Governo prepara ação para resgatar Elián
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quinta-feira, 20 de abril de 2000
Washington, 21 (AE-AP) - O governo americano prepara o envio de agentes federais a Miami para buscar o menino náufrago cubano
Elián, e devolvê-lo ao pai, Juan Miguel González, diante do não acatamento da ordem de entrega voluntária do garoto por parte dos parentes dele, informou hoje (21) a porta-voz do Serviço de Imigração e Naturalização (SIN), María Cardona. Mas, horas depois, ao receber González em seu escritório, a secretária de Justiça dos EUA, Janet Reno, disse a ele que "não podia comprometer-se adotar uma ação, nem estabelecer um cronograma".
Reno faz planos para usar a força se necessário, mas ainda está aberta a negociações com os parentes do menino. "Se necessário, a secretária está preparada para empregar a força policial", confirmou a porta-voz do Departamento de Justiça, Carole Florman. "Não estamos prevendo se e quando vai haver uma ação policial", acrescentou, dizendo que Reno está aberta a outras opções. "Sempre houve três trens circulando simultaneamente pelos trilhos - negociações para uma transferência, litigação e o emprego de medidas policiais. Já não estamos no lugar do maquinista, no trem das negociações. Agora somos apenas passageiros." Referindo-se a Reno, a porta-voz disse: "Ela está consultando nossas autoridades policiais para decidir os melhores métodos e momento."
O planejamento de uma operação policial está sendo feito há dez dias, informou a porta-voz. Isto inclui a avaliação dos tipos de atividade da multidão de exilados na rua, consultas à polícia local e posição de agentes federais nas redondezas, informaram outros funcionários. "Existe um plano. Provavelmente mais de um", disse Florman.
Ontem, o presidente Bill Clinton disse que a sentença de um tribunal despojou os parentes de Elián em Miami de todos os argumentos contra sua transferência para a tutela temporária do pai. "Isto é lei", disse Clinton. Ele fez a declaração depois que uma comissão de três juízes do tribunal federal de recursos em Atlanta concluiu que Elián precisa permanecer nos EUA até o tribunal decidir se ele deve ter uma audiência sobre asilo. Uma audiência está marcada para 11 de maio.
A sentença foi considerada uma vitória pelos parentes e seus aliados em Miami, mas Clinton disse que ela reforça a opinião do governo federal de que Elián precisa ser reunido com o pai.
Hoje, The Washington Post informou que funcionários do governo disseram esperar para meados da próxima semana uma medida policial. Também citando funcionários do governo, o USA Today repetiu a informação. Sobre a data exata, a porta-voz do Departamento de Justiça limitou-se a declarar: "Por razões óbvias, já dissemos que não vamos discutir antecipadamente uma medida policial." Um advogado dos parentes disse que o tio-avô do menino, Lázaro González, que está com Elián, e outros membros da família não ajudarão agentes federais a retirar o menino. "Quer dizer que ele não vai cooperar?", perguntaram ao advogado José García-Pedrosa no programa The Early Show, da CBS. "Sem uma avaliação psicológica que diga que isso atende aos melhores interesses do menino na opinião de um profissional, não de um advogado ou de um funcionário da imigração, essa é a atitude correta", respondeu García-Pedrosa.
Clinton, fazendo sua mais enérgica declaração sobre o caso, disse não conhecer "nenhum argumento concebível" contrário à transferência da tutela. "Penso que ele (o pai) deve ser reunido ao filho", disse o presidente. "Isto é lei. E o principal argumento dos parentes em Miami para não fazê-lo foi agora removido. O principal argumento deles dizia que, se o deixássemos voltar para seu pai antes da sentença do tribunal, ele talvez voltasse para Cuba. O tribunal agora diz que ele não pode voltar para Cuba. O Departamento de Justiça concorda com isso." O presidente tem ficado em segundo plano, deixando as decisões no caso de Elián a cargo de Reno, que na semana passada mandou os parentes entregar o menino. A família recusou-se a fazê-lo. "A secretária de Justiça está encabeçando a iniciativa", disse na quinta-feira o porta-voz presidencial Joe Lockhart. Menos de duas horas depois da declaração de Clinton, o pai de Elián pediu aos americanos que escrevam a Clinton e a Reno, exortando-os a pôr fim à separação. "Não deixem que eles continuem abusando de meu filho."