O grupo responsável pela organização das batalhas de rima em Londrina relatou uma abordagem agressiva feita por policiais durante um dos encontros, no dia 20 de agosto, em um praça na zona leste da cidade.

De acordo com relatos de membros do grupo, durante o evento, que reuniu cerca de 500 jovens, policiais da Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas) e da Polícia Civil chegaram ao local com armas apontadas na direção dos participantes. A organização disse que diversos jovens sofreram empurrões, ameaças e ofensas, assim como tiveram os rostos fotografados.

Segundo o grupo, as batalhas de rimas acontecem em pontos diferentes da cidade. No caso relatado, a “Batalha da Leste” estava marcada para acontecer em uma praça da avenida dos Pioneiros com a presença de mais de 500 jovens, além de famílias que estavam no local com crianças. Pouco antes do início, a polícia teria chegado ao local para uma ação.

“De um lado apareceu a Rotam com armas de grosso calibre em punho voltados para esses jovens e por outro lado surgiu a Polícia Civil com armas sendo apontadas para a cara dos jovens que ali estavam”, relatou o grupo.

“Vários jovens relataram agressividade ao serem abordados com xingamentos, empurrões e ameaças”, ressaltou a organização. Além disso, os participantes teriam tido os rostos e tatuagens fotografados. De acordo com o grupo, após a abordagem dos jovens, os policiais também vasculharam todo o espaço.

Na sequência do relato, policiais teriam dito aos organizadores que a abordagem fazia parte de uma operação motivada por denúncias de tráfico de drogas feita por vizinhos. Após não encontrarem drogas no local, o evento foi retomado.

PRECONCEITO

Segundo o grupo, episódios semelhantes aconteceram em outras ocasiões e as operações são motivadas pela “criminalização de um movimento cultural preto e periférico, que é reconhecido por Lei Estadual [Nº 21.519/2023] como patrimônio cultural imaterial”. As denúncias feitas por vizinhos, aponta, teria caráter preconceituoso “contra um movimento que salva vidas adolescentes e jovens através da poesia, da música e da rima”.

“As pessoas precisam entender que o movimento hip hop é comprometido e responsável, sendo a disciplina um valor muito forte para nós. Nós estamos ali para rimar de forma improvisada. Isso é arte urbana, é expressão cultural de uma juventude que é violentada no seu direito cotidianamente”, esclarecem os membros.

A reportagem entrou em contato com as assessorias das polícias Civil e Militar para questionar sobre a operação de 20 de agosto. Em nota, o 5° Batalhão da Polícia Militar informou que neste mês foi deflagrada a Operação Vida nos Bairros, com o objetivo de “exercer o policiamento ostensivo, com ações preventivas e repressivas, por meio de patrulhamentos, bloqueios táticos, saturação de área, abordagens policiais, fiscalizações de veículos e pessoas, com o direcionamento no combate e redução das ocorrências de homicídio e roubo”.

Segundo a nota, após receberem uma denúncia, as equipes realizam as ações, onde são “empregadas as técnicas padrões de abordagem, garantindo a ordem e segurança de todos”. A assessoria disse que o 5º Batalhão de Polícia Militar está aberto para denúncias e que “qualquer irregularidade será analisada”.

A Polícia Civil ressaltou que as operações de saturação estão sendo realizadas no município com o intuito de “combater o tráfico de drogas”. Segundo a PC, “nada de irregular ou ilícito foi localizado [na batalha de rimas]”.