Governo de Milosevic promete erradicar terrorismo depois de morte de ministro
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terça-feira, 08 de fevereiro de 2000
Por Jovana Gec
Belgrado, 08 (AE-AP) - O governo do presidente Slobodan Milosevic prometeu hoje (08) promover uma intensa campanha para eliminar o "terrorismo" depois que seu ministro da Defesa foi morto em outro assassinato de estilo mafioso neste violento país.
O ultranacionalista Partido Radical Sérvio acusou agentes de inteligência americanos, franceses ou britânicos pela morte de Pavle Bulatovic, que foi assassinado a tiros na segunda-feira num restaurante de Belgrado.
Em Madri, o subsecretário de Estado americano Thomas Pickering disse que a Iugoslávia parece estar rumando para "um tipo de confrontação das longas facas" entre a elite da nação provocada pelo descontentamento, instalibidade e falta de controle no turbulento país.
Independentemente de quem tenha sido o responsável, o assassinato do aliado de Milosevic da república menor iugoslava de Montenegro foi um duro golpe no coração do governo do presidente da Iugoslávia e deixou perplexo um povo já abalado pela derrota no ano passado em Kosovo e uma década de banho de sangue e sofrimento.
Partidos de oposição sérvios pediram pela renúncia de altas autoridades.
Bulatovic foi a vítima de mais alta hierarquia entre mais de uma dúzia de proeminentes figuras - políticos, jornalistas, policiais e pessoas do submundo - assassinadas durante a última década de regime de Milosevic.
No mês passado, o mais notório "senhor da guerra" da Sérvia e destacada figura do submundo Zeljko Raznatovic, ou Arkan, foi morto a tiros num hotel de Belgrado.
Nesta terça-feira, Milosevic uniu-se ao presidente sérvio, Milan Milutinovic, e a outras consternadas figuras governamentais para participar de um breve tributo a Bulatovic.
"Ontem, covardemente, saindo das trevas, o maior mal do século 20 - o terrorismo - tirou a vida de nosso camarada Pavle", discursou o vice-primeiro-ministro Nikola Sainovic, indiciado pelo Tribunal de Crimes de Guerra da ONU por supostas atrocidades cometidas em Kosovo. "A luta contra o terrorismo é nossa obrigação sagrada e governamental, e será conduzida ainda com maior vigor".
"Pavle era um patriota, e dedicou sua vida à defesa do país", acrescentou Sainovic. "O tiro em Pavlev foi um tiro em todos nós".
O assassinato de Pavlev ocorreu num período de tensão entre Milosevic e Montenegro, cuja liderança tem tomado iniciativas em direção à independência frente à Federação Iugoslava. Bulatovic era um dos líderes do pró-Milosevic Partido Popular Socialista em Montenegro.
O motivo do assassinato não estava claro.
Apesar de que Bulatovic era uma autoridade do gabinete, acredita- se que ele desfrutava de pouco poder real. Ele também não era vinculado à obscura rede iugoslava de contrabando e crime organizado, que suspeita-se tem a participação de autoridades.
O grupo de oposição Alternativa Democrática especulou que Bulatovic pode ter sido uma "inconveniente testemunha ou um oponente" de algumas figuras obscuras. "Ou se isso foi um tiro na instituição, então trata-se de uma clara mensagem ao regime", acrescentou o partido.
O oposicionista Miodrag Isakov disse que o assassinato de Bulatovic poderia servir como pretexto para a declaração do estado de emergência ou para se aprofundar a crise com Montenegro por suas ameaças de secessão.
O assassinato dominou o noticiário hoje de todos os jornais na Sérvia e Montenegro, completado com fotos da cena do crime no restaurante do clube de futebol Rad de Belgrado.
O assassino de Bulatovic disparou com uma arma automática através da janela do restaurante, ferindo o ministro da Defesa e dois de seus acompanhantes - o dono do restaurante Mirko Knezevic e o banqueiro militar Vuk Obradovic. Bulatovic morreu mais tarde no hospital militar de Belgrado.
Em Montenegro, autoridades cancelaram a sessão parlamentar por causa da morte de Bulatovic. Miodrag Vukovic, um assessor do presidente pró-Ocidente de Montenegro, Milo Djukanovic, pediu para os líderes da Sérvia "se manifestarem e dizer por que este país tornou-se agitado e perigoso".
Bulatovic, 52 anos, servia como ministro da Defesa da Iugoslávia desde 1993. Antes, ele foi ministro do Interior da Iugoslávia no governo de Milan Panic, um empresário americano nascido na Sérvia demitido por Milosevic.