O Paraná pode ter uma vacina contra a Covid-19 desenvolvida no próprio Estado. O governo do Estado formalizou nesta quinta-feira (22) o apoio financeiro para o desenvolvimento da vacina da UFPR (Universidade Federal do Paraná) contra a Covid-19. O investimento inicial será de R$ 700 mil por meio da UGF (Unidade Gestora do Fundo Paraná), vinculada à Seti (Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior).

O imunizante, que ainda está em fase de testes, apontou a produção de anticorpos comparáveis e até superiores aos reportados pela vacina AstraZeneca/Oxford.
O imunizante, que ainda está em fase de testes, apontou a produção de anticorpos comparáveis e até superiores aos reportados pela vacina AstraZeneca/Oxford. | Foto: Rodrigo Félix Leal/AEN

Os testes apontaram para uma produção de anticorpos comparáveis e até superiores aos reportados pela vacina AstraZeneca/Oxford, em estudos na fase pré-clínica. Os resultados do projeto devem contribuir com uma alternativa economicamente viável para a produção de uma vacina segura e sem a necessidade de manipulação do vírus.

COMO FUNCIONA

Os pesquisadores da UFPR usaram um polímero bacteriano chamado polidroxibutirato (PHB), que utiliza a proteína spike da Covid-19, responsável por ligar o coronavírus às células humanas e de outros mamíferos. As partículas do PHB são recobertas com a proteína do Sars-CoV-2, que induzem o corpo a produzir anticorpos. Esse resultado já foi constatado em experimentos utilizando camundongos e agora é preciso verificar se esse resultado pode ser replicado em humanos.

“O Brasil tem cerca de outras 10 vacinas em fase de pesquisa e a da UFPR é uma das que está em estágio mais avançado”, afirmou o reitor da universidade, Ricardo Marcelo Fonseca.

O coordenador da pesquisa, Emanuel Maltempi, explica que o polímero, quando combinado com a proteína S (utilizada pelo vírus para infectar a célula humana), induz a produção de anticorpos pelas células de defesa. A preparação vacinal será testada também na forma nasal. “Essa nova plataforma tecnológica que desenvolvemos será um legado não só relacionado ao combate à Covid-19, como no desenvolvimento de outras vacinas paranaenses”, ressalta.

Micropartículas de PHB com antígenos superficiais já foram utilizadas com sucesso para imunizar camundongos contra hepatite C e tuberculose. A vacina desenvolvida na universidade deve ser protocolada na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a fase clínica em seis meses, solicitando a autorização para os testes em voluntários. O custo da dose, incluindo materiais e insumos, é calculado em R$ 10.

RESULTADOS PROMISSORES

Para o superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona, esse investimento é um marco histórico na valorização da pesquisa científica produzida no Paraná. “Para a continuidade da segunda fase, são necessários novos investimentos”, afirma. A assessoria de imprensa da Seti explicou que o Paraná, mesmo sendo financiador, ainda não está discutindo a questão da preferência na aquisição em uma eventual conclusão das pesquisas e início de fabricação, e que o importante neste momento é a ciência e o desenvolvimento de novas tecnologias para isso.

A parceria entre o governo do Estado e a UFPR também vai proporcionar a contratação de novos bolsistas de pós-doutorado que atuarão na pesquisa. O edital para a seleção dos bolsistas será realizado pela Fundação Araucária. O número de pós-doutores que serão selecionados ainda não está definido, mas o mais provável é que sejam três os selecionados para integrar a pesquisa.

PRÓXIMA ETAPA


Os próximos testes pretendem descobrir se os anticorpos produzidos pela imunização têm efeito neutralizante, isto é, se eles impedem que o vírus interaja com os receptores das células. “Digamos que uma pessoa tenha, no organismo, anticorpos com potencial para reconhecer o coronavírus. Se a pessoa for infectada e esses anticorpos reconhecerem rapidamente o coronavírus e se ligarem aos receptores do vírus antes que eles reconheçam os receptores das células do organismo, há o efeito neutralizante, pois provavelmente o vírus não conseguirá infectar células do trato respiratório”, explica o professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, Marcelo Müller dos Santos.

Os pesquisadores acreditam que, pela quantidade de anticorpos presente no sangue imunizado, as chances de que tenham esse efeito neutralizante são altas. O projeto de investimento acontece em parceria com o Tecpar, que fornecerá recursos humanos e laboratórios durante o desenvolvimento do projeto, incluindo os testes pré-clínicos.

RECURSOS


Até o momento, a pesquisa recebeu aporte de aproximadamente R$ 230 mil pela Rede Vírus, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), além de outros R$ 40 mil em recursos próprios da universidade. De acordo com o reitor da UFPR, os custos envolvidos podem chegar a R$ 30 milhões, considerando todas as fases dos testes pré-clínicos e clínicos, baseando-se em pesquisas já finalizadas e no material publicado sobre o assunto. A assessoria da Seti afirmou que o financiamento do Governo do Estado por enquanto é para esta etapa de desenvolvimento e que serão necessárias mais etapas de captação de recursos para à pesquisa.

O Tecpar e a Seti anunciaram no dia 25 de março a criação de um grupo de trabalho para fortalecer a pesquisa e desenvolvimento de vacinas e medicamentos imunobiológicos no Paraná. O grupo é formado por pesquisadores do Tecpar, da Seti e de seis universidades estaduais do Paraná, todos com expertise na área.

O objetivo do grupo é analisar propostas e o desenvolvimento de ações na área de imunobiológicos (vacinas, soros e antígenos, entre outros) no âmbito do Tecpar.