela, não dá para saber quantos ainda precisariam ser intubados, porque a cada SAMU que chega, o paciente evolui de um jeito diferente. “Às vezes os que são trazidos pelo Samu com máscaras de alto fluxo já precisam ser intubados logo que chegam. Então depende dos pacientes”, declarou.

Há pacientes que são transferidos para Arapongas, Santo Antônio da Platina, Curitiba, mas Moriya ressalta que no momento não há vagas para transferir. “A Central de regulação faz buscas na medida do possível, mas há casos em que a própria família nega a transferência para outro município quando se acha a vaga, então o paciente fica esperando na fila. É uma situação cruel. A gente não pode fazer nada”, destacou.

Ela ressaltou que a fila demora, porque são pacientes crônicos, que ficam muito tempo em UTI. “Esses pacientes apresentam piora do quadro rápida, mas a melhora é lenta.” Diante disso, as cirurgias eletivas têm sido cada vez mais postergadas para dar lugar a esses pacientes com piora do quadro clínico. “Há cirurgias programadas que estão esperando há bastante tempo. Como temos registrado uma piora clínica, temos tentado marcar as cirurgias eletivas que se tornaram emergenciais no meio da semana, para não aglomerar esses pacientes. Mesmo assim vamos cancelando as cirurgias, porque não temos onde internar depois que operamos esses pacientes", expôs.

"Aquele quadro de tomar os leitos não Covid para colocar pacientes com Covid positivo graves, com indicação até de UTI, está voltando. Onde tiver vagas a gente vai colocando, mas para a UTI o número é limitado. Mesmo que o hospital abra mais duas UTIs hoje, em termos de equipamentos talvez fosse possível, mas não há recursos humanos. Não temos nem médicos, nem fisioterapeutas e nem profissionais de enfermagem para atender esses pacientes”, destacou.

A capacidade instalada de leitos do HU-UEL para a Covid está mantida na sua totalidade, com todos os seus leitos exclusivos em operação, sendo 96 de enfermaria, 106 de UTI adulto e 11 de UTI pediátrica.

“Estamos rodando os leitos o tempo todo. O NIR (Núcleo Interno de Regulação) faz duas visitas multidisciplinares diárias nos setores emergenciais, tanto no hospital de retaguarda como no pronto-socorro, em cada setor chave. Tendo alta de algum paciente da UTI já cai na central que puxa o próximo paciente. Tudo precisa ser muito rápido, pois com essa fila não dá para segurar vaga ou perder tempo até que avise o setor que está aguardando. O fluxo é muito rápido”, destacou.

ESGOTAMENTO FÍSICO E MENTAL

Com esse volume alto no fluxo de paciente, o esgotamento dos profissionais está bastante aparente. “Se não é o esgotamento físico, há o esgotamento mental. A gente se solidariza com eles por causa do cansaço e eles entendem como esse sacrifício como uma situação necessária. Eventualmente, temos ajuda de profissionais que não estão na linha de frente para dar descanso ao pessoal que está desde 2020 na linha de frente emergencial.”

Ela reforçou as recomendações que vêm sendo repetidas exaustivamente, mas que muitas pessoas têm negligenciado, como o uso de máscaras, a necessidade de manutenção do distanciamento social e a higiene constante das mãos. “As recomendações são as mesmas. Mesmo quem teve Covid não dá para dizer que não vai ter mais. A gente tem observado pacientes que tiveram sorologia positiva e está tendo a doença de novo. Não sei se isto está relacionado à queda da imunidade com o fato desses pacientes permanecerem em algum local com muita transmissibilidade, mas eles acabam pegando uma segunda vez. Não dá para deixar de tomar cuidados individuais e que acabam servindo para proteger o coletivo também.”

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