Homem é condenado a mais de 28 anos de prisão por feminicídio em igreja
Everton Schafer matou a ex-companheira enquanto ela almoçava na Paróquia São Luiz Gonzaga, na zona leste de Londrina
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 07 de agosto de 2024
Everton Schafer matou a ex-companheira enquanto ela almoçava na Paróquia São Luiz Gonzaga, na zona leste de Londrina
Jessica Sabbadini - Especial para a FOLHA
Após mais de 10 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Londrina condenou nesta terça-feira (6) Everton Paulo Schafer, 40, a quase três décadas de reclusão pela morte da companheira Lígia Fernanda Silva, 44. Após o crime, em abril de 2022, ele chegou a fugir, mas foi preso em Piracicaba, no interior de São Paulo, dias depois. O réu já tinha um histórico de violência doméstica. Ele confessou o crime.
O crime aconteceu no dia 5 de abril de 2022. Lígia Fernanda Silva estava almoçando na Paróquia São Luiz Gonzaga, no Conjunto Armindo Guazzi, na zona leste de Londrina, quando foi atingida por disparos de arma de fogo. Schafer fugiu, mas foi preso três dias depois em Piracicaba, onde permanecia detido desde então. Na época dos fatos, ele confessou a autoria do crime e disse que estava a caminho do Nordeste.
Durante julgamento no Tribunal do Júri nesta terça-feira, o réu foi condenado a 28 anos, 1 mês e 15 dias por feminicídio, que teve como qualificadores o meio cruel, motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima e emprego de arma de fogo de uso restrito.
De acordo com o Néias (Observatório de Feminicídios de Londrina), o histórico de violência de Schafer contra a companheira ficou evidente durante a fala de familiares da vítima, sendo que ela já havia denunciado uma agressão e obtido uma medida protetiva contra ele.
Por outro lado, os advogados de defesa de Schafer, Marcos Vinicius Alves da Silva e Laerte Henrique Vanzella Pereira, afirmaram à FOLHA que o histórico de violência entre o casal não foi comprovado durante o processo.
O Néias disse que a defesa “protagonizou uma tentativa frustrada de classificar o crime como homicídio privilegiado, alegando injusta provocação por parte da vítima”. Sobre isso, os representantes de Schafer afirmaram que em momento algum tentaram demonstrar que o ato foi “certo, correto ou justificável”, mas que queriam o "cumprimento da lei". Se caracterizado como homicídio privilegiado, a pena poderia ter redução de um sexto a um terço.
Além disso, o Observatório de Feminicídios de Londrina reforçou que houve momentos de desrespeito à memória da vítima por parte da defesa ao proferir uma suposta provocação dita por Lígia Silva antes de ser atingida pelos disparos. Sobre isso, a defesa afirmou que “não buscou em momento algum criminalizar suposta ação da vítima nem se quer dizer algo sobre sua personalidade ou reputação social, e sim buscou desde quando assumiu o processo evidenciar as circunstâncias dos fatos”, complementa.
O Neias pontuou também que houve questionamento por parte dos defensores sobre a qualificadora do feminicídio, já que o réu teria matado “por amor” e não por menosprezo à condição de mulher. Sobre isso, Marcos Vinicius Alves da Silva e Laerte Henrique Vanzella Pereira disseram que eles nunca expuseram que Schafer matou “porque amava a mulher”, mas que o crime foi “influenciado pela estrutura psicanalítica do ‘ID’”, parte da teoria de Sigmund Freud.
Ao reforçar a motivação, o Néias afirma que o feminicídio tem como base o sentimento de posse do homem perante uma mulher. “Só se fere ou mata aquilo que se despreza, aquilo que se desumaniza, aquilo que se considera 'coisa'. Feminicídios deixarão de acontecer quando mulheres deixarem de ser consideradas posse”, finaliza a nota.
O réu está preso na Casa de Custódia de Londrina, mas a defesa busca a transferência para Blumenau (SC), para que ele cumpra a pena próximo ao convívio familiar.