Melbourne Não fosse a perda de concentração em vários momentos, e o desperdício de três match points no tiebreaker do quarto set, Gustavo Kuerten poderia ter feito um estréia bastante tranquila no Aberto da Austrália. Mas, depois de dominar os dois primeiros sets e ainda estar em vantagem no terceiro, Guga pecou pela irregularidade e disse adeus ao sonho de ir longe na competição ao perder para o espanhol Albert Portas, por 3 sets a 2, com parciais de 4/6, 4/6, 6/4, 7/6 (8) e 6/4. O resultado foi uma deceppção, pois o o tenista brasileiro teve o domínio da partida e mostrava-se tecnicamente superior, até ser dominado pela ansiedade e cair diante de um adversário que tinha sob controle.
Nesta sua estréia em Melbourne, Guga mostrou que ele mesmo é o seu pior adversário. Afinal, ora dominava, com golpes incríveis e controle do jogo, ora dava chances para o espanhol sonhar com a vitória, cometendo erros frequentes. Se tivesse mantido a força de seu jogo, apresentada no início da partida, Guga estaria agora festejando mais uma vitória. Teve muitas chances como no terciero set, quando quebrou o serviço do adversário e caminhava para fechar a partida. De repente, perdeu-se em erros e deu vida a Albert Portas, que já parecia estar conformado com a derrota. No set seguinte, a história repetiu-se
só que com pontos mais agudos. Guga sacou para o jogo com 5 a 4. Perdeu o serviço, depois de ter feito muitos pontos no ace. Permitiu assim que a decisão fosse para o tiebreker. Neste desempate, o brasileiro voltou a ter enormes oportunidade de fechar a partida. Teve três match points, sendo o primeiro deles com o saque nas mãos.
O começo do jogo foi bem diferente. Guga mostrou ter conquistado maiores opções de jogo, tornando-se mais versátil e até maduro. Nas primeiras raquetadas da partida, um vento muito forte e ameaça de chuva prejudicavam o desempenho dos jogadores. Mas de forma tranquila, até surpreendente, como há muito tempo não se via, o tenista brasileiro soube controlar seus golpes, não se desesperou e dominou estes primeiros momentos. Guga revelou também golpes novos, bem mais adaptados e precisos para quadras rápidas, como as do Melbourne Park. Quem se acostumou a ver o brasileiro soltando o braço, disparando tiros para todos os lados, agora poderá observar um tenista mais maduro e que sabe a hora certa de atacar, e o momento mais conveniente de controlar o ponto, forçando o erro do adversário.
Só que de nada adiantou um bom começo. Nos momentos mais importantes, Guga não soube manter o domínio e, por mais um ano, vai ficar na fila de uma boa campanha no Aberto da Austrália, o único dos Grand Slam que ainda não alcançou as quartas de final. Esta é a quarta vez que o brasileiro participa desta competição. Sua estréia foi em 1997, quando fez uma brilhante primeira rodada, ao superar o sueco Mikael Tillstrom (7/5, 7/6, 3/6 e 6/4) para cair no jogo seguinte diante de Nevelle Godwin (6/7, 6/0, 6/1 e 6/0. Guga sentiu problemas físicos. No ano seguinte, superou o espanhol Jacobo Diaz, por 3 a 1, e perdeu para o francês Nicolas Escude, também por 3 a 1. No ano passado, venceu Marcos Ondruska, 3 a 0, e foi eliminado pelo russo Marat Safin por 3 a 2.
Por coincidência, o jogo de Guga diante de Albert Portas realizou-se, ontem, na mesma quadra três, em que o brasileiro havia sido eliminado da competição nos último dois anos.
Mais uma vez, a ansiedade parace ter tirado a chance de Guga fazer uma boa campanha. O próprio técnico Larri Passos, embora também ansioso, é de opinição que os jogadores sul americanos, acostumados a tirar férias nas festas de fim de ano, sentem dificuldades para chegar a Austrália em condições plenas de lutar por um título. Só que, desta vez, acreditava em melhores momentos.