Grande Rio leva o 1º título de sua história
Escola de Duque de Caxias fez um desfile considerado impecável sobre o orixá Exu
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terça-feira, 26 de abril de 2022
Escola de Duque de Caxias fez um desfile considerado impecável sobre o orixá Exu
Matheus Rocha – Folhapress
São Paulo - Com enredo sobre o orixá Exu, a Acadêmicos do Grande Rio se sagrou campeã do Carnaval carioca e conquistou o primeiro título de sua história. No último Carnaval, em 2020, a escola chegou muito perto do título, mas perdeu para a Viradouro nos critérios de desempate. Dessa vez, porém, não teve quem parasse a escola de Caxias e a agremiação se tornou a grande campeã com um desfile considerado impecável.

Penúltima escola a entrar na avenida, a Grande Rio veio disposta a celebrar a potência de Exu e subverter a crença segundo a qual o orixá seria uma figura maligna, visão que é fruto da intolerância religiosa.
O que se viu na Marquês de Sapucaí foi um cortejo exuberante e cheio de simbolismo. A escola surpreendeu já na comissão de frente, que trazia como destaque o ator Demerson D'alvaro personificando Exu.
Na avenida, o artista se agarrava a um grande globo vermelho - representando a Terra - no qual havia quatro oferendas. Ao chegar ao topo, Exu se deliciava com os alimentos e gargalhava a plenos pulmões. Especialistas e foliões rasgaram elogios à comissão de frente e à atuação de Demerson, considerada cheia de vigor e energia, como pede o orixá.
Batizada de "Câmbio, Exu", a comissão faz referência à Estamira, catadora de lixo que protagonizou um documentário que leva seu nome. No filme, ela usava um telefone para se comunicar com Exu e abria as conversas com a frase "Câmbio, Exú. Fala Majeté". Daí surgiu o nome do enredo deste ano, intitulado "Fala Majeté! Sete Chaves de Exú".
Rainha de bateria da Grande Rio, a atriz Paolla Oliveira encantou o público com fantasia inspirada na Pombagira, espécie de Exu feminino, entidade transgressora e insubmissa. Ao longo da avenida, Paolla se curvava para trás e ria como a Pombagira.
Durante boa parte da apuração, a Beija-Flor e a Acadêmicos do Grande Rio disputaram o título décimo a décimo. Com um desfile sobre a contribuição de pessoas negras para a humanidade, a escola foi muito elogiada por foliões e especialistas. Os julgadores, porém, deram o título à escola de Caxias. Já a São Clemente, que este ano homenageou o ator Paulo Gustavo, foi rebaixada para a série ouro.
O desfile da Grande Rio reflete em larga medida o tom do Carnaval deste ano no Sambódromo, que foi pautado pela temática social. É o caso do Salgueiro, da Beija-Flor e do Paraíso do Tuiuti, que homenagearam as populações negras.
A Mangueira também celebrou figuras negras, com enredo sobre Cartola, intérprete Jamelão e mestre-sala Delegado, os três baluartes da verde e rosa.
A Vila Isabel também prestou homenagem a Martinho da Vila, principal representante da agremiação. Já a Unidos da Tijuca fez um belo desfile sobre a lenda do guaraná, que celebrou os povos indígenas.
A exemplo da Grande Rio, a Mocidade também deu destaque às religiões de matriz africana, com enredo sobre as peripécias do orixá Oxóssi.
Neste ano, três escolas foram penalizadas. A Paraíso da Tuiuti perdeu dois décimos por causa de atraso no desfile. A Mocidade perdeu um décimo em razão de falhas em uma alegoria, já a Mangueira foi multada em R$ 60 mil por causa de atraso na saído dos carros.
SÃO PAULO
A Mancha Verde conquistou o título do Grupo Especial do Carnaval 2022 em São Paulo após apuração de notas realizada na tarde desta terça-feira (26), no Anhembi. Com o samba-enredo "Planeta Água", a escola faz referência a Iemanjá, que nas religiões de matrizes africanas é a orixá das águas salgadas."Iemanjá! Iê-Iemanjá! / Rainha das ondas, senhora do mar! / Iemanjá! Iê-Iemanjá! / No azul dos teus mistérios eu também quero morar", diz o refrão, fazendo uma saudação a orixá.
Antes do início da apuração os representantes das escolas fizeram um minuto de silêncio em homenagem aos integrantes que morreram durante a pandemia de Covid-19. Por causa da crise sanitária, o desfile de 2021 foi cancelado e o deste ano acabou adiado de fevereiro para o feriado de Tiradentes.O presidente da Mancha Verde, Paulo Serdan, chorou ao comentar o trabalho de criação do desfile nesses dois últimos anos sem Carnaval. Ele também homenageou os mortos que faziam parte da escola e disse que o grupo distribuiu toneladas de mantimentos e cestas básicas em favelas de São Paulo durante a pandemia.

