Greve provoca desabastecimento no Sul
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sexta-feira, 05 de maio de 2000
Agência Folha De São Paulo
Nos três Estados da região Sul faltam combustíveis, alimentos (frutas, carne, leite e verduras) e as indústrias tiveram de reduzir suas produções por conta da greve dos caminhoneiros. A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) contabilizou ontem alguns dos prejuízos provocados.
Segundo a Fiergs, os abates já caíram, em média, 20%. A indústria suína pode parar os abates na segunda-feira, por falta de animais. Uma empresa de Três Passos teve caminhões com carga de alimentos retidos em Palmeira das Missões, havendo perda de R$ 150 mil de vendas em um dia. As indústrias de construção e mobiliário da Bento Gonçalves não conseguem entregar em São Paulo e no Rio e cumprir cartas de crédito para exportação.
A unidade da Frangosul em Passo Fundo (288 km de Porto Alegre), por exemplo, reduziu o abate diário de 264 mil frangos pela metade. Na sede da Oleoplan, em Veranópolis, não tem chegado nenhum dos 12 mil sacos de soja que a abastece diariamente. A empresa trabalha, por enquanto, com estoques.
Em Santa Catarina, a situação é semelhante: a Sadia deixou de abater 4.500 suínos por dia. No Paraná, a situação mais crítica é a da cidade de Ponta Grossa, onde carne, frango, leite, frutas e verduras já estão faltando nos supermercados (ver texto ao lado).
A Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista) informou ter recebido 900 toneladas de matéria-prima, 100 toneladas a mais que na quinta-feira. Em condições normais, a fábrica de Cubatão é abastecida com até 1.200 toneladas de matéria-prima transportada por caminhões.
No porto de Santos, nenhum navio deixou de operar em razão da greve, mas a exportação de contêineres e de soja estava prejudicada porque o caminhão é o principal meio de transporte dessas cargas até o cais.
Segundo José Eduardo Vasques Rodrigues, assessor de campo do Sindicato do Comércio dos Varejistas em Combustíveis e Minerais no Paraná, cerca de 60% dos postos do norte do Estado estão sem combustíveis (gasolina, álcool e óleo diesel). As cidades mais afetadas são Maringá, Santa Isabel do Ivaí, Cianorte, Loanda e Planaltina do Paraná.
Nessa última, os ônibus escolares que transportam as crianças da zona rural para a escola estão parados desde ontem por falta de óleo diesel. Pelo menos 500 crianças ficaram sem aulas. No único posto da cidade, Posto Planaltina, restava apenas um pequeno estoque de gasolina.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis da Baixada, José Camargo Hernandes, afirmou que hoje o abastecimento foi normal nos postos da Baixada Santista.
O ministro da Agricultura, Marcus Pratini de Moraes, disse que a greve pode afetar o resultado da balança comercial este mês. O problema do escoamento da safra fica ainda mais grave porque este é o momento em que a safra está sendo comercializada e é entressafra nos Estados Unidos, o que poderia aumentar os prêmios ganhos pelos produtores nacionais. Segundo Pratini, as perdas com o embarque de soja totalizam US$ 50 milhões a US$ 60 milhões.
A coordenação do Movimento União Brasil Caminhoneiro garante que, no Paraná, a paralisação vai continuar. Não vamos abrir a guarda no fim de semana, disse um dos coordenadores, Nenê Meni. Vamos nos manter firmes.