Brasília - Provas reunidas pelo MPF (Ministério Público Federal) mostram que o Ministério da Defesa agiu para que todos os militares da ativa das três Forças em Brasília fossem vacinados como grupo prioritário. A iniciativa, segundo o MPF, contraria notas técnicas do Ministério da Saúde que ordenaram uma fila de vacinação diante da insuficiência de imunizantes contra a Covid-19. Com a ofensiva, 100% dos efetivos de Exército, Aeronáutica e Marinha no DF (Distrito Federal) - 29.671 homens e mulheres - foram incluídos como prioridade na fila de vacinação, com aval do Ministério da Saúde.

Prioridade para integrantes das Forças Armadas contraria Programa Nacional de Imunizações
Prioridade para integrantes das Forças Armadas contraria Programa Nacional de Imunizações | Foto: Jorge Hely/FramePhoto/Folhapress

Um inquérito civil público foi instaurado em 25 de junho para investigar como militares das Forças Armadas e agentes de forças de segurança foram privilegiados na imunização. Esses servidores acabaram incluídos em listas amplas de vacinação, sem que fosse levado em conta o critério do Ministério da Saúde de que os priorizados devem ser profissionais na linha de frente do combate à pandemia.

Documentos e depoimentos de servidores, tanto do ministério quanto da Secretaria de Saúde do DF, revelam que coube ao Ministério da Defesa buscar a garantia de que todos os militares das três Forças em Brasília fossem vacinados com prioridade, contrariando notas que balizam o PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Os indícios reunidos no inquérito apontam que lotes de vacinas foram destinados com exclusividade às Forças Armadas, com participação do QG (Quartel-General) do Exército, a quem coube executar a vacinação dos militares.

Os lotes eram reservados, conforme as provas reunidas no inquérito, e não poderiam ter outra finalidade. Nos primeiros dias de junho, o Exército já vacinava militares de 43 anos de idade até mesmo de setores administrativos, enquanto a imunização de civis em Brasília patinava na faixa de 50 a 59 anos, como o jornal Folha de S.Paulo mostrou em reportagem publicada em 15 de junho.

No dia 18 do mesmo mês, a faixa etária para vacinação no Exército já havia caído para 34 anos. E seguiu caindo nas semanas seguintes. Na Aeronáutica, o ritmo também foi acelerado. E-mails de convocação interna para a vacinação mostram que jovens de 22 anos já eram chamados para se vacinar no dia 8 de julho.

A reportagem questionou o Ministério da Defesa sobre as provas reunidas pelo MPF. Um e-mail foi enviado às 11h47 de segunda-feira (19) e um novo e-mail, às 17h06 do mesmo dia. Não houve resposta.

O privilégio aos militares é o contrário do que se vê na campanha de vacinação de outros cidadãos em Brasília. Caótica e empacada nos 40 anos, a campanha é marcada por um sistema de agendamento que sai do ar quase diariamente.

As vagas são insuficientes, o que leva a um sorteio de vacinas. Moradores da capital buscam imunizantes em cidades goianas no entorno do DF, todas elas bem mais pobres que a capital federal.

Em um ofício de 22 de junho, a Secretaria de Saúde informou o MPF em Brasília sobre o quantitativo de pessoas do grupo "Forças Armadas" que deveria ter prioridade na vacinação contra a Covid: 29.671. O número, segundo o ofício, foi definido pelo Ministério da Saúde.