Haider convoca jornalistas e promove ofensiva de charme
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segunda-feira, 07 de fevereiro de 2000
Por Melissa Eddy
Klagenfurt, áustria, 07 (AE-AP) - Dando uma pausa em sua disputa com o mundo, Joerg Haider mostrou um outro lado pessoal hoje (07), quando convidou jornalistas estrangeiros para tomar café e comer sanduíches a fim de falar com eles sobre sua imagem - e como todos o entenderam mal.
Israel, que o baniu, irá em breve tornar-se um amigo, disse ele, e a única coisa que o presidente dos EUA, Bill Clinton, tem a temer é perder dele na maratona de Nova York.
Mesmo em meio à sua ofensiva de charme, Haider demonstrou mais uma vez seu outro lado - ele recusou-se a condenar coletivamente a Waffen SS (tropa de choque nazista), em comentários feitos ao diário alemão Die Welt.
"Creio que não pode haver purgação coletiva de culpa ou parcial culpa e nem uma condenação coletiva", disse Haider, numa entrevista a ser publicada nesta terça-feira.
Haider afirmou que a áustria é uma nação "onde a culpa individual é que importa. Portanto, nunca poderá ser a Waffen SS como tal mas apenas indivíduos que falharam e que carregam a responsabilidade" por crimes cometidos pela organização nazista.
Os comentários foram os últimos numa série de declarações que Haider tem feito nos últimos anos simpáticas a certos aspectos do regime nazista.
Em 1990, ele afirmou a um grupo de veteranos da Segunda Guerra Mundial que "nossos soldados não foram criminosos; no máximo, eles foram vítimas". Cinco anos depois, ele disse em outra convenção de veteranos, incluindo ex-membros da Waffen SS, que "ainda existem pessoas decentes de bom caráter que também se agarram a suas convicções, apesar da maior das oposições, e permaneceram fiéis a suas convicções até hoje".
Tal linguagem não foi ouvida hoje em Klagenfurt - território onde o pessoal de Haider planejou a ofensiva de charme.
Caríntia, a província governada por Haider, é um local de cartão-postal, com límpidos lagos em montanhas e imponentes picos nevados alpinos. Klagenfurt, sua capital, tem poucos residentes de aparência estrangeira e a cidade tem um ar de prosperidade sólida, pacífica.
Haider convidou os jornalistas estrangeiros a Klagenfurt para mostrar que os austríacos e "especialmente membros do Partido da Liberdade... são boas pessoas".
Haider tornou-se governador - um cargo que havia perdido anteriormente por causa de várias declarações controvertidas incluindo o elogio a "decentes políticas trabalhistas" na Alemanha nazista - depois que seu partido ganhou a maioria dos votos nas eleições provinciais em 1999, pouco antes de seu partido ficar em segundo lugar nas eleições parlamentares nacionais.
Na semana passada, o político de 50 anos fez aumentar a controvérsia envolvendo a áustria pelo fato de seu partido ultradireitista ter ficado com metade dos cargos no novo governo
ao responder asperamente ao presidente da França, ao governo da Bélgica e fazer outras críticas em linguagem dura que fez exasperar as tensões.
Certamente seus comentários ao Die Welt irão provocar novas controvérsias. Hoje em Klagenfurt, entretanto, era um diferente Haider que falava.
"É estupidez imaginar que todo o mundo esteja com medo do senhor Haider", disse ele aos repórteres lotando uma sala de um hotel nos arredores de Klagenfurt. "É inacreditável".
Em Viena, a embaixadora americana Khathryn Walt-Hall reuniu-se na noite de hoje com o chanceler Wolfgang Schuessel, expressando "grande preocupação" com a participação do partido de Haider no governo, antes de partir para Washington para consultas.
Haider ironizou a reação dos EUA.
"O senhor Clinton está com medo do senhor Haider", disse ele com um sorriso, acrescentando que a única coisa que Clinton, praticante de jogging, tem a temer é o Haider maratonista, que disputou a maratona da cidade de Nova York deste ano.
"Talvez ele esteja com medo de competir comigo na maratona em Nova York", afirmou ele em inglês. "Então, ele tem de ter medo de mim, porque sou muito mais rápido".
Em outra declaração conciliatória, ele disse esperar que Israel - que baniu sua entrada por seus elogios à era nazista e a alguns que serviram com Hitler - perceba em breve que esta decisão e outra de chamar para consulta seu embaixador, são erradas.
Então, "seremos bons amigos no futuro", afirmou Haider.
Ele buscou até apresentar seu elogio à era nazista como positivo - porque ele posteriormente se desculpou.
"Sou um dos poucos políticos que mostraram que é possível cometer um erro... e se desculpar por isto", disse Haider.
Em linguagem igualmente moderada, Haider afirmou posteriormente ao âncora Bryant Gumbel, do CBS Early Show, que o mundo errou ao considerar sua política externa como racista, e que a áustria sob o novo governo está ansiosa em receber pessoas de todas as raças e cores. "Somos um país aberto, e vivemos em paz juntos", disse ele. "Nós recebemos de braços abertos todas essas pessoas".
Apesar da ofensiva de charme, vários países continuaram a implementar suas promessas de sanções contra a áustria - entre eles os outros 14 membros da União Européia. O presidente de Portugal, Jorge Sampaio, adiou indefinidamente uma viagem à áustria planejada para ocorrer em março. Em Lisboa, o gabinete presidencial afirmou que a decisão foi tomada "devido à atual situação na áustria e em acordo com a posição da União Européia", que é presidida interinamente por Sampaio.
Em Viena, cerca de 500 pessoas marcharam em protesto contra a participação do partido de Haider no governo austríaco. A marcha percorreu o centro da capital. Segundo a polícia, a manifestação foi tão pequena que não chegou a causar problemas de trânsito, diferentemente das marchas anteriores.